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Petróleo em maus lençóis. Continua a cair com perspetiva de OPEP+ colocar mais crude no mercado
A organização de produtores e os seus aliados anunciaram que começará a abrir as torneiras a partir de outubro no que diz respeito ao acordo dos cortes voluntários. E embora tenha dito que isso só acontecerá se as condições de mercado o permitirem, os investidores estão a reagir com ceticismo. Entenda como estão distribuídos os atuais três "acordos" de corte da oferta.
Os preços do "ouro negro" prosseguem em baixa nos principais mercados internacionais, devido ao ceticismo em torno da decisão dos membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados (o chamado grupo OPEP+) no passado domingo, 2 de junho.
A OPEP+ anunciou uma manutenção dos cortes de oferta, mas disse também que a partir do quarto trimestre deste ano poderia começar a colocar gradualmente mais crude no mercado - isto no que diz respeito a um dos acordos de corte voluntário da oferta. Atendendo a que a procura tem dado sinais de alguma debilidade, o mercado está a reagir com ceticismo, mas o cartel e seus aliados deixaram também o "recado" de que só começariam a abrir as torneiras se as condições de mercado assim o permitissem.
O West Texas Intermediate (WTI), "benchmark" para os Estados Unidos, segue a ceder 1,75% para 72,92 dólares por barril.
Por seu lado, o Brent do Mar do Norte, crude negociado em Londres e referência para as importações europeias, desce 1,67% para 77,05 dólares, em mínimos de quatro meses.
Apesar de a procura estar um pouco mais fraca, não é esse o cenário previsto pelo UBS. "Atendendo a que esperamos que o crescimento da oferta de petróleo fique aquém do crescimento da procura, é provável que o maior recurso aos inventários de crude acabem por sustentar os preços", sublinha Giovanni Staunovo, analista de matérias-primas do banco suíço, numa análise a que o Negócios teve acesso.
No entanto, não será para já. Desde sexta-feira, os preços do petróleo já recuaram em torno dos cinco dólares. Mas a decisão da OPEP+ não é o único fator a ter em conta nesta desvalorização. "Embora haja quem culpe a OPEP+ pela queda, nós consideramos que outros fatores tiveram o seu papel, como o mercado de opções", refere Staunovo.
Para o analista, os preços poderão manter-se voláteis no curto prazo, mas o recurso aos stocks deverá acabar por impulsionar as cotações da matéria-prima. O UBS espera, assim, que o Brent suba para 91 dólares por barril nos próximos meses. "À medida que continuarmos a ver o mercado petrolífero com défice de oferta face à procura, antecipamos que o Brent vá valorizando", diz o estratega do banco suíço.
O que decidiu a OPEP+?
A OPEP+, que reúne 22 países, tem vindo há já alguns anos a proceder à retirada de crude do mercado para conseguir sustentar os preços – uma decisão que nem sempre tem gerado consenso entre os seus membros, já que alguns exigem poder aumentar a sua produção para obterem mais receitas. O seu atual tecto de produção conjunta está fixado em 39,72 milhões de barris por dia, o que corresponde a cerca de 40% da produção mundial de crude.
Para se perceber melhor o que está atualmente definido, importa dividir em três partes.
No domingo, o cartel e os seus aliados (onde se destaca a Rússia) anunciaram a manutenção do corte conjunto da oferta na ordem dos 3,66 milhões de barris/dia até ao final de 2025. Este volume de redução foi definido em 2022 e 2023 na tentativa de travar a menor procura (também decorrente da pandemia e da invasão da Ucrânia – que reforçou as pressões inflacionistas e levou os bancos centrais a subirem os juros diretores), tendo sido decidido no ano passado que iria vigorar também ao longo deste ano. E agora vai até ao final de 2025.
Mas há mais. Em novembro passado foi anunciado um corte adicional e voluntário de 2,2 milhões de barris por dia por parte de oito membros da OPEP+. Era suposto ser muito temporário e terminar neste mês de junho, mas foi agora decidido que irá vigorar até setembro deste ano, para depois começar a ser gradualmente abandonado a partir de outubro, numa base mensal, até setembro de 2025.
Estes dois cortes de oferta ascendem aos 5,86 milhões de barris por dia que têm sido amplamente referidos, correspondendo a uma redução total de 5,7% da procura mundial. Contudo, há ainda outro: em abril de 2023 foi anunciado (pelos mesmos oito países) mais um corte voluntário, de 1,65 milhões de barris por dia, que deveria vigorar até ao final deste ano – mas no domingo foi anunciado que se estenderá também até ao fim de 2025.
Os oito países que estão a levar a cabo estes cortes voluntários – a que se juntam as reduções que todos eles aceitaram no âmbito do acordo geral da OPEP+ – são a Arábia Saudita, Rússia, Iraque, Emirados Árabes Unidos, Koweit, Cazaquistão, Argélia e Omã.
Apesar de o volume total de retirada de crude ser considerável, o facto de dois destes acordos serem voluntários não traz grande confiança ao mercado – já que a qualquer momento os países podem decidir voltar a produzir mais.