Está em curso uma nova revolução industrial na Europa. Uma transformação acelerada pelo impacto da pandemia e pela mudança das condições geopolíticas, um processo que está a criar oportunidades de mercado para as empresas europeias que forem capazes de adaptar estratégias de negócio e acelerar a automação e transformação digital das suas operações.
Neste contexto, um número crescente de empresas aposta na modernização dos processos logísticos através da adoção e integração de equipamentos AGV/AMR (Automated Guided Vehicles) e da robotização das operações. O objetivo é reformular o processo logístico a fim de aumentar a eficiência e fiabilidade das operações, permitindo um crescimento da produtividade e rentabilidade dos processos produtivos e logísticos. Um processo essencial para ter empresas mais competitivas, modernizadas e que acompanham a evolução do mercado no contexto da Indústria 4.0.
Equipamentos móveis autónomos impulsionam robotização das empresas
Os AGV são equipamentos móveis autónomos capazes de transportar cargas entre vários pontos, sem nenhum condutor. Estão pensados e desenvolvidos para não necessitarem de ser colocados em carregamento, dirigindo-se automaticamente aos postos de carregamento quando têm necessidade de carregar a bateria ou têm tempo de sobra na rota, não havendo o risco de ficar um equipamento esquecido sem carga para o turno seguinte, garantindo o máximo de tempo de funcionamento consecutivo possível. Nesta área, existem atualmente diversas soluções, com diferentes sistemas, que permitem minimizar o recurso a mecanismos de transporte operados manualmente (Ex.: porta-paletes; carrinhos de transporte, empilhadores…) otimizando a alocação de recursos e reduzindo as tarefas repetitivas.
Foi neste nicho que apostou a Active Space Automation, uma empresa 100% portuguesa, incubada pela Active Space Technologies. O impulso inicial surgiu de um bem-sucedido projeto de inovação, desenvolvido a partir de 2016, com a PSA Mangualde (produção de veículos comerciais ligeiros), atual Stellantis. Desde esse projecto inicial, a empresa, sediada perto de Coimbra, tem vindo a reforçar a sua presença no mercado da automação, com especial foco nos AGV, tanto no mercado nacional como internacional.
A Active Space Automation conta com uma equipa dedicada e com um portefólio de produtos adaptado a diferentes necessidades industriais. A empresa dedica-se fundamentalmente ao desenvolvimento e produção de AGV, desde o seu design, mecânico, elétrico e eletrónico, até à sua assemblagem e programação final. Em paralelo a este foco principal, são desenvolvidas soluções automatizadas, que integram um sistema funcional com o AGV, de forma a entregar um circuito completo "chave na mão" à medida do cliente. São ainda desenvolvidas soluções de integração customizadas, com interligação com sistemas de informação (ERP/MES).
AGV encontram aplicações numa multiplicidade de setores
Segundo Ricardo Machado, diretor-geral da empresa, "neste momento estamos já representados em diversos setores. Temos soluções implementadas na indústria automóvel – a PSA Mangualde foi o nosso primeiro cliente – com equipamentos permanentes na Volkswagen Autoeuropa, Faurecia e na fábrica SEAT em Barcelona. Mas temos equipamentos em operação em empresas na indústria farmacêutica, logística, cerâmica (grupo Vista Alegre), e alimentar (Unilever)".
Ricardo Machado explica esta versatilidade: "Os AGV têm aplicações em diferentes momentos do processo produtivo. Por exemplo, na receção de matéria-prima, que é autonomamente transportada para a zona de armazém. Ou no transporte, entre diferentes pontos, de produto não acabado. Por exemplo, no transporte da zona de pintura para a zona de cozedura num contexto cerâmico. Ou no transporte de produto acabado para armazém ou zona de expedição", refere.
Estratégia de inovação da empresa tem quatro pilares
A estratégia de inovação é um elemento fundamental do desenvolvimento do negócio da Active Space Automation, e compreende, segundo o seu diretor-geral, "quatro pilares complementares". O primeiro "serve para treinar de forma continuada e sustentada os recursos humanos da empresa, para que estes possam estar actualizados sobre conceitos, metodologias e tecnologias relevantes para as suas atividades".
O segundo "pretende contribuir para formar jovens em ciência e tecnologia, de modo que estes possam estar mais habilitados para entrar no mundo do trabalho". Com este objetivo, a Active Space Technologies tem um programa de estágios de verão, e de projetos de fim de curso, abrangentes e consolidados, que permitem estimular a inovação, em colaboração com universidades nacionais e estrangeiras.
