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Neve em Boston

Nos mercados financeiros, não faltam mitos alimentados pela superstição de alguns investidores. Um deles, de validade científica duvidosa mas acarinhado por uma legião de crentes, é o "Boston Snow Indicator".

09 de Janeiro de 2009 às 06:00
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O que postula, então, este "indicador da neve de Boston"? Simplesmente que, quando neva no Natal naquela cidade do nordeste dos Estados Unidos da América, isso significa que, no ano seguinte, a bolsa vai subir. Os defensores do "Boston Snow Indicator" dão o exemplo de 1995. Depois de os cidadãos de Boston terem acordado na manhã de Natal com a cidade coberta por um manto branco, "Wall Street" progrediu mais de 20% no exercício seguinte.

Se acredita na validade deste indicador, anime-se porque 2009 pode vir a ser positivo para as bolsas. Rezam os boletins meteorológicos que, a 25 de Dezembro passado, a cidade celebrou um "white Christmas", depois de ter sido fustigada com um forte nevão. Quando às quedas históricas dos mercados durante o ano passado, fica uma dúvida sobre as suas causas: será que não houve neve em Boston no Natal de 2007?

Com uma primeira sessão do novo ano a encerrar em tons positivos, a bolsa de Nova Iorque parece ter fornecido um sinal de evidência empírica a favor da tese do "indicador da neve de Boston". Mas, quando se tenta prever o futuro a partir dos movimentos de muito curto prazo, convém ter cautela, bom senso e alguma humildade.

Harry Markowitz, o economista que foi Prémio Nobel devido ao seu trabalho sobre o tema do risco e da diversificação nas carteiras de investimento, também é conhecido pelo facto de responder sempre com ironia quando alguém, em busca de uma opinião credível, lhe pergunta por que motivo as bolsas subiram ou desceram em determinado dia concreto. Céptico acerca da validade das análises que buscam motivos para as oscilações dos mercados, incluindo os sobe e desce que se verificam numa mesma sessão, Markowitz responde: "se as bolsas desceram é porque nesse dia a oferta foi superior à procura".

Vinda de um investigador com obra feita e reconhecida, de quem se esperam revelações de embasbacar sobre o futuro dos mercados, a resposta é capaz de deixar desconcertado qualquer interlocutor. E caso a mesma tirada surgisse a partir de alguém com um currículo menos respeitável, mereceria, em troca, um olhar de desdém perante o que seria interpretado como uma prova de ignorância indigente sobre os cordelinhos que, incessantemente, fazem mexer os índices de acções para cima e para baixo.

Depois de um ano tenebroso, os investidores anseiam por sinais de recuperação. Querem entrar no mercado na oportunidade certa ou esperam que as cotações recuperem para conseguirem retirar as suas carteiras da zona vermelha. Nestas alturas, qualquer pequena subida, como aquelas a que se assistiu no primeiro dia de transacções de 2009, pode servir de ignição.

No entanto, para encontrarem um terreno sólido a partir do qual possam iniciar uma recuperação consistente, as bolsas vão necessitar de dois factores: a estabilização e regresso a um funcionamento normal do sistema financeiro e a divulgação de resultados do ano passado, para que se perceba que referências fundamentais serão as mais correctas para avaliar o nível das cotações. Até lá, até o "Boston Snow Indicator" servirá como ferramenta para boas decisões de investimento.

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