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Colheitas dos EUA apodrecem em plena guerra comercial. A soja é uma das vítimas

Com a guerra comercial entre os EUA e a China, muitos produtos agrícolas norte-americanos foram alvo de tarifas aduaneiras por parte de Pequim. Confrontados com os elevados custos de exportarem para a China ou de pagarem mais caro o armazenamento, há agricultores que optaram por deixar apodrecer os seus cereais e oleaginosas.

Bloomberg
21 de Novembro de 2018 às 19:14
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"Os agricultores norte-americanos que já terminaram as suas colheitas estão a deparar-se com um grande problema: onde colocarem os produtos que não conseguem vender aos chineses". É assim que a Reuters aborda um crescente problema que está a fazer-se sentir nos EUA, à conta da guerra comercial entre Washington e Pequim – uma vez que a China, ao retaliar contra as tarifas acrescidas dos Estados Unidos, respondeu na mesma moeda e taxou adicionalmente dezenas de produtos norte-americanos que entram no país, especialmente os agrícolas.

 

Para o agricultor Richard Fontenot, do Louisiana, bem como para muitos dos seus vizinhos, a solução é dispendiosa: deixar as colheitas apodrecerem. Fontenot lavrou menos de 400 dos seus 690 hectares de terras destinadas ao cultivo de soja, abrindo mão de uma grande quantidade da sua habitual produção desta oleaginosa, sublinha a Reuters.

 

Muitos dos seus grãos de soja deterioraram-se com o mau tempo, mas quando isto acontece é costume conseguir vender a detentores de silos gigantes, normalmente geridos por comerciantes internacionais de cereais, que armazenam esses grãos. Mas este ano esses silos não estão a comprar tantos cereais nem tantas oleaginosas como é costume, já que o escoamento está mais difícil por força das tarifas alfandegárias de um grande comprador, a China.

 

Por todo o território dos EUA, é este o cenário, com muitos agricultores a deixarem as suas colheitas apodrecer ou a amontoá-las à espera de melhores preços no próximo ano – uma vez que os custos de armazenamento também dispararam.

 

Recorde-se que os agricultores norte-americanos cultivaram 36 milhões de hectares de soja este ano – a segunda maior de sempre –, contando que a crescente procura da China lhes desse melhores retornos. Mas Pequim aplicou uma tarifa de 25% à importação de soja dos EUA e as coisas complicaram-se.

 

Estes efeitos já eram esperados e Pequim já tinha advertido para as consequências que estão agora a fazer-se sentir do outro lado do Atlântico. Foi com uma curta animação, protagonizada por um grão de soja, que a China tentou, em Julho passado, chamar a atenção dos agricultores norte-americanos para as consequências da guerra comercial entre Washington e Pequim.

 

"Olá a todos. Eu sou um grão de soja. Posso não parecer grande coisa, mas sou muito importante". Era assim que arrancava a curta animação de 2:36 minutos feita pelos chineses para mostrar aos agricultores dos EUA que uma guerra comercial entre Washington e Pequim também os penalizaria fortemente.

 

"Claro que todos sabem que sou o ingrediente-chave do tofu e do molho de soja. Mas eu e a minha família também podemos ser transformados em óleo de soja, que tempera as vossas comidas favoritas, como bolos, bolachas e pão", prosseguia o vídeo.

 

O vídeo em inglês, com legendagem em chinês, consistia numa tentativa descomplicada de mostrar aos americanos o quanto as tarifas sobre a soja os poderiam prejudicar. É que, neste "dá e leva" da guerra comercial entre as duas potências, muitos bens norte-americanos ficaram também numa posição desfavorável, como é o caso da soja – maior produto de exportação dos Estados Unidos para a China, no valor de 12 mil milhões de dólares no ano passado –, que foi alvo das tarifas chinesas.

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