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Fitch reitera rating e perspectivas para o Montepio, CGD, BCP e BPI
A agência de notação financeira reafirmou a classificação da dívida de longo prazo de quatro bancos portugueses, mantendo os seus ‘outlooks’ estáveis.
A Fitch decidiu manter os ratings da Caixa Económica Montepio Geral (CEMG), da Caixa Geral de Depósitos, do BPI e do BCP.
O rating do Montepio permanece em ‘B’ – que corresponde ao quinto nível da categoria do chamado "lixo". Neste patamar, as agências consideram que o investimento é altamente especulativo, que existe risco de crédito e que a margem de segurança é limitada.
Já as notações do BPI e Caixa mantêm-se em ‘BBB-’, que é o último nível da categoria de investimento de qualidade. Descendo um nível, entram em território de lixo. Nesta posição, as agências vêem a capacidade de pagamento (reembolso da dívida) como sendo adequada.
Por seu lado, a classificação da dívida de longo prazo do BCP continua a ser de ‘BB-’, que é o terceiro nível de "lixo" – havendo riscos em desenvolvimento, devido a alterações de ordem económica.
Quanto às perspectivas, prosseguem estáveis para os quatro bancos, anunciou num relatório divulgado esta quinta-feira, 16 de Março.
No entender da agência, o fraco contexto operacional em Portugal provocou uma deterioração na avaliação da qualidade dos activos da banca nacional, além de que as taxas de juro "persistentemente baixas" levaram a uma redução das margens.
"Os quatro bancos estão a reestruturar de forma activa os seus negócios, de modo a melhorarem a eficiência e a geração de capital interno", salienta a agência.
Contudo, por enquanto não deverá bastar: "estamos convictos de que só no médio prazo é que estes bancos conseguirão ter perfis de crédito significativamente melhorados".
Montepio: qualidade dos activos ainda é fraca
Relativamente ao Montepio, a agência manteve então a classificação no nível de ‘B’ e a perspectiva para a evolução da qualidade da sua dívida permanece ‘estável’, informou o banco em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).
"A agência sublinha a capacidade revelada pela CEMG em reestruturar activamente o seu perfil de negócio, melhorar os níveis de eficiência e a capacidade de geração endógena de capital", diz o documento.
E isto "não obstante a difícil conjuntura económica portuguesa e o persistente baixo nível das taxas de juro na Europa, que tem condicionado a actividade bancária em geral", refere ainda o comunicado do banco liderado por Félix Morgado em que dá conta da decisão da Fitch.
Mas, apesar das melhorias, a agência aponta fraquezas: o actual rating reflecte a fraca capitalização do banco e almofadas pequenas face aos requisitos mínimos de capital regulatório, o que compara desfavoravelmente com os seus pares internacionais.
CGD: pressão sobre a liquidez
No que diz respeito à CGD, a Fitch justifica o actual rating pela "fraca qualidade dos activos" do banco em comparação com o panorama internacional – dado o duro ambiente operacional em Portugal – e pela débil rentabilidade "core". Juntos, estes dois factores "pressionam a sua capitalização".
Além do mais, a classificação de ‘BB-’ dada à Caixa tem também em consideração o aumento de capital em 2,5 mil milhões de euros agendado para o final de Março, que a agência considera que ajudará a reforçar as almofadas de capital da entidade liderada por Paulo Macedo, "que foram bastante penalizadas por fortes encargos com as imparidades do crédito em 2016" – mas advertindo para os encargos de capital decorrentes dos activos tóxicos para os quais não foram constituídas reservas.
Trata-se, pois, de uma posição cautelosa e não tão optimista quanto a do Ministério das Finanças. No passado dia 10 de Março, em reacção à decisão da Comissão Europeia de aprovar definitivamente o plano de recapitalização da Caixa – ao considerar que a injecção de 3,9 mil milhões de euros respeita as regras europeias –, o ministério tutelado por Mário Centeno mostrou-se optimista quanto à situação da Caixa Geral de Depósitos assim que a sua recapitalização esteja concluída. No seu entender, após o aumento de capital, a CGD fica "em condições sólidas".
A Fitch chama ainda a atenção, no seu relatório, para o facto de a CGD estar exposta ao risco de avaliação da sua carteira de imóveis penhorados e ao risco da reestruturação corporativa dos seus fundos.
BCP: provisões para o malparado melhoraram mas continuam baixas
Sobre o BCP, a agência norte-americana sublinha que a classificação atribuída à sua dívida reflecte também a fraca qualidade dos activos, "que pressiona a sua rentabilidade operacional e a geração de capital interno, bem como a sua capitalização".
O Millennium bcp "fez progressos na redução do seu largo volume de crédito malparado", mas estes activos tóxicos representavam, ainda assim, 18% dos empréstimos do banco no final de 2016, sublinha a Fitch, considerando que esta percentagem "compara desfavoravelmente com muitos dos seus pares".
"As provisões para o malparado também melhoraram, mas continuaram baixas, em cerca de 40% no final de 2016", diz o relatório da agência, que considera que este facto resultou numa "elevada dependência de valorização dos colaterais".
BPI: CaixaBank ajuda, mas liquidez ainda só é "aceitável"
Relativamente ao BPI, a Fitch frisa que o rating atribuído reflecte uma elevada probabilidade de apoio por parte dos catalães do CaixaBank, "em caso de necessidade".
Recorde-se que após a oferta pública de aquisição lançada pelo CaixaBank sobre o BPI, o grupo catalão passou a controlar 84,5%. O actual CEO, Fernando Ulrich, passará a "chairman", substituindo Artur Santos Silva, e na presidência executiva passará a estar o espanhol Pablo Forero a partir de 26 de Abril. E o facto de haver uma nova gestão obriga à alteração dos estatutos do banco.
Na sequência da OPA, a liquidez do BPI seria diminuta – já que o "free float" ficou reduzido a cerca de 7% (além de o CaixaBank ter reforçado para 84,5% no capital banco, a Allianz permanece com 8,43%) –, pelo que a Euronext Lisbon decidiu que o BPI deixaria de negociar na praça lisboeta, o que aconteceu no passado dia 10 de Fevereiro.
"A Fitch está convicta de que Portugal é um mercado estrategicamente importante para o CaixaBank, como ficou demonstrado pelo investimento duradouro no Banco BPI e pela vontade de assumir o controlo do banco", refere a agência no seu relatório.
A agência salienta que o rating do BPI está um nível acima do que é atribuído a Portugal [a dívida soberana de longo prazo está a apenas um nível de sair do "lixo" junto das três principais agências: Fitch, Moody’s e S&P]. Por essa razão, "tem um outlook estável".
O rating de viabilidade do BPI, diz ainda a Fitch, reflecte a qualidade "mais forte" dos seus activos e o seu melhor perfil de financiamento face aos pares nacionais, mas reflecte também uma capitalização "aceitável" e uma fraca capacidade de geração de lucros.
Quanto ao malparado, era de 8,2% no final de Junho de 2016 e a agência crê que se terá mantido amplamente estável no final do ano. "O rácio do crédito malparado do Banco BPI compara bem com os seus pares nacionais, mas é ainda elevado face aos pares internacionais", destaca o relatório.
(notícia actualizada pela última vez às 02:43 de sexta-feira, 17 de Março)