Notícia
Invista em firmas que nadam em dinheiro
As empresas de todo o mundo estão a acumular riqueza para apostarem no crescimento dos seus lucros futuros. Para os investidores é uma boa ideia investir nas que mais dinheiro conseguem juntar.
08 de Setembro de 2010 às 12:36
São mais de 10 mil milhões de euros que estão parados nos cofres das maiores firmas portuguesas listadas na bolsa. Os gestores das empresas que compõem o PSI-20, o principal índice bolsista nacional, estão a acumular dinheiro para, em breve, o porem a trabalhar.
Isto está a acontecer um pouco por todo o mundo, em particular na sede do capitalismo mundial. As companhias norte-americanas que formam o índice Standard & Poor's 500 estão sentadas sobre um bilião de euros. Ao ritmo actual, esse valor é equivalente a seis anos de produção da economia portuguesa. Se se juntarem os 10 mil milhões de euros das 20 cotadas nacionais aos títulos negociáveis nas suas contas, o dinheiro disponível das sociedades portuguesas é equivalente a pouco mais de um trimestre de produção da economia lusitana.
As empresas por todo o mundo aguardam pelo tiro de partida para injectarem os capitais livre em negócios geradores de mais lucros. Quando isso acontecer, as fusões e aquisições deverão disparar. "O aumento das fusões e aquisições ocorre normalmente quando as empresas estão mais confiantes nas perspectivas económicas", explica Luke Stellini, director da gestora de activos britânica Invesco. Para algumas, o tiro de partida já foi disparado.
A Intel irá gastar quase seis mil milhões de euros para absorver a McAfee, a segunda maior firma de "software" de segurança, como antivírus. "Esta aquisição é consistente com a nossa estratégia (…) de oferecer uma excelente experiência em áreas de negócios de forte crescimento, especialmente em torno da mobilidade sem fios", informou Renée James, a directora que responsável pela integração da McAfee na Intel, cujos microprocessadores equipam 80 por cento dos computadores pessoais.
Não é apenas no universo tecnológico que as aquisições se sucedem. A Caterpillar, a maior fabricante de equipamento de construção, pagará cerca de 640 milhões de euros pela Electro-Motive Diesel, especializada em locomotivas. "Esta aquisição representa o último passo no nosso plano estratégico de crescer agressivamente na indústria global dos caminhos-de-ferro", justificou Doug Oberhelman, o presidente executivo da Caterpillar. As corporações "estão a passar de uma mentalidade de sobrevivência para uma mentalidade de crescimento", acrescenta Luke Stellini, da Invesco.
Investir internamente no crescimento
O crescimento que as empresas procuram não tem de passar pela aquisição de outras sociedades. A Google, a terceira companhia de todo o mundo com mais dinheiro em disponibilidades e títulos negociáveis, está a investir no desenvolvimento de "software" para telemóveis, de publicidade gráfica e de um sistema operativo gratuito.
No segundo trimestre do ano, as despesas de investigação e desenvolvimento aumentaram 27 por cento para quase 700 milhões de euros, quando comparado com o mesmo período de 2009. "Temos de continuar a investir no que consideramos serem oportunidades de biliões de dólares", disse Patrick Pichette, director financeiro da Google, à agência Bloomberg.
As despesas de investigação e desenvolvimento cresceram cerca de 10 por cento no último ano, mostra a base de dados da Bloomberg. Porém, nas indústrias mais maduras, há um limite para os gastos em expansão, por isso muitas sociedades preferem devolver algum dinheiro aos accionistas. Os dividendos são o método preferido. A General Electric, que tem perto de 48 mil milhões de euros, embora uma grande parte se deva à unidade de negócio financeiro, decidiu aumentar o seu dividