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Brexit oferece lucros para quem ignora riscos da dívida europeia

Afinal, o Brexit está a ser um mal que veio para o bem de alguns dos mercados de obrigações europeus que à partida estariam entre as suas principais vítimas.

Reuters
25 de Agosto de 2016 às 15:43
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A decisão do Reino Unido de sair da União Europeia (UE) provocou um efeito colateral algo inesperado, pelo menos por enquanto: como os investidores esperam que o Banco Central Europeu (BCE) aumente os estímulos a fim de proteger a região de qualquer sequela económica, a dívida soberana dos países mais endividados registaram os maiores ganhos na Zona Euro.

 

"As pessoas falavam sobre a possibilidade de um efeito dominó na Zona Euro caso o Reino Unido decidisse sair da UE". Mas "adoptámos a perspectiva oposta. A Zona Euro era mais resiliente a qualquer choque do Brexit do que se possa imaginar por causa da política do BCE", revela Cosimo Marasciulo, responsável da Pioneer Investment Management, que gere mais de 240 mil milhões de dólares em activos e que comprou dívida dos países periféricos depois do referendo.

 

Embora os juros tenham dado um salto após o referendo de 23 de Junho, essa tendência inverteu-se logo depois e os juros das obrigações espanholas chegaram mesmo a registar mínimos históricos em Agosto, isto numa altura em que o país continua a tentar, sem êxito, formar um governo. A Itália, que enfrenta uma crise bancária e terá um referendo igualmente renhido em Outubro, também registou melhorias.

 

Os títulos soberanos de Espanha deram um retorno de 3,7% desde o referendo que conduziu ao Brexit, o melhor desempenho entre os principais mercados da Zona Euro. A dívida italiana rendeu 2,2% e os títulos de referência alemães avançaram 1,9%. Até os títulos da Irlanda, a economia da Zona Euro que está mais exposta ao Reino Unido, avançaram 2,2%.

 

Escudo do BCE

O Brexit é apenas o mais recente risco político para a Zona Euro, que se junta a eleições inconclusivas em Espanha, aos problemas crónicos da Grécia em torno da sua dívida, mas, no fim das contas, deixou os títulos soberanos ilesos, porque o BCE anula qualquer turbulência possível. Embora o conselho de governadores não tenha decidido qualquer alteração de política na última reunião realizada em Julho, o presidente da instituição, Mario Draghi, enfatizou "a preparação, a disposição e a capacidade" de entrar em acção se for necessário.

 

A crescente escassez de títulos aptos para as compras da autoridade monetária também ajudou a alimentar a expectativa de que o BCE possa rever as regras do programa de "quantitative easing". Possíveis alterações provavelmente favorecerão os títulos de maior rendimento da região, de acordo com analistas.

 

"Este é simplesmente um caso que resulta da acção da política monetária", atesta Anthony Doyle, director de investimento da M&G Group em Londres. "O BCE influiu muito nos mercados de títulos soberanos com o programa de compra de activos e provavelmente vai expandi-lo em Setembro".

 

Vários anos de baixas taxas de juros e de bancos centrais a comprar títulos em todo o mundo esmagaram os rendimentos e os investidores foram levados a procurar maiores retornos em mercados de maior risco. O diferencial de rendimento entre os títulos soberanos espanhóis com vencimento em 10 anos e os títulos alemães caiu para menos de 100 pontos base, ou 1 ponto percentual, a 18 de Agosto, um patamar não visto desde Dezembro.

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