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Brexit traz prestações da casa mais baixas e por mais tempo

O referendo britânico teve um resultado que ninguém estava à espera, apesar dos vários alertas das sondagens. O "Leave" venceu e, com ele, aumentaram as probabilidades de mais estímulos no euro que vieram afundar ainda mais as Euribor.

Rafael Marchante/Reuters
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O que é que o Brexit tem a ver com a prestação dos créditos à habitação das famílias portuguesas? À primeira vista, muito pouco. Ou mesmo nada. Mas está a ter. É que a saída do Reino Unido da União Europeia está a agitar os mercados. E, acreditam os economistas, poderá ter impacto na economia, fazendo cair as expectativas para a inflação. Começa, assim, a antecipar-se uma resposta do BCE que está já a afundar os indexantes da generalidade dos empréstimos, as Euribor.

"Após os resultados do referendo britânico os mercados financeiros reagiram como se defrontassem um evento que implica a forte deterioração do quadro económico global", explica Paula Carvalho. Nesse sentido, as taxas de juro incorporaram "novas medidas [por parte do BCE] mais cedo que o anteriormente esperado", defende a economista-chefe do BPI. "Há expectativa de mais medidas por parte do BCE, entre elas novo corte da taxa de depósitos [-0,04%] por causa do Brexit que cria receios em torno do abrandamento da economia", estima Filipe Garcia, economista do IMF.

Uma perspectiva defendida por bancos de investimento como o Standard Chartered, que já se está a traduzir nos mercados, especialmente através das taxas a que os bancos estão disponíveis para emprestar dinheiro entre si. As Euribor acentuaram as quedas desde o referendo, tocando mínimos históricos. A taxa a três meses estava em -0,268% antes do referendo. Chegou aos -0,283%. E os contratos futuros sobre esta taxa afundaram para mínimos que chegam a -0,39% em final de 2017, aproximando-se da taxa de depósitos do BCE que está actualmente nos -0,4%.

Esta tendência mais negativa das Euribor vai ditar, assim, que as famílias portuguesas beneficiem de prestações do crédito da casa ainda mais baixas no curto a médio prazo. Quem tem a revisão dos empréstimos já no próximo mês, em Julho, vai sentir já o reflexo do acentuar da queda das taxas de mercado. Num empréstimo indexado à taxa a três meses, um crédito de 100 mil euros a 30 anos com um "spread" de 0,7%, vai ver a prestação cair 0,53%. Passará para 296,35 euros contra os 297,92 euros actuais. Já no caso dos créditos com a Euribor a seis meses, o mesmo financiamento sentirá um alívio de 1,73% no valor a pagar na mensalidade de Agosto, com a prestação a descer dos  306,26 euros actuais para  300,95  euros.

Estas mensalidades são as mais baixas de sempre. Aliás, à conta das sucessivas "armas" que têm sido utilizadas por Mario Draghi, as prestações têm vindo a bater mínimos históricos consecutivos. E a perspectiva é de que este contexto extraordinário de juros negativos, que são descontados aos "spreads" dos créditos, só desapareçam mais tarde. Se semana passada só iam até meados de 2019, as taxas abaixo de zero chegam, agora, a Setembro de 2020, quando deverão atingir os -0,03%, segundo dados da Bloomberg. "Depois do resultado do referendo  certamente que as Euribor ficarão em terreno negativo durante mais tempo que antes se previa", diz Paula Carvalho. Ou seja, prestações mais baixas por mais tempo.

Travão no crédito?

A queda das Euribor favorece quem já tem créditos, especialmente aqueles que contam com "spreads" muitos reduzidos. Mas para quem vai procurar financiamento, a situação poderão não ser tão favorável. Desde que estas taxas entraram em "terreno" negativo, os bancos travaram a descida dos "spreads" tentando proteger-se das taxas abaixo de zero. Os "spreads" mais baixos estão entre os 1,25% e os 1,75%.

Ao mesmo tempo, as instituições financeiras fugiram das Euribor de curto prazo para a de 12 meses. E já há mesmo bancos que não concedem novos créditos com taxas variáveis, apostando nos juros fixos para os quais não existem regras. Cada banco tem a sua forma de definir estes juros que, regra geral, são mais elevados do que as taxas variáveis.

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