Maior aposta nos canais digitais de interação com os clientes; flexibilização de ofertas adaptadas às novas necessidades do mercado e novas fontes de receita focadas na área da saúde e do bem-estar. Estas são algumas das medidas de combate ao impacto da Covid-19 no setor segurador debatidas num webinar promovido pela Deloitte sobre as perspetivas de futuro desta área de negócio e que contou com a participação de especialistas de quatro geografias diferentes: Cristina Gamito (Deloitte Portugal); Tim Pagett (Deloitte Hong Kong); Mark Patterson (Deloitte Reino Unido) e Marcin Warszewski (Deloitte Polónia).
Apesar de registar perdas nos vários países analisados e de haver respostas em comum, a atividade seguradora tem tido comportamentos diferentes consoante o nível de evolução da pandemia e o grau de desenvolvimento económico, financeiro e social de cada geografia.
Em Portugal, no primeiro trimestre de 2020, verificou-se uma quebra de 24% no setor segurador, com destaque para a diminuição de 44% no negócio do ramo vida. Além dos desafios financeiros provocados pelo abrandamento da atividade, a partir de março, as empresas do setor enfrentaram também vários desafios de cariz operacional, com a adoção do teletrabalho e a necessidade de limitação no contacto pessoal entre agente e cliente.
Seguradoras devem adaptar-se ao "novo normal"
Perante este cenário, os especialistas no setor defendem uma adaptação das empresas seguradoras às necessidades dos clientes, que adotaram novos hábitos, quer ao nível da mobilidade quer de trabalho, o que levou, por exemplo, a uma diminuição de 70% dos acidentes rodoviários em Portugal entre os meses de março e maio.
"Existe ainda um grande nível de incerteza sobre o comportamento dos consumidores a médio, longo prazo, no entanto é importante que o setor segurador possa olhar para o futuro e apostar nas plataformas digitais, em novas oportunidades de negócio, de que são exemplo a cibersegurança, interrupção de negócio ou serviços de sáude e bem-estar e priorizar modelos operacionais mais resilientes e novas fontes de receita" destaca Cristina Gamito, Partner e Insurance Leader da Deloitte Portugal.
Portugal teve o seu primeiro caso de Covid-19 em março, meses depois da China, que se encontra, neste momento, numa fase mais avançada de resposta à pandemia. As quebras na atividade seguradora têm sido aqui menos significativas que o inicialmente previsto e rondam neste momento os 10 a 12%.
Aumentar a interação online com o cliente
Com uma fraca penetração do mercado segurador na sociedade, a China procura agora apostar numa maior interação online com os clientes, limitada, no entanto, pela fraca literacia digital de algumas zonas do país, e na criação de ecossistemas, que permitam a interligação entre tecnologia, redes sociais e divulgação de ofertas.
"Aquilo que temos assistido é que as empresas que melhor têm respondido a esta pandemia são aquelas que já tinham uma estrutura assente num modelo de negócio digital e que, por isso, não sentiram um impacto tão forte neste momento", refere Tim Pagett, Partner da Deloitte Hong Kong.
No Reino Unido, a aposta no digital já prevalecia no período pré- -pandemia, com cerca de 80% dos clientes a preferirem os canais digitais, no entanto registou-se uma alteração significativa nos hábitos dos cidadãos, especialmente ao nível da mobilidade, que, segundo Mark Patterson, partner da Deloitte Reino Unido, poderá levar a uma adaptação das ofertas do mercado segurador.
Espera-se, por exemplo, que a partir de setembro, e em comparação com o período pré-pandemia, haja uma redução da distância percorrida de carro entre os 10 a 20%, um decréscimo na utilização de transportes públicos que pode variar entre 18 e 27% e um aumento até 150% do número de pessoas que preferem caminhar ou andar de bicicleta.
"A pandemia veio alterar os padrões de mobilidade dos cidadãos britânicos. Vemos cada vez mais pessoas a caminhar e a andar de bicicleta em detrimento do uso de transportes públicos ou do carro e, por isso, vemos também cada vez mais consumidores a quererem uma cobertura diferente, mais alargada, por parte da sua empresa seguradora.", explica Mark Patterson.
Privilegiar ofertas na área da saúde
Dos três países analisados nesta iniciativa da Deloitte, a Polónia é o que, em termos temporais, melhor se compara com Portugal, pela proximidade temporal do primeiro caso de Covid-19, no entanto, o setor segurador polaco sofreu quebras mais acentuadas ao nível do ramo Vida, com uma diminuição na ordem dos 60%. Assim, tem-se vindo a privilegiar as ofertas na área da saúde, nomeadamente com a telemedicina, e campanhas que evitem a rotatividade de clientes.
"A Covid- -19 tem vindo a acelerar as tendências de digitalização do setor segurador na Polónia. Apesar das agências físicas continuarem a ter um papel fundamental no negócio, até por uma questão de confiança vendedor-consumidor, vamos assistir a uma alteração de paradigma a médio-longo prazo, fruto desta pandemia", sublinha Marcin Warszewski, Partner da Deloitte Polónia.
A nível global há, assim, uma ideia a reter no que diz respeito ao setor segurador: apesar dos diferentes níveis de evolução da pandemia, a retoma gradual da economia internacional vai levar a uma adaptação das empresas ao "novo normal" que passará, entre outros aspetos, por uma maior capacidade de transformação digital dos seus sistemas e por um alargamento do portefólio de ofertas disponibilizadas aos clientes.
"É importante que o setor segurador possa olhar para o futuro e apostar nas plataformas digitais, em novas oportunidades de negócio, de que são exemplo a cibersegurança, interrupção de negócio ou serviços de sáude e bem-estar."
Cristina Gamito, Partner e Insurance Leader da Deloitte Portugal
"Aquilo que temos assistido é que as empresas que melhor têm respondido a esta pandemia são aquelas que já tinham uma estrutura assente num modelo de negócio digital."Tim Pagett, Partner da Deloitte Hong Kong
"A pandemia veio alterar os padrões de mobilidade dos cidadãos britânicos. Vemos cada vez mais pessoas a caminhar e a andar de bicicleta e isso implica uma cobertura diferente, mais alargada, por parte das empresas seguradoras."
Mark Patterson, Partner da Deloitte Reino Unido
"Apesar das agências físicas continuarem a ter um papel fundamental no negócio, até por uma questão de confiança vendedor/ consumidor, vamos assistir a uma alteração de paradigma a médio-longo prazo."Marcin Warszewski, Partner da Deloitte Polónia