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Inflação alta que trave cortes de juros pode causar "sell-off" nas ações, obrigações e até cripto, avisa FMI

Os mercados têm-se mantido otimistas quanto à estagnação da desinflação e a outros ventos contrários e riscos. Uma desilusão poderá gerar um efeito global negativo, com impacto ainda mais expressivo nos emergentes.

LUSA_EPA
Os bancos centrais encontram-se nos últimos quilómetros da corrida para travar a inflação e os mercados financeiros estão confiantes que 2024 será de cortes de juros, mas o Fundo Monetário Internacional (FMI) alerta que este cenário poderá ter riscos. Caso a inflação se manteve elevada, defraudando as expectativas, pode gerar-se uma tendência de queda nas bolsas globais.

"As expectativas para a inflação nas principais economias ao longo dos próximos um ou dois anos - implícitas na diferença entre as "yields" das obrigações soberanas nominais e indexadas à inflação - têm vindo a subir novamente. É importante notar que se mantêm acima dos objetivos dos bancos centrais de 2%, como em França, no Reino Unido e nos Estados Unidos, ou de 3%, como no Brasil e no México", avisa Tobias Adrian, diretor do departamento de mercados monetários e de capitais do FMI, no relatório de estabilidade financeira global, divulgado esta terça-feira.

Simultaneamente, "uma intensificação das tensões geopolíticas poderia perturbar ainda mais a navegação e a produção de energia e fazer subir de novo a inflação", refere. O FMI nota que, até agora, os mercados financeiros têm-se mantido globalmente otimistas quanto à estagnação da desinflação e a outros ventos contrários e riscos, com a volatilidade das principais classes de ativos a situar-se atualmente em níveis baixos, apesar das elevadas medidas de incerteza quanto à política económica.

Tradicionalmente, uma divergência entre a volatilidade dos preços dos ativos e a incerteza precede picos de volatilidade, "que podem ocorrer quando os investidores são abalados por choques adversos", levando-os a reavaliar os preços dos ativos para ter em conta a elevada incerteza.

"Um desses choques adversos ao longo do último quilómetro poderá ser a subida da inflação", adverte Tobias Adrian. Apesar do aumento da inflação projetada para o futuro em vários países, os investidores antecipam cortes substanciais das taxas diretoras este ano - de cerca de 75 pontos de base pelo Banco Central Europeu ou 50 pontos base pela Reserva Federal (Fed) norte-americana.

"Os investidores parecem confiar que os bancos centrais, dependentes dos dados, aliviarão a política monetária quando a inflação desacelerar ainda mais. Mas se a inflação se mantiver elevada, essas expectativas elevadas podem cair, o que pode levar a um 'selloff' correlacionado de ativos, desde obrigações a ações e criptoativos", diz.

Neste cenário, as condições financeiras tornar-se-iam, em geral, mais restritivas. De forma mais imediata, alguns investidores enfrentariam perdas nos ativos que detêm, especialmente investidores alavancados cujos retornos negativos seriam ampliados. A nível mundial, os países teriam mais dificuldade em assegurar o serviço da dívida, devido ao aumento das "yields" das obrigações, sendo que os mercados emergentes são frequentemente afetados de forma desproporcionada nestas situações.

"Muitos desses emitentes já enfrentam taxas de refinanciamento mais elevadas do que as taxas de juro das obrigações soberanas em circulação denominadas em dólares americanos. Os mercados emergentes mais vulneráveis - aqueles com notação de crédito B e CCC ou inferior - enfrentam o maior aumento das taxas. Um endurecimento das condições financeiras globais, impulsionado pela inflação, tornaria o refinanciamento ainda mais difícil", admite ainda o FMI.
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