Notícia
Regulador financeiro europeu investiga abalo do mercado de seguros contra incumprimento
Ao que tudo indica, terá sido uma única aposta nos "credit default swaps" do Deutsche Bank que levou ao "sell-off "das ações na bolsa. A ESMA está a investigar e o BCE pede mais controlo sob estes instrumentos.
30 de Março de 2023 às 16:36
O regulador financeiro europeu (na sigla inglesa ESMA) assegurou, numa resposta enviada à Bloomberg, que está a investigar "os mais recentes movimentos no mercado, incluindo no mercado de CDS ["credit default swaps"]".
Na passada sexta-feira, as ações do Deutsche Bank encerraram a cair perto de 9%, para mínimos de cinco meses, depois de chegarem a afundar em torno de 15% durante a sessão – algo que não acontecia desde março do ano pandémico de 2020, tendo perdido num só dia 1,6 mil milhões de euros do seu valor em bolsa.
Ao mesmo tempo, os seguros contra o incumprimento – os chamados "credit default swaps" (CDS) – da instituição financeira alemã dispararam, significando que o mercado estava a atribuir um risco maior à possibilidade de "default" do Deutsche Bank no reembolso da sua dívida, exigindo por isso um maior prémio.
Na altura, os analistas do Citigroup consideraram o mergulho do Deutsche Bank em bolsa como sendo fruto de um "pânico irracional", mas o efeito psicológico que os revezes na banca estavam a ter nos depositantes foi visto mais ou menos como a razão consensual para o tombo do banco em bolsa.
No entanto, mais tarde, os reguladores de mercado terão dito que talvez não tenha sido assim, ao sinalizarem que terá sido uma única aposta nos CDS do Deutsche Bank que levou ao sell-off das ações na bolsa.
A referida aposta rondou os cinco milhões de euros e visou os CDS associados à dívida júnior (dívida de curto prazo, neste caso a um ano) do Deutsche Bank, comentaram à Bloomberg fontes próximas do assunto – que dizem que os reguladores falaram com os participantes de mercado sobre esta transação.
Esta aposta teve um efeito dominó nos mercados: as cotadas da banca caíram, as obrigações soberanas ganharam terreno (pela maior aposta em ativos-refúgio) e o preço dos seguros de risco das instituições financeiras disparou, fazendo eclipsar perto de 1,6 mil milhões de euros do valor de mercado do Deutsche Bank – já que também os seguros sobre a sua dívida sénior (de longo prazo) acabaram por escalar (para máximos de 2018) pelo efeito contágio.
BCE pede mais supervisão sobre o mercado "opaco" dos CDS
Esta semana, o presidente do Conselho de Supervisão do Banco Central Europeu (BCE) criticou a falta de transparência do mercado CDS. "Apesar de todos os esforços que tivemos para reformar a regulação, vemos que há mercados como o dos CDS que são muito opacos e muito ilíquidos", sublinhou Andrea Enria.
Estes contratos podem ser ilíquidos - ou seja serem mais difíceis de vender do que as ações por exemplo - pelo que uma única aposta pode gerar grandes movimentações.
Assim "com uns poucos milhões podem mover-se os CDS de um banco importante e contaminar o preço das ações e possivelmente também a saída dos depósitos", acrescentou o líder do conselho de supervisão do banco central da Zona Euro.
Para Andrea Enria, é necessário uma maior controlo do mercado OTC. Os mercados Over The Counter (OTC) - mercado de balcão, em que a compra e venda de ações é realizada fora de bolsa - são mercados paralelos onde os instrumentos financeiros são transacionados entre duas partes de forma descentralizada, sem intermediação, através de contratos OTC. Por norma os investidores a retalho não são "players" do mercado OTC.
"Se houvesse uma boa transparência, por exemplo centralizada - em vez das transações OTC - , creio que seria um grande avanço", alertou o braço direito da presidente do BCE, Christine Lagarde, para a supervisão.
Atualmente e segundo os dados da Associação Internacional de Swaps e Derivados (na sigla inglesa ISDA), o mercado de CDS está avaliado em cerca de 3,8 mil milhões de dólares, o equivalente a 3,48 mil milhões de euros ao câmbio atual. No seu apogeu, em 2008, chegou a valer 33 mil milhões de dólares (cerca de 30,2 mil milhões de euros).
Na passada sexta-feira, as ações do Deutsche Bank encerraram a cair perto de 9%, para mínimos de cinco meses, depois de chegarem a afundar em torno de 15% durante a sessão – algo que não acontecia desde março do ano pandémico de 2020, tendo perdido num só dia 1,6 mil milhões de euros do seu valor em bolsa.
Na altura, os analistas do Citigroup consideraram o mergulho do Deutsche Bank em bolsa como sendo fruto de um "pânico irracional", mas o efeito psicológico que os revezes na banca estavam a ter nos depositantes foi visto mais ou menos como a razão consensual para o tombo do banco em bolsa.
No entanto, mais tarde, os reguladores de mercado terão dito que talvez não tenha sido assim, ao sinalizarem que terá sido uma única aposta nos CDS do Deutsche Bank que levou ao sell-off das ações na bolsa.
A referida aposta rondou os cinco milhões de euros e visou os CDS associados à dívida júnior (dívida de curto prazo, neste caso a um ano) do Deutsche Bank, comentaram à Bloomberg fontes próximas do assunto – que dizem que os reguladores falaram com os participantes de mercado sobre esta transação.
Esta aposta teve um efeito dominó nos mercados: as cotadas da banca caíram, as obrigações soberanas ganharam terreno (pela maior aposta em ativos-refúgio) e o preço dos seguros de risco das instituições financeiras disparou, fazendo eclipsar perto de 1,6 mil milhões de euros do valor de mercado do Deutsche Bank – já que também os seguros sobre a sua dívida sénior (de longo prazo) acabaram por escalar (para máximos de 2018) pelo efeito contágio.
BCE pede mais supervisão sobre o mercado "opaco" dos CDS
Esta semana, o presidente do Conselho de Supervisão do Banco Central Europeu (BCE) criticou a falta de transparência do mercado CDS. "Apesar de todos os esforços que tivemos para reformar a regulação, vemos que há mercados como o dos CDS que são muito opacos e muito ilíquidos", sublinhou Andrea Enria.
Estes contratos podem ser ilíquidos - ou seja serem mais difíceis de vender do que as ações por exemplo - pelo que uma única aposta pode gerar grandes movimentações.
Assim "com uns poucos milhões podem mover-se os CDS de um banco importante e contaminar o preço das ações e possivelmente também a saída dos depósitos", acrescentou o líder do conselho de supervisão do banco central da Zona Euro.
Para Andrea Enria, é necessário uma maior controlo do mercado OTC. Os mercados Over The Counter (OTC) - mercado de balcão, em que a compra e venda de ações é realizada fora de bolsa - são mercados paralelos onde os instrumentos financeiros são transacionados entre duas partes de forma descentralizada, sem intermediação, através de contratos OTC. Por norma os investidores a retalho não são "players" do mercado OTC.
"Se houvesse uma boa transparência, por exemplo centralizada - em vez das transações OTC - , creio que seria um grande avanço", alertou o braço direito da presidente do BCE, Christine Lagarde, para a supervisão.
Atualmente e segundo os dados da Associação Internacional de Swaps e Derivados (na sigla inglesa ISDA), o mercado de CDS está avaliado em cerca de 3,8 mil milhões de dólares, o equivalente a 3,48 mil milhões de euros ao câmbio atual. No seu apogeu, em 2008, chegou a valer 33 mil milhões de dólares (cerca de 30,2 mil milhões de euros).