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OPEP+ cancela reunião sem acordo à vista. Emirados continuam a bater o pé e Brent dispara para os 77 dólares
A OPEP+ continua a não conseguir acordo para as quotas de produção e prolongamento do pacto de corte da oferta devido aos Emirados Árabes Unidos. Depois de três tentativas, desta vez não se agendou data para nova reunião.
Os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e os seus aliados (o chamado grupo OPEP+, onde se inclui a Rússia) tinham agendada para hoje uma terceira reunião para tentarem chegar a acordo sobre o rumo a dar à sua política de produção. Mas a oposição dos Emirados Árabes Unidos (EAU) levou ao cancelamento da videoconferência.
As reuniões de quinta e sexta-feira terminaram sem entendimento e assim continua. E como todos os acordos da OPEP+ requerem uma aprovação por unanimidade, a reunião de hoje foi cancelada por ainda não haver luz verde à vista. E, atendendo às circunstâncias, não foi agendada data para a próxima reunião.
Guerra de preços? Brent e WTI reagem em alta
Os preços do petróleo, que estavam a negociar em ligeira baixa, inverteram para os ganhos depois do anúncio deste cancelamento, uma vez que surge o espectro e não entrar crude adicional no mercado a partir de agosto.
O West Texas Intermediate (WTI), "benchmark" para os Estados Unidos, para entrega em agosto segue a somar 1,25% para 76,10 dólares por barril.
Já o contrato de agosto do Brent do Mar do Norte, crude negociado em Londres e referência para as importações europeias, avança 1,2% para 77 dólares.
Ambos os crudes estão a negociar em patamares que não se viam desde 2018.
Perante o atual cenário, o consultor financeiro do primeiro-ministro iraquiano, Mazhar Mohammed Saleh, disse – citado pela Iraqi News Agency (INA) – que "na ausência de coordenação e entendimento entre os produtores da OPEP, começará a ganhar forma o início de uma nova guerra de preços".
O que está em cima da mesa
A OPEP+ pretende lançar mais crude no mercado em agosto e prolongar a duração deste acordo de corte da produção – mas os EAU discordam desta extensão do pacto nos atuais moldes.
Depois de colocarem no mercado mais 2,1 milhões de barris por dia nos primeiros sete meses do ano, a proposta que a OPEP+ quer ver avançar aponta para um aumento das exportações em mais dois milhões de barris diários entre agosto e dezembro. Ou seja, 400.000 barris por dia em cada mês – prosseguindo assim o movimento de abertura das suas torneiras, mas de forma gradual.
Além disso, está também em cima da mesa a possibilidade de o acordo de corte da oferta poderá ir além de abril de 2022 – para que não entrem até essa data no mercado os quase seis milhões de barris que os membros da OPEP+ ainda mantêm no subsolo, já que há ainda grandes incertezas, nomeadamente a de uma retoma global desequilibrada e a possibilidade de a variante delta do coronavírus continuar a aumentar o número de infeções.
O que os EAU querem
Só que os Emirados Árabes Unidos não se mostram satisfeitos com a possibilidade de este acordo vigorar até ao final do próximo ano nos moldes em que está definido.
Os EAU dizem que concordam com o nível do aumento da produção mas que só dão luz verde à extensão do acordo até ao fim de 2022 se houver uma revisão da base de referência (baseline) dos cortes – isto é, o nível de produção inicial a partir do qual se calculam as reduções que cabem a cada país.
E porquê? Porque os EAU reclamam que na base de referência dos cortes tem de haver uma atualização da sua atual capacidade de produção. Este membro da OPEP quer que a sua produção de base, usada nos cálculos do corte de oferta, seja de 3,8 milhões de barris por dia e não os 3,168 milhões de barris diários que estão definidos. Se a redução de produção que lhe couber for calculada a partir de uma baseline superior, isso significa que os EAU não terão de proceder a um corte tão pronunciado – e é precisamente isso que desejam.
Os Emirados Árabes Unidos têm planos ambiciosos de aumento da produção e investiram milhares de milhões de dólares no reforço da sua capacidade. Mas o acordo de retirada de crude do mercado que vigora na OPEP+ deixou os EAU com cerca de 30% da sua capacidade de produção parada, explicaram à Reuters fontes familiarizadas com este processo.
Não continuar a aumentar a oferta de crude poderá levar a que os preços da matéria-primas disparem, já que se antevê que a procura continue a subir. E se as cotações do ouro negro prosseguirem a sua escalada, as pressões inflacionistas tão receadas pelos mercados serão ainda mais evidentes.
Na passada sexta-feira, a Casa Branca mostrou-se preocupada com o impacto nos consumidores norte-americanos da subida dos preços do petróleo, mas disse acreditar que a OPEP+ conseguirá alcançar um equilíbrio, fazendo chegar mais crude ao mercado.