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Apple tem mais dívida de empresas do que os maiores fundos obrigacionistas
Se a Apple fosse um fundo obrigacionista, a tecnológica norte-americana eclipsaria a concorrência.
A fabricante do iPhone tem 148 mil milhões de dólares (135,5 mil milhões de euros) – dos seus 257 mil milhões de dólares de dinheiro em caixa – investidos em dívida corporativa, segundo um facto relevante da empresa divulgado na quarta-feira, 3 de Maio, junto da SEC norte-americana [Securities and Exchange Commission, equivalente à CMVM em Portugal].
Isso é o suficiente para comprar todos os activos do maior fundo mundial de investimento em obrigações, o Vanguard Total Bond Market Index Fund, que gere cerca de 145 mil milhões de dólares em activos, incluindo dívida de empresas, governos e hipotecas.
Tal como muitas outras empresas da área tecnológica, a Apple tem resistido a transferir para os EUA o dinheiro que ganha fora do território norte-americano, isto para evitar os impostos sobre os rendimentos das empresas. Em vez disso, a empresa com sede em Cupertino, Califórnia, investe em títulos corporativos e outros activos, como fundos do mercado monetário e títulos do Tesouro americano.
Com mais de 90% do seu orçamento no estrangeiro, a companhia norte-americana emite regularmente papéis próprios para ajudar a financiar programas como recompras de acções e gastos de capital.
Esta quinta-feira, 4 de Maio, a Apple sublinhou que venderá dívida até 7 mil milhões de dólares e que usará as receitas para sustentar um dividendo de 63 cêntimos de dólar e uma expansão do programa de recompra de acções.
A Apple e outras empresas com dinheiro disponível para investir tem estado assim a resistir, na expectativa de qie em breve possam repatriar o dinheiro com um imposto mais baixo. O plano fiscal do presidente dos EUA, Donald Trump, inclui uma provisão para repatriação, mas não especifica uma taxa. Trump propôs um imposto de 10% na campanha eleitoral, e o secretário do Tesouro, Steve Mnuchin, disse que a taxa seria "muito competitiva".
Os activos da Apple, administrados pela sua unidade Braeburn Capital em Reno, Nevada, EUA, podem ser suficientemente avultados para fazerem movimentar mercados se a empresa proceder a quaisquer grandes mudanças nas alocações. A Apple normalmente prefere títulos de dívida mais seguros, com vencimentos curtos, de emitentes financeiros e outras empresas com "ratings" elevados.
Preparar-se para a repatriação pode significar que companhias com bastante dinheiro disponível queiram ter uma maior parte dos seus fundos em valores mais líquidos, como títulos do Tesouro americano, disse Benjamin Campbell, CEO da Capital Advisors Group, que assessora empresas em matéria de gestão de caixa e riscos.
"As empresas estão a analisar a questão da repatriação e algumas estão a preparar-se para isso", disse Campbell. "Eu acho que os títulos do Tesouro americano acabarão por absorver parte da oferta", considerou.
Depois da dívida corporativa, os maiores activos da Apple são 53 mil milhões de dólares alocados em títulos do Tesouro americano e 21 mil milhões de dólares em hipotecas e títulos com garantia de activos.
Os executivos da Apple mostraram-se reservados em relação ao que farão se a repatriação acontecer. "Para nós é muito difícil especular", comentou o director financeiro da Apple, Luca Maestri, em entrevista na terça-feira. "Gostaríamos de reavaliar o que fizemos se e quando isso acontecer", acrescentou.