A Deloitte divulgou quais as maiores tendências tecnológicas para o ano de 2022. No relatório Tech Trends 2022, apresentado numa sessão exclusiva, que decorreu no Museu da Eletricidade, em Lisboa, a consultora revela o resultado da observação do mercado e da resiliência dos agentes inovadores, que se mobilizaram e desafiaram os seus limites e os do mercado para responder à crise de covid-19, mapeando sete pontos de inovação que considera terem o maior potencial para sustentar o salto das organizações para a digitalização. Neste verdadeiro roteiro de transformação digital, a Deloitte aponta o caminho para a inovação dos modelos de negócio, para a otimização da eficiência das equipas e para o futuro de tecnologias disruptivas que prometem às empresas um novo patamar de eficiência e de competitividade.
Desta forma, pretende garantir que os gestores olhem para as tecnologias que existem no mercado, se capacitem para liderarem com a confiança necessária os seus projetos de inovação e para conseguirem incorporar e retirar o devido valor da disrupção tecnológica que está a acontecer, ano após ano, a um ritmo cada vez mais acelerado.
Inovar, autonomizar e otimizar
Na sua 13ª edição, o relatório "segue uma linha condutora e confirma, ano após ano, algumas das tendências tecnológicas apresentadas", afirma Bruno Batista, partner da Deloitte. Na edição deste ano, são apontadas sete tendências que estão agrupadas em três grandes grupos (inovação empresarial, otimização da eficiência das equipas de TI e identificação de novas tecnologias disruptivas). Entre os sete catalisadores tecnológicos (Data-sharing, Cloud goes vertical, Blockchain, Automation at scale, Cyber AI, The tech stack goes physical, Tecnologia disruptiva) que estão a transformar as empresas, a Deloitte destaca o poder da partilha de dados, da verticalização, da automação e da Cyber AI. Cada uma das tendências é analisada do ponto de vista estratégico, financeiro e de risco. "Analisamos cada uma destas tendências nestas três dimensões", confirma Gonçalo Santos, associate partner da Deloitte, sublinhando que o objetivo é deixar claro como é que cada uma delas está a "redesenhar o paradigma dos negócios e a potenciar a inovação dentro dos vários setores".
Avaliar, experimentar e errar
A concretização destas tendências está muito relacionada com a capacidade de antecipação das várias organizações. Nuno Carvalho, partner Deloitte, considera que existem organizações que aguardam para ver o efeito daquelas que são as tendências e antes de avançarem aguardam que elas se traduzam em algo mais concreto e que possam replicar. "Existem empresas mais disruptivas e mais inovadoras que tentam captar estas ideias para se diferenciarem no mercado e daí tirarem mais partido do que é a sua atividade", destaca este responsável.
Consciente de que cada vez mais estamos a viver num ecossistema com uma diversidade de ofertas maior, Nuno Carvalho diz que é preciso ter a capacidade para avaliar, experimentar e errar, e que esse é um aspeto muito importante que muitas empresas salvaguardam para dar o passo de forma mais segura. Porém, este gestor não tem dúvidas de que "aqueles que o fazem por antecipação estão a colher os frutos".
Redirecionar o talento para a inovação
A verdade é que os tempos que se vivem são de competição agressiva e, por isso, ter a capacidade de otimizar custos e a forma como se gerem os ativos é importante. "Se continuarmos a gerir as TI de uma forma tradicional, não vamos ter ganhos de otimização que permitam libertar margem para inovar e mudar o paradigma de gestão de talento", revela Rui Pedro Vaz, partner da Deloitte. O talento que diz ser tão necessário para assegurar as áreas de maior valor para as organizações e que lhes permitam criar diferenciação. Com a automatização suportada em tecnologia que já existente, este responsável acredita que a falta de recursos especializados que tanto ensombra os mercados poderá ter aqui um agente dinamizador e promotor de processos de requalificação, importantes para "garantir que os ecossistemas empresariais evoluam, se adaptem mais rapidamente às tendências, sobrevivam e se mantenham competitivos."
Acabar com o tabu da interoperabilidade dos dados
Tiago Durão, partner da Deloitte, pôs as cartas da competitividade em cima de uma mesa-redonda e convidou representantes de vários setores a advogarem em causa comum, nomeadamente acerca de como anda a relevância dos dados nos processos de gestão e até que ponto a sua partilha entre vários stakeholders está ou não a ser consumada no mercado nos dias que correm. Estratégias à parte, a verdade é que o consenso quanto à importância dos dados é claro. Já quanto à mudança de paradigma no que diz respeito à partilha, sustentada nas novas tecnologias, de que são exemplo a inteligência artificial, a analítica cognitiva ou o machine learning, há ainda algumas reticências geracionais e culturais.
