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Operadora compra 36 milhões de dólares em cobre e recebe pedras pintadas

Alega-se que os contentores já selados foram depois abertos durante a noite e o cobre substituído por pedras de pavimentação.

Sinan Borovali/KYB Law Firm
14 de Março de 2021 às 11:00
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A operadora de matérias-primas Mercuria Energy fechou um acordo no verão passado para comprar 36 milhões de dólares em cobre a um fornecedor turco. Mas, quando as cargas começaram a chegar à China, tudo o que encontrou foram contentores cheios de pedras pintadas.

 

A saga desenrola-se como um thriller no reino das organizações criminosas, e a operadora suíça diz que foi vítima de fraude de carga. Antes do início da sua viagem de transporte, de um porto perto de Istambul para a China, cerca de seis mil toneladas de cobre em mais de 300 contentores foram trocadas por pedras de pavimentação pontiagudas, pintadas com spray para que se assemelhassem ao metal semirrefinado.

 

O caso bizarro destaca a vulnerabilidade dos operadores de commodities à fraude, mesmo havendo controlos de segurança e inspeção. Em 2014 e 2015, a Mercuria teve de fazer provisões para cobrir perdas potenciais depois de o metal guardado num armazém no porto chinês de Qingdao ter sido apreendido pelas autoridades no âmbito de uma investigação de fraude.

 

Agora, a polícia turca prendeu 13 pessoas relacionadas com este esquema do cobre falso. A Mercuria, uma das cinco maiores operadoras petrolíferas independentes do mundo, está a procurar ser indemnizada, com processos nos tribunais turcos e um caso de arbitragem no Reino Unido, contra a fornecedora do cobre – a Bietsan. Também entrou com uma ação criminal formal junto dos procuradores e da polícia turca, alegando substituição de carga e fraude de seguro, deixando a cargo das autoridades determinarem quem é o responsável.

 

A Bloomberg tentou contactar a Bietsan, em Tekirdag, mas as chamadas não foram atendidas – pelo que a reportagem da agência noticiosa se baseou em documentos jurídicos, entrevistas e reportagens dos media locais.

 

"Foram detidos alguns suspeitos de estarem envolvidos neste crime organizado contra a Mercuria", referiu a Bietsan em comunicado por escrito, no qual agradeceu ao Departamento de Crimes Financeiros de Istambul.

 

Cobre trocado

 

Em junho passado, a Mercuria acordou a compra de cobre à Bietsan, uma fornecedora turca com a qual já tinha feito outros negócios, de acordo com Sinan Borovali, advogado da operadora na Turquia. Ao que se sabe, o cobre foi inicialmente carregado na primeira remessa de contentores, antes de ser inspecionado por uma empresa que afixou depois nos contentores os selos usados para evitar fraudes. Mas, sob o manto da escuridão, alega-se que os contentores foram abertos e o cobre substituído por pedras de pavimentação, disse em entrevista o escritório de advocacia KYB Borovali, de Istambul. Os burlões alternaram entre selos falsos e reais nos contentores, num esforço para evitarem ser detetados.

 

À medida que os navios saíam do terminal de Marport, no porto de Ambarli, em intervalos de poucos dias, ia acontecendo sempre o mesmo: o cobre era secretamente descarregado à noite e substituído por pedras pintadas. "Foi assim que atuaram", disse Borovali.

 

Com as embarcações no mar, a Mercuria pagou 36 milhões de dólares em cinco parcelas, tendo o último pagamento sido feito a 20 de agosto de 2020, segundo os documentos fornecidos pela trader de commodities a investigadores turcos. A fraude só foi descoberta quando os navios começaram a chegar ao porto chinês de Lianyungang no final daquele mês. Nessa altura, todos os oito navios estavam a caminho da China.

 

Crime organizado

 

"Houve um pedido de investigação criminal, por parte do comprador, contra o vendedor e dois intermediários", informou a polícia turca em comunicado. "Foi determinado que o incidente é resultado de fraude perpetrada de forma organizada".

 

Normalmente, nestes casos de não entrega, uma operadora pode reclamar no âmbito da apólice de seguro da carga. Mas a Mercuria descobriu que apenas um em cada sete contratos usados pela empresa turca para segurar a carga era real. O resto foi forjado.

 

Os 13 suspeitos de fraude foram presos este mês, numa série de raides policiais. Alguns, desde então, foram colocados em prisão domiciliária, de acordo com as agências noticiosas locais. Estão agora agendadas audiências sobre o caso. 

 

(Artigo original: Trader Buys $36 Million of Copper and Gets Painted Rocks Instead)

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