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‘Pesadelo’ logístico pode acentuar défice global de café

Com a menor oferta de café nos Estados Unidos e os preços por atacado em alta, o mercado prepara-se para mais problemas com a escassez global de contentores que afeta o comércio de alimentos.

Bloomberg
28 de Março de 2021 às 17:30
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Os stocks de café caíram para o mais baixo nível em seis anos nos EUA. E, apesar da colheita recorde do Brasil, o clima seco no país deve levar a uma grande queda da produção este ano, provocando um défice global nos próximos meses, precisamente quando a procura tende a recuperar.

"Todos estão a sentir o aperto", sublinhou Christian Wolthers, presidente da Wolthers Douque, importadora em Fort Lauderdale, Florida, segundo a qual os custos dos embarques da América Latina mais do que duplicaram devido também à escassez de contentores. "Este obstáculo está a transformar-se num pesadelo dos contentores", acrescentou.

 

Embora as rupturas no fluxo de cargas tenham causado o caos no comércio global de alimentos, os desafios no mercado do café mostram que a inflação destes produtos, já em aceleração, pode ser exacerbada com a reabertura das economias. Por enquanto, as torrefadoras podem recorrer aos stocks em vez de aumentarem os preços, mas, com as reservas em queda e expectativa de uma melhor colheita no Brasil, as restrições devem persistir.

 

O preço dos contratos de futuros do café arábica negociado em Nova Iorque subiu cerca de 24% desde o final de outubro, devido ao impacto do clima na produção brasileira.

 

Em fevereiro, os inventários de grãos verdes não torrados nos EUA caíram 8,3% em relação ao ano anterior, para o mais baixo nível desde 2015, segundo dados do setor divulgados na segunda-feira.

 

Uma diminuição dos stocks significa menos proteção para amortecer a queda da produção brasileira, agravando o aperto da oferta e dando suporte aos preços, segundo os analistas.

 

Este mês, a Marex Spectron reviu em alta a estimativa do défice global de café para 10,7 milhões de sacas em 2021-22, em comparação com a projeção anterior de 8 milhões de sacas, citando a menor produção de arábica do Brasil devido ao impacto do clima adverso na colheita. O Goldman Sachs disse num relatório que se a produção na América Central não melhorar nos próximos anos, o mercado deve entrar num défice estrutural, num contexto de retoma da procura.

 

Nas instalações da Dínamo, uma das maiores operadoras de armazéns de café do Brasil, há muito produto parado à espera de contentores. Na unidade da empresa no município de Machado, em Minas Gerais, os grãos aguardam a chegada de 18 contentores vazios, explicou Luiz Alberto Azevedo Levy Jr., diretor da Dínamo. "Esses contentores provavelmente levarão cerca de 15 dias a mais para chegar aqui devido ao congestionamento no porto", salientou. A situação, que se agravou ainda mais em março, provavelmente reduzirá o volume de café exportado pelo Brasil, disse Levy Jr.

 

"A logística tem sido uma dor de cabeça devido à falta de espaço e de contentores", comentou Marco Figueiredo, operador e sócio da Ally Coffee, na Florida, que comercializa cafés especiais, importando grãos de países como a Colômbia, Guatemala e Brasil. "Estamos a monitorar a situação e a conversar com os clientes, alertando-os para o aumento dos custos".

 

Por enquanto, muitas empresas procuram evitar aumentos de preços enquanto tentam atrair de volta os clientes para os cafés e restaurantes. Há um crescimento constante da procura por café, embora o segmento fora de casa possa levar dois a três anos para regressar aos níveis anteriores à covid, de acordo com David Rennie, responsável pelas marcas de café da Nestlé.

 

Stefano Martin, gestor de vendas e exportação da rede italiana de cafeterias Diemme, referiu que o negócio ainda não sente todo o impacto porque ainda opera com contratos feitos antes dos problemas logísticos. Isso pode mudar à medida que esses contratos forem renovados, disse. A empresa tem 26 restaurantes e cafés e, normalmente, importa 30 mil sacas em cerca de 90 contentores do Brasil, Colômbia, El Salvador, Honduras, Tanzânia e Índia.

 

"Ainda não há impacto do nosso lado, pois fechámos todos os contratos antes do aumento dos preços", disse. "Mas, provavelmente no próximo lote de contratos, isso será cobrado".

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