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Juros da dívida nacional agravam horas antes da reunião do BCE
A yield da dívida soberana portuguesa está a agravar 2,6 pontos base para 1,782%, seguindo a tendência vivida na zona euro.
Os juros da dívida portuguesa a dez anos estão a agravar esta quinta-feira, seguindo a tendência vivida na zona euro. A yield das obrigações nacionais estão a agravar 2,6 pontos base para 1,782%, continuando a renovar máximos de 2018, um dia depois de ter sido divulgado a nova proposta do Governo para o Orçamento de Estado de 2022, que inclui um aumento dos gastos com a manutenção da dívida pública, contrariando a prática seguida em anteriores, e horas antes de serem anunciadas as conclusões da reunião do Banco Central Europeu (BCE).
Os encargos do Estado português com juros da dívida vão aumentar em 2022, segundo a proposta do Goberno para o Orçamento deste ano, interrompendo a tendência de recuo dos últimos anos, pelo que o gasto previsto com juros é de 6.285 milhões de euros.
Na conferência de imprensa de apresentação da proposta de OE2022, o ministro das Finanças Fernando Medina explicou que, apesar da tendência de aumento generalizado dos juros das dívidas públicas, Portugal tem continuado a financiar-se com custos inferiores ao juro médio do "stock" da dívida. O país tem igualmente aproveitado para fazer trocas de obrigações mais caras no mercado por títulos com encargos inferiores.
Desde a saída do procedimento por défices excessivos e consequente retirada do "lixo" pelas principais agências de "rating" que Portugal vinha a beneficiar de sucessivas descidas nas "yields" da dívida pública. O custo da dívida direta do Estado caiu, em 2020, para 2,2%, enquanto os juros dos novos títulos recuaram para 0,5%.
Na restante zona euro, a tendência é de agravamento das yields das dívidas soberanas, enquanto o mercado aguarda com expectativa as conclusões da reunião do Banco Central Europeu, Os investidores esperam encontrar pistas sobre o futuro da política monetária seguida pelo conselho comandado pela presidente, Christine Lagarde.
A yield sobre as bunds alemãs a dez anos está a subir 2,3 pontos base para 0,784%, depois de ontem ter ultrapassado a fasquia dos 0,8%, continuando a renovar máximos de 2015. Os juros da dívida italiana com a mesma maturidade são os que aliviam de forma expressiva, mais concretamente 5,1 pontos base para 2,421%, enquanto em Espanha, a yield da dívida a dez anos soma 3,4 pontos base para 1,732%
Os analistas antecipam que o BCE não deve para já mexer nem nas taxas de juro nem no programa de compra de ativos, mantendo-se tudo como delineado. "O BCE não se pode dar ao luxo de não fazer nada [perante o avanço da inflação], mas é isso que Chistine Lagarde dirá hoje durante a conferência de imprensa", previu Michael Hewson, responsável pelo departamento de "research" da CMC Markets no Reino Unido, citado pela Bloomberg, ainda assim, o especialista admite, que perante o cenário macroeconómico atual "em algum momento o BCE terá de estabelecer um cronograma para aumentar as taxas de juro".
A taxa de inflação homóloga da Zona Euro disparou em março para 7,5%, contra os 5,9% que tinham sido registados em fevereiro. O valor é o mais alto desde o início da série estatística do Eurostat, que recua a janeiro de 1997, e superou as expectativas dos analistas.
Os níveis de inflação muito acima da meta do BCE – em torno de 2% – deverão levar a ajustamentos nos instrumentos. A expectativa do mercado aponta para a primeira subida nas taxas de juro (atualmente em mínimos históricos) depois do verão. Também o programa regular de compra de dívida poderá ser reduzido, acabando com as aquisições líquidas, depois de o programa pandémico ter sido encerrado em março.