No biénio 2020-2021, em plena pandemia, a empresa contou com mais de quatro dezenas de estagiários, de várias universidades, e com formação diversa, apesar de a maioria estar relacionada com ciência e tecnologia. Neste contexto, é de assinalar a participação da empresa no programa "Engenheiras por um dia".
Fomentar ativamente o interesse pela engenharia
O terceiro pilar da estratégia de inovação visa, segundo Ricardo Machado, "fomentar a notoriedade da empresa junto de fornecedores e clientes, institucionais e outros, consolidando a idoneidade e competência da instituição e dos seus colaboradores no que respeita à capacitação para concretizar projectos arrojados e complexos".
Em colaboração com o Grupo Bel (de que a Active Space Automation faz parte), a Active Space Automation promoveu o concurso NavCam, desafiando equipas de estudantes a trabalhar de forma cooperativa, e em competição pura, para resolverem um problema de navegação natural útil para o mundo da robótica. Neste contexto, foram distribuídos aproximadamente 10.000 euros em prémios, a empresa contribuiu para ajudar alunos a encontrar o seu desígnio profissional, e desenvolveram-se tecnologias que já estão a ser aplicadas em futuros produtos.
Investimento continuado em I&D
Finalmente, o último e mais importante pilar, segundo Ricardo Machado, "tem como meta o desenvolvimento de serviços e, principalmente, produtos de elevado valor acrescentado. Este último pilar em que assenta a inovação é o mais importante, mas está umbilicalmente dependente dos restantes, porque os produtos em desenvolvimento são baseados, de forma intensiva, em conhecimento disruptivo e tecnologia de ponta", sublinha.
Neste contexto, o diretor-geral dá o exemplo da investigação que a Active Space Automation está a desenvolver numa das tecnologias mais importantes em robótica, e consequentemente também para AGV, que é a navegação natural, referindo que "a empresa se encontra a desenvolver algoritmos e soluções de navegação natural baseados em inteligência artificial que permitem melhorar o desempenho da movimentação dos sistemas. Com esse propósito, a Active Space Technologies submeteu recentemente duas patentes na área de robótica, estando uma delas directamente relacionada com navegação natural".
Estratégia gera inovador robô hospitalar
Um bom exemplo dos resultados desta estratégia de inovação consequente e integrada é um projecto, já em fase adiantada, cujo protótipo será em breve convertido num produto inovador. Com financiamento interno do Grupo Bel, a Active Space Technologies está a desenvolver um robô modular para desinfeção em ambiente hospitalar e similares.
O robô resulta de desenvolvimentos internos, para os quais contribuíram não só colaboradores da empresa, mas também diversos estagiários. Foram igualmente incluídas diversas tecnologias desenvolvidas ou avaliadas no âmbito do concurso NavCam. Deste projeto já resultou a submissão de duas patentes e espera-se que o protótipo possa começar em breve a fase de testes em ambientes hospitalares e outros similares. Para Ricardo Machado, "este robô de desinfeção representa um caso paradigmático da incorporação de inúmeras valências científicas e técnicas, e de formação de recursos humanos avançados, em particular na área de inteligência artificial".
Inovação alimenta portefólio de soluções versáteis e customizáveis
Este esforço continuado de inovação é necessário para garantir a competitividade numa área em que cada empresa tem a sua necessidade, sendo necessário desenvolver soluções específicas, embora a base dos equipamentos seja semelhante. A Active Space Automation tem uma gama com seis produtos e uma capacidade de resposta de produção de 10 equipamentos por mês, face a encomenda. Já este ano foi lançada a sexta e mais recente novidade do seu catálogo de soluções – o ActiveONE Mini. Acresce que a empresa pode customizar soluções às necessidades apresentadas, quer em tecnologia existente, quer em novas tecnologias tailor-made.
Neste contexto, Ricardo Machado sublinha que a empresa tem uma equipa multidisciplinar que não só conhece os produtos na íntegra, mas que se dedica permanentemente a implementar soluções de melhorias e afinamentos em novas versões, assim como ao desenvolvimento de produtos inovadores, complementares às necessidades que o mercado apresenta.
"Estamos a contribuir para acelerar o desenvolvimento e modernização da indústria nacional, tornando-a mais produtiva e rica, eficiente, flexível, e globalmente competitiva", sublinha. E o futuro? "A Active Space Automation já se encontra representada no mercado europeu, essencialmente no ibérico e já marcou também presença no mercado asiático. O futuro passa por expandir dentro do mercado nacional e europeu através de parceiros estabelecidos e de novos contactos, com recurso a venda chave na mão, leasings e parcerias de manutenção", assinala o responsável.