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José Luís Sequeira: "Os mercados internacionais são decisivos para a cerâmica portuguesa"

Segundo José Luís Sequeira presidente da APICER, em 2015 Portugal foi o 1.º produtor e exportador de cerâmica de uso doméstico em grés e faiança da União Europeia e o 2.º exportador mundial. Foi também o 3.º exportador da UE de louça sanitária.

17 de Novembro de 2016 às 14:25
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José Luís Sequeira é o presidente da direcção da APICER - Associação Portuguesa das Indústrias de Cerâmica e de Cristalaria, desde novembro de 2015. A sua ligação à cerâmica e ao associativismo empresarial tem início em 1976 quando se torna consultor jurídico da APICC - Associação Portuguesa de Industriais da Cerâmica de Construção. Em 1980 é nomeado secretário-geral. Vinte anos depois passa a vice-presidente executivo da APICER, criada em 1996, torna-se administrador do CENCAL - Centro de Formação Profissional para a Indústria Cerâmica.

O que é que representa hoje na economia portuguesa a indústria de cerâmica? O ambiente macroeconómico tem sido um constrangimento para o sector?
A indústria cerâmica portuguesa é composta por 1.140 empresas que empregam 16.649 trabalhadores e geram um volume de negócios de 1.025 milhões de euros e um valor acrescentado bruto de 376,6 milhões de euros (dados de 2015).

A cerâmica portuguesa caracteriza-se pela sua forte vertente exportadora (659,3 milhões de euros de exportações em 2015), com presença em 158 mercados internacionais, gerando um saldo de comércio positivo de 543,6 milhões de euros e uma taxa de cobertura das importações pelas exportações de 570%.

O ambiente macroeconómico é extremamente importante para toda a actividade económica, na medida em que condiciona as estratégias de negócio e o planeamento do sector comercial das empresas.

A indústria de cerâmica portuguesa tem clientes por todo o mundo, que foram sendo seleccionados ao longo de muitos anos, com os quais foram sendo estabelecidas relações comerciais assentes em pressupostos de estabilidade mínima, em termos económicos, políticos, sociais e até cambiais.
Como é evidente, quaisquer alterações que possam ocorrer relativamente a algum destes pressupostos têm efeitos ao nível da actividade comercial dos exportadores, obrigando a uma atenção redobrada para cada um dos mercados e com cada um dos clientes. Isto acarreta nomeadamente acréscimo de custos na prospecção e no acompanhamento aos clientes, e aumenta os factores de risco resultantes dos imponderáveis de vária ordem que podem acontecer.

É assim com os mercados da Europa, da América Latina e de África, e é assim também com o próprio mercado nacional em que são determinantes a estabilidade e a confiança que os empresários e empreendedores sentem como essenciais para os negócios e para o investimento.

Quais são as vantagens comparativas e os principais problemas e ameaças que afectam o sector em Portugal?
O sector de cerâmico português tem vantagens comparativas nomeadamente no domínio das matérias-primas e do know-how específico que detemos quer em termos tecnológicos quer em termos de saber fazer, mas são importantes também a nossa centralidade geográfica relativamente ao resto do mundo, e a nossa tradição cerâmica que nos leva a padrões elevados de criatividade e capacidade de produzir tudo aquilo que os criadores e os designers mais exigentes possam desenvolver para os fins que pretenderem, tanto na decoração como na qualidade dos materiais produzidos.

Tudo isto sem esquecer que a nossa indústria de cerâmica cumpre com as normas especificadas em termos técnicos, ambientais, de eficiência energética, de segurança alimentar para os produtos em contacto com os alimentos, conjugando tudo isto com a responsabilidade social das organizações e com a resposta adequada para o ciclo de vida dos produtos.

Ainda como vantagens comparativas, estão a qualificação da mão-de-obra, a capacidade de adaptação aos mercados e uma flexibilidade e capacidade de resposta rápida às solicitações.

A indústria cerâmica portuguesa 

A indústria cerâmica é um dos principais consumidores de gás natural, cujos preços de aquisição são mais elevados do que na União Europeia. Os maiores riscos para o sector de cerâmica portuguesa advêm da concorrência desleal institucional. As empresas não podem ser tratadas apenas fontes de receitas fiscais mas têm de ter condições de rentabilidade, de confiança e de incentivo.


A internacionalização (exportações/presença directa, etc) das empresas portuguesas é uma necessidade. Qual é o balanço que faz e quais são as principais dificuldades? Que balanço faz das exportações?

De facto, os mercados internacionais têm assumido uma importância cada vez mais relevante para a cerâmica portuguesa, nomeadamente no que diz respeito aos materiais cerâmicos destinados à construção (pavimentos e revestimentos, telhas e cerâmica sanitária) por efeitos da crise no sector da construção em Portugal ao longo dos últimos anos. Quanto à cerâmica de mesa e ornamental, Portugal é também um dos principais exportadores à escala internacional.

