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Petróleo em maus lençóis. Continua a cair com perspetiva de OPEP+ colocar mais crude no mercado

A organização de produtores e os seus aliados anunciaram que começará a abrir as torneiras a partir de outubro no que diz respeito ao acordo dos cortes voluntários. E embora tenha dito que isso só acontecerá se as condições de mercado o permitirem, os investidores estão a reagir com ceticismo. Entenda como estão distribuídos os atuais três "acordos" de corte da oferta.

Reuters
04 de Junho de 2024 às 17:55
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Os preços do "ouro negro" prosseguem em baixa nos principais mercados internacionais, devido ao ceticismo em torno da decisão dos membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados (o chamado grupo OPEP+) no passado domingo, 2 de junho.

 

A OPEP+ anunciou uma manutenção dos cortes de oferta, mas disse também que a partir do quarto trimestre deste ano poderia começar a colocar gradualmente mais crude no mercado - isto no que diz respeito a um dos acordos de corte voluntário da oferta. Atendendo a que a procura tem dado sinais de alguma debilidade, o mercado está a reagir com ceticismo, mas o cartel e seus aliados deixaram também o "recado" de que só começariam a abrir as torneiras se as condições de mercado assim o permitissem.

 

O West Texas Intermediate (WTI), "benchmark" para os Estados Unidos, segue a ceder 1,75% para 72,92 dólares por barril.

 

Por seu lado, o Brent do Mar do Norte, crude negociado em Londres e referência para as importações europeias, desce 1,67% para 77,05 dólares, em mínimos de quatro meses.

 

Apesar de a procura estar um pouco mais fraca, não é esse o cenário previsto pelo UBS. "Atendendo a que esperamos que o crescimento da oferta de petróleo fique aquém do crescimento da procura, é provável que o maior recurso aos inventários de crude acabem por sustentar os preços", sublinha Giovanni Staunovo, analista de matérias-primas do banco suíço, numa análise a que o Negócios teve acesso.

 

No entanto, não será para já. Desde sexta-feira, os preços do petróleo já recuaram em torno dos cinco dólares. Mas a decisão da OPEP+ não é o único fator a ter em conta nesta desvalorização. "Embora haja quem culpe a OPEP+ pela queda, nós consideramos que outros fatores tiveram o seu papel, como o mercado de opções", refere Staunovo.

 

Para o analista, os preços poderão manter-se voláteis no curto prazo, mas o recurso aos stocks deverá acabar por impulsionar as cotações da matéria-prima. O UBS espera, assim, que o Brent suba para 91 dólares por barril nos próximos meses. "À medida que continuarmos a ver o mercado petrolífero com défice de oferta face à procura, antecipamos que o Brent vá valorizando", diz o estratega do banco suíço.

 

O que decidiu a OPEP+?

 

A OPEP+, que reúne 22 países, tem vindo há já alguns anos a proceder à retirada de crude do mercado para conseguir sustentar os preços – uma decisão que nem sempre tem gerado consenso entre os seus membros, já que alguns exigem poder aumentar a sua produção para obterem mais receitas. O seu atual tecto de produção conjunta está fixado em 39,72 milhões de barris por dia, o que corresponde a cerca de 40% da produção mundial de crude.

 

Para se perceber melhor o que está atualmente definido, importa dividir em três partes.

No domingo, o cartel e os seus aliados (onde se destaca a Rússia) anunciaram a manutenção do corte conjunto da oferta na ordem dos 3,66 milhões de barris/dia até ao final de 2025. Este volume de redução foi definido em 2022 e 2023 na tentativa de travar a menor procura (também decorrente da pandemia e da invasão da Ucrânia – que reforçou as pressões inflacionistas e levou os bancos centrais a subirem os juros diretores), tendo sido decidido no ano passado que iria vigorar também ao longo deste ano. E agora vai até ao final de 2025.

 

Mas há mais. Em novembro passado foi anunciado um corte adicional e voluntário de 2,2 milhões de barris por dia por parte de oito membros da OPEP+. Era suposto ser muito temporário e terminar neste mês de junho, mas foi agora decidido que irá vigorar até setembro deste ano, para depois começar a ser gradualmente abandonado a partir de outubro, numa base mensal, até setembro de 2025.

 

Estes dois cortes de oferta ascendem aos 5,86 milhões de barris por dia que têm sido amplamente referidos, correspondendo a uma redução total de 5,7% da procura mundial. Contudo, há ainda outro: em abril de 2023 foi anunciado (pelos mesmos oito países) mais um corte voluntário, de 1,65 milhões de barris por dia, que deveria vigorar até ao final deste ano – mas no domingo foi anunciado que se estenderá também até ao fim de 2025.

 

Os oito países que estão a levar a cabo estes cortes voluntários – a que se juntam as reduções que todos eles aceitaram no âmbito do acordo geral da OPEP+ – são a Arábia Saudita, Rússia, Iraque, Emirados Árabes Unidos, Koweit, Cazaquistão, Argélia e Omã.

 

Apesar de o volume total de retirada de crude ser considerável, o facto de dois destes acordos serem voluntários não traz grande confiança ao mercado – já que a qualquer momento os países podem decidir voltar a produzir mais.

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