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Greenspan admite que juros norte-americanos podem entrar em terreno negativo

O ex-presidente da Reserva Federal, Alan Greenspan, admite que os juros norte-americanos podem tornar-se negativos, tal como já aconteceu na Alemanha.

Bloomberg
14 de Agosto de 2019 às 18:00
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Alan Greenspan, que liderou a Reserva Federal norte-americana entre 1987 e 2006, admite que não ficaria surpreendido se os juros associados às obrigações norte-americanas entrarem em terreno negativo, tal como já acontece na Alemanha. E, caso isso aconteça, considera que não será um problema assim tão grave.

"Há uma arbitragem internacional a decorrer no mercado das obrigações que está a ajudar a baixar os juros da dívida pública de longo prazo", explicou Greenspan, em declarações à Bloomberg.

Para o ex-presidente da Fed "não há nenhuma barreira [que impeça] os juros da dívida pública dos EUA de atingirem zero. Zero não tem nenhum significado, além de ser um certo nível", disse esta terça-feira, 13 de agosto, desvalorizando o tema.

Alan Greenspan considera que, tal como disse à Bloomberg Joachim Fels, analista da Pacific Investment Management, a prolongada esperança de vida leva as pessoas a valorizarem mais o consumo futuro do que o consumo atual. "O porquê de as pessoas continuarem a comprar obrigações de longo prazo a juros tão baixos pode também dever-se a forças que alteraram as preferências de tempo das pessoas", explicou.

No Japão e na Europa são já vários os países que têm juros negativos em alguns prazos no mercado secundário, sendo que no caso da Alemanha e da Holanda os juros negativos incluem todas as maturidades até 30 anos. Em teoria, o que isto significa é que os investidores estão a pagar aos Estados para lhes emprestar dinheiro. Tradicionalmente, o que acontece é que quem empresta recebe um juro pelo risco envolvido.

Este ambiente de taxas de juro negativas nas obrigações soberanas deve-se não só à política monetária fortemente acomodatícia adotada na Europa e no Japão, mas também aos receios de recessão que dominam atualmente o sentimento dos mercados.

Os dados económicos mais fracos e a expectativa de que a disputa comercial entre os EUA e a China continue são os fatores que estão a penalizar as expectativas futuras dos agentes económicos, levando-os a apostar em ativos de menor risco, tais como tendem a ser as obrigações soberanas, dependendo dos países. 

Neste momento, mais de 15 biliões de dólares de obrigações já estão em terreno negativo e mais de 30 biliões de dólares encontram-se abaixo da inflação, ou seja, não têm nenhum rendimento após descontada a variação dos preços. 

Este fenómeno cingia-se à Europa e ao Japão - onde as taxas de crescimento são mais baixas e os desafios demográficos são maiores -, mas a volatilidade das bolsas norte-americanas tem levado os investidores também para a dívida pública dos Estados Unidos.

O resultado tem sido claro: os juros têm descido para mínimos, sendo que nesta quarta-feira, 14 de agosto, os juros a dez anos negociaram abaixo dos juros a dois anos pela primeira vez desde a crise financeira de 2007. Esta é a chamada "inversão da curva de rendimentos", que tem sido um sinal de alerta que antecipa as recessões nas últimas quatro décadas.

Contudo, tal como recordou Neil Wilson, analista da Markets.com, há um "delay" (atraso) de cerca de um ano ou dois face aos sinais dos mercados e a evolução da economia, pelo que "a recessão poderá acontecer no próximo ano".

A procura pelas obrigações norte-americanas a 30 anos tem sido tão forte que hoje negociou a 2,015%, a taxa mais baixa de sempre.

Esta evolução dos juros das obrigações dos EUA tem feito aumentar a especulação sobre os próximos passos da Fed. O atual presidente da Fed, Jerome Powell, decidiu baixar os juros na última reunião, mas alertou que esta descida era apenas um ajuste e não um ciclo de cortes de juros. A expectativa dos mercados é que haja mais descidas ainda este ano.
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