De facto, em 2015 Portugal foi o 1.º produtor e exportador de cerâmica de uso doméstico em grés e faiança da União Europeia e o 2.º exportador mundial. O país foi também o 3.º exportador da UE de louça sanitária, registando ainda uma posição relevante no contexto da UE enquanto produtor e exportador de pavimentos e revestimentos cerâmicos e louça ornamental.

O valor de exportações alcançado em 2015, que foi de 659,4 milhões de euros, deverá ser ultrapassado em 2016, face aos dados já conhecidos para o período janeiro-setembro de 2016, que evidencia um crescimento de 7,8% face ao período homólogo de 2015.

As principais dificuldades associadas às nossas vendas nos mercados internacionais decorrem essencialmente de questões logísticas inerentes à nossa localização geográfica periférica na União Europeia, se considerarmos que o mercado da UE representa cerca de 70% do valor das nossas exportações de produtos cerâmicos.

A indústria cerâmica é um dos principais consumidores de gás natural, cujos preços de aquisição são mais elevados do que os suportados pelas principais empresas da UE suas concorrentes.

Quais são os principais riscos e oportunidades que vê no futuro do sector?
Os maiores riscos para o sector de cerâmica portuguesa advêm da concorrência desleal institucional resultante de práticas menos recomendáveis quer em termos comerciais quer no cumprimentos das normas técnicas e de qualidade dos produtos, tendo em conta a utilização de materiais potencialmente perigosos para a saúde ou para o ambiente.

O risco de concorrência desleal é tanto mais elevado, quanto é certo que as questões ambientais ou de saúde pública são muitas vezes postas em segundo plano por razões de política internacional, que levam à valorização de outros critérios e interesses que não os que deveriam prevalecer numa lógica de mercado.

Como riscos está o facto de estarmos perante um negócio com grande intensidade de mão-de-obra, o que nos deixa um futuro potencialmente difícil face à subida da qualificação desta e ao seu custo futuro e, por outro lado à possível continuação da emigração. As restrições ambientais e o tema energia são também factores determinantes e nem sempre controláveis.

Mas há riscos também na forma como tratarmos as empresas, sobretudo se as tratarmos apenas como fontes de receitas fiscais sem atendermos a que, para que existam esses resultados, é necessário dar-lhes condições de rentabilidade, de confiança e de incentivo de modo a que possam cumprir também os seus fins sociais.

Oportunidades são de facto a grande proximidade ao mercado europeu, que reconhece o nosso produto e facilita uma cadeia de abastecimento a um produto que gosta pouco de viajar e, por outro lado o facto das exigências no âmbito das várias certificações e de sustentabilidade exigidas, serem mais fáceis de controlar aqui que em outros mercados.

Os mercados internacionais têm assumido uma importância cada vez mais relevante para a cerâmica portuguesa, nomeadamente no que diz respeito aos materiais cerâmicos destinados à construção, por efeitos da crise no sector em Portugal ao longo dos últimos anos

Um dos pontos fortes da indústria de cerâmica portuguesa é a sua capacidade de inovar em termos de processo e de produto, para o que já antecipou de algum modo a sua transformação digital, quer nas áreas produtivas quer na gestão.
JOSÉ LUÍS SEQUEIRA
Presidente da APICER

Está preparado para fazer a transformação digital (Internet das Coisas, Indústria 4.0) e para a inovação constante?

Um dos pontos fortes da indústria de cerâmica portuguesa é a sua capacidade de inovar em termos de processo e de produto, para o que já antecipou de algum modo a sua transformação digital, quer nas áreas produtivas quer na gestão.

Não esquecer que existem em Portugal algumas das melhores e mais modernas empresas do mundo, com integração das novas tecnologias digitais e com capacidade para se actualizar, sempre que outras tecnologias forem sendo colocadas ao serviço da produção com mais e melhores resultados.
Foram as novas tecnologias que nos trouxeram até onde estamos, e é com elas que garantiremos os níveis de modernidade exigíveis à competitividade internacional que será sempre o nosso objectivo.

Neste campo falamos de produtos de uso 'in situ' pelo que à escala do conhecimento e criatividades de hoje, a digitalização se fará mais no sistema produtivo do que no produto em si, no entanto, a criatividade não fica pelo que conhecemos e, seguramente, novas visões surgirão.


Os números
Dados de 2015

1.140
Empresas

1.025
Milhões de euros de volume de negócios

659,3
Milhões de euros de exportações

16.649
Trabalhadores

376,6
Milhões de euros de valor acrescentado bruto

158
Mercados internacionais


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