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Procura mundial por petróleo atinge recorde e abre caminho a subida de preços
No relatório mensal sobre o mercado petrolífero, a Agência Internacional de Energia aponta, no entanto, que crescimento da procura deve abrandar no próximo ano designadamente devido aos efeitos da transição energética, como adoção de veículos elétricos
A procura global por petróleo disparou para novos máximos à boleia de um consumo robusto designadamente na China, ameaçando elevar ainda mais os preços do "ouro negro".
O alerta foi deixado pela Agência Internacional de Energia (AIE) que publica, esta sexta-feira, o relatório mensal do mercado do petróleo, em que dá conta de que o consumo atingiu pela primeira vez uma média de 103 milhões de barris por dia em junho e pode disparar para valores ainda mais elevados em agosto.
"A procura por petróleo está a atingir níveis recorde, impulsionada por um forte desempenho das viagens de avião no verão, pelo crescente uso na geração de energia e pela cada vez maior atividade petroquímica da China", diz a organização com sede em Paris.
Como resultado, explica, "os 'stocks' de crude e produtos sucedâneos caíram acentuadamente" e "os saldos devem encolher ainda mais no outono".
A redução da oferta no mercado, penalizada pela retoma pós pandemia e pelas restrições anunciadas pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP, liderada pela Arábia Saudita) tem levado já a uma alta nos preços, tendo o Brent, de referência para a Europa, negociado na quinta-feira acima dos 88 dólares, atingindo assim máximos de janeiro.
A queda na procura mundial de petróleo durante a crise do covid-19 há três anos alimentou especulação de que o consumo poderia estar perto do pico, já que o trabalho remoto ganhou popularidade e os governos procuraram afastar-se dos combustíveis fósseis para evitar mudanças climáticas catastróficas.
No entanto, os dados da AIE mostram que apesar das crescentes evidências de um aquecimento global, patentes nas ondas de calor deste verão no hemisfério norte, o consumo de petróleo está mais forte do que nunca. A China representa 70% do crescimento da procura este ano e, como nota a Bloomberg, surpreendentemente, as nações mais desenvolvidas também se juntaram à mais recente escalada.
A transição energética parece, porém, que terá impacto no próximo ano, altura em que o crescimento da procura global deve baixar para metade, para 1 milhão de barris por dia devido à melhoria da eficiência dos veículos e à adoção de carros elétricos, antecipa a AIE.
Não obstante, por enquanto, os mercados mundiais estão sob pressão, com os "stocks" de petróleo nos países desenvolvidos estimados na ordem dos 115 milhões de barris, ou seja, abaixo da média dos últimos cinco anos.
Segundo o mesmo relatório, na segunda metade do ano, os depósitos globais devem perder 1,7 milhões de barris por dia, com os dados preliminares a aparentemente confirmarem declínios em julho e em agosto.
Os maiores consumidores de petróleo têm criticado a Arábia Saudita e os seus parceiros na OPEP+ por restringirem o fornecimento, alertando que um novo pico inflacionista irá afetar os consumidores e colocar em risco a recuperação económica mundial. Mesmo assim, Riade afirmou que iria elevar os cortes se necessário.
"Se as atuais metas do bloco se mantiverem, os inventários de petróleo podem cair significativamente", advertiu a AIE, havendo "o risco de conduzir os preços a valores ainda mais elevados".