Jorge Simões, head of the Digital Factory na EDP, confirmou que a valorização dos dados já foi assumida há muito e tem vindo a solidificar-se num mercado que é diariamente inundado de dados provenientes de cada vez mais dispositivos e sensores. "Não se antevê que esta tendência abrande", refere o responsável. E segundo ele, o mercado e a indústria estão mais preparados para lidar com este volume de dados, cada um à sua velocidade e ao ritmo da sua agilidade maior ou menor para desenhar os modelos de governança para os dados, assegurando que eles são tratados de forma segura e garantindo as questões de compliance. De acordo com este responsável, é natural mais demora porque muitas das empresas envolvidas não pertencem ao grupo dos nativos digitais, em que tudo é muito mais fácil. "Em Portugal ainda não estamos preparados para extrair todo o valor que pode ser extraído dos dados através da tecnologia de inteligência artificial, mas estamos no bom caminho", garante o responsável da EDP.
A união faz a força
Se em alguns setores a regulação já impõe que a partilha de dados seja garantida, outros há que ainda têm um caminho de pedras para percorrer, não só devido a questões geracionais ou culturais, mas também porque num mercado pequeno, onde existem poucas empresas há a ainda persiste a ideia de que o "segredo é a alma do negócio".
"A lógica de datasharing e de proteção de dados é um tema que vai evoluindo de forma geracional e tem uma importância na faixa etária dos 40 anos completamente diferente da que tem na dos mais jovens", confirma Luís Morim, head of Data & Analytics no Banco Santander.
O tema está claramente a ganhar uma abertura maior com o valor existente numa ótica de serviços, mas o setor privado será o que tomará a dianteira, potenciando o valor acrescentado no cross segment e na experiência de serviços que poderá proporcionar aos clientes. "Existem inúmeras interações que podem ser feitas com parceiros e própria indústria vai começar a tirar partido disso de forma mais integrada", prevê este responsável. Gonçalo Correia, head of business reporting & analytics dos CTT, sabe disso, ou não tivesse a sua empresa de se "abrir" e integrar dados com um manancial de parceiros nos últimos dois anos por "ordem" das exigências de negócio de um sem-número de empresas durante a pandemia. "Quando envolve parceiros, a partilha de dados tem associado não só todo o tema de conetividade, mas também o de segurança, e há que criar laços de confiança porque a partilha dentro das organizações é desafiante, mas com entidades diferentes é ainda mais", afirma este responsável.
É preciso reconhecer valor…
A componente técnica existe e já permite trabalhar com volumes de dados maiores transformando-os em informação para ação, mas o próximo passo será perceber o valor do que pode ser traduzido em oportunidades, novos produtos ou clientes. Luís Morim, do Banco Santander, explica que se está a assistir a um reformular das tendências no aproveitamento dos dados ao longo do seu ciclo de valor. Segundo ele, começam a surgir empresas data driven que olham para os desafios dos clientes e para as suas experiências como uma meta a alcançar com os dados que têm nas mãos, porque hoje em dia os clientes esperam que a utilização desses dados seja feita em diferentes frentes. "Os clientes não comparam bancos com bancos, comparam apps com apps e experiências de utilização dos vários serviços", sublinha Luís Morim.
… e colocar os dados ao serviço da organização
Mais do que retirar valor dos dados, os gestores têm de perceber como traduzi-los em experiência de cliente e no limite como monetizá-los. Os dados estão em todo o lado e servem como alimento da transformação digital que se tem vindo a assistir no mercado, assim como dos temas da indústria 4.0. Gonçalo Correia, dos CTT, considera que esta é uma temática que não pode ser vista de uma forma desgarrada e só do ponto de vista da tecnologia, do dashbording, da inteligência artificial ou dos modelos preditivos, por mais importantes que estes conceitos sejam.
"É preciso pôr os dados ao serviço do output ou do outcome que queremos para a organização, sendo que isso é vital para isto começar a correr bem e para se ter um alicerce sólido", recomenda este responsável. Mas há também o problema do talento, que deve ser abordado.
A metodologia será híbrida, ou seja, "é preciso saber como preparamos as pessoas, quer internas quer parceiros, que nos permitirão levar a cabo todas as iniciativas relacionadas com os dados". Ainda que não existam fórmulas secretas para tudo isto, Hervé Silva, partner da Deloitte, considera que é preciso não pôr o foco excessivo nos objetivos de eficiência ou de inovação, mas sim contrabalançá-los.
Os líderes de negócio têm um papel primordial neste equilíbrio, alinhando todo o contexto de inovação com a estratégia total da organização.
1. Data-sharing made easy
2. Cloud goes vertical
3. -Blockchain: Ready for business
Otimização de eficiência das equipas de TI
4. -TI, disrupt thyself: Automating at scale
5. Cyber AI: Real Defense.
6. The tech stack goes physical
7. Field notes from the future