Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

Valor justo, castigo injusto?

João Pinto e Castro, colunista do Negócios, perguntou, esta semana, no título do artigo que publica regularmente no jornal, "quanto vale uma empresa?" A questão justifica-se. Tem plena actualidade, quando se verifica que

13 de Fevereiro de 2009 às 10:00
  • ...
João Pinto e Castro, colunista do Negócios, perguntou, esta semana, no título do artigo que publica regularmente no jornal, "quanto vale uma empresa?" A questão justifica-se. Tem plena actualidade, quando se verifica que a queda das cotações em bolsa nos meses mais recentes esmagou os valores de mercado das empresas, pressionando-os para níveis que, há pouco tempo, não passariam pela mente do mais pessimista dos analistas.

Para se ter uma ideia mais clara do terramoto que se abateu sobre a capitalização bolsista de empresas outrora orgulhosas das avaliações que os investidores lhes atribuíam, é interessante consultar os preços-alvo de há um ano. A Sonae Indústria surgia no topo da lista de acções com maior potencial de valorização. O "target" médio andava pelos 11,15 euros e, em comparação com uma cotação que se aproximava de cinco euros, a rendibilidade potencial para quem comprasse àquele preço superava cem por cento, marca que, já de si, seria muito atraente.

Os tempos mudaram. Nuns aspectos, mudaram muito. Noutros, nem por isso. Se der uma vista de olhos à tabela que publicamos na página 17 deste "Investidor Privado", poderá constatar que o preço-alvo médio da Sonae Indústria se queda, actualmente, pelos 3,5 euros, soma substancialmente inferior à que o mesmo indicador evidenciava há um ano. E, na passada sexta-feira, os títulos da empresa fecharam a sessão de bolsa a 1,58 euros, um valor que corresponde a menos de metade daquele que, na altura, a procura e a oferta fixavam para as acções da empresa. Ainda assim, quando se procura o potencial de valorização, perspectiva incerta, como a realidade se vai encarregando de demonstrar, detecta-se que a Sonae Indústria já não apresenta o mais elevado entre as principais empresas cotadas em Lisboa. E, no entanto, mantém-se bem acima dos cem por cento.

O confronto destes números dá um retrato expressivo da violência da quebra dos mercados de acções e, também, de como os impactos da recessão que se aproximava a passos largos foram largamente subestimados. Mas revela, igualmente, como é espinhosa e cheia de armadilhas a tarefa de atribuir um valor a uma empresa, ainda para mais quando está sujeita aos humores das bolsas, para além dos riscos e incertezas normais que decorrem da sua actividade.

Se a necessidade de encontrar motivos racionais para desvalorizações efectivas, ou potenciais valorizações, obriga a procurar os motivos por que a empresa não será capaz, afinal, de gerar os lucros futuros que justificaram anteriores cotações e preços-alvo, o "valor justo" a que têm que ser feitos os registos contabilísticos das posições detidas noutras empresas são um nó que está a causar muitos apertos. O caso da Teixeira Duarte é paradigmático. Exposta a participações noutras empresas cotadas em bolsa, como o BCP, viu as suas responsabilidades com o passivo aumentarem ao ponto de colocarem a construtora a oscilar entre a sobrevivência e situação de falência técnica.

O "fair value" tem excelentes argumentos a seu favor. Resulta do funcionamento do mercado e corresponde à ideia tão clara e simples quanto perigosa e, eventualmente, fatal em tempos de desconfiança e volatilidade excepcionais nas bolsas, de que uma empresa vale aquilo que alguém esteja disposto a pagar por ela. A questão está em saber se a degradação dos balanços em resultado da exposição, provavelmente excessiva, a outras empresas cotadas, não será castigo também excessivo para empresas com uma actividade corrente saudável.
Ver comentários
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio