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Leilão passa ao lado do debate sobre as sanções

Após a agitação criada pelo Brexit, Portugal prepara-se para regressar ao mercado de dívida. A operação, dizem os analistas, deverá ser um sucesso, graças às maturidades bem escolhidas. E nem a ameaça de sanções deverá afastar os investidores.

Pedro Elias
12 de Julho de 2016 às 22:11
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A turbulência causada pelo Brexit manteve muitos países longe do mercado de dívida. Mas a poeira já assentou e, por isso, aqueles que se mantiveram à parte aproveitam a brecha para retomar o programa de financiamento. É o caso da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP), que se prepara para emitir até 1.250 milhões de euros em dívida a seis e dez anos. Uma operação que deverá beneficiar da actual procura dos investidores por activos de risco, dizem os analistas. E nem a nuvem negra das sanções deverá atrapalhar.

Portugal registou vários sobressaltos no início do ano, com os investidores a penalizarem os juros da dívida devido às divergências do Governo português com Bruxelas. Ainda assim, o Tesouro conseguiu gerir com sucesso os ziguezagues, tendo até ao momento garantido dois terços do financiamento previsto para 2016 no mercado de dívida de médio e longo prazo. Agora, o instituto liderado por Cristina Casalinho prepara-se para dar mais um passo.

Pela quinta vez este ano, o Tesouro vai ao mercado emitir obrigações do Tesouro sem a ajuda de um sindicato bancário. Desta feita, estão em causa títulos que vencem em 2022 e 2026, sendo o objectivo angariar entre 1.000 milhões e 1.250 milhões de euros. "As maturidades foram bem escolhidas", diz David Schnautz. O estratego de dívida do Commerzbank explica que "Itália não irá emitir obrigações a dez anos [esta quarta-feira] e as de 2022 são uma maturidade relativamente fácil de vender" aos investidores.

Além disso, o especialista aponta que os juros de Portugal alargaram o diferencial face a Espanha e Itália, "o que deverá ser visto como um desconto positivo". Quanto aos riscos que pairam sobre Portugal no curto prazo, David Schnautz desvaloriza. "A história das sanções parece tão suave nesta altura - uma multa de zero euros -, que não deverá afectar a procura" pelos títulos, defende.

"As perspectivas orçamentais fazem parte do contexto. Mas, actualmente, não são de todo um factor", acredita Ciaran O'Hagan. O director de estratégia de dívida do Société Générale diz que "a procura dos investidores está muito bem sintonizada" com estas maturidades, além de que "o enorme apetite por risco actual é um grande impulso". Quanto ao montante, Ciaran O'Hagan considera que "é modesto. Mas cada passo aproxima Portugal do objectivo."

De facto, o Tesouro ainda precisa de se financiar em 5,9 mil milhões de euros através de obrigações. Isto porque já angariou 12,1 mil milhões desde o início do ano, tendo um objectivo total de 18 mil milhões. Falta angariar um terço do montante, sendo que o programa de financiamento está também, como um todo, a um terço de estar concluído. "Dado o financiamento que ainda precisa de ser feito até ao final do ano, abordar o mercado esta semana foi uma decisão sensata", considera David Schnautz. "Se correr bem, mantenho a previsão de que poderemos ver outro leilão dentro de duas semanas", conclui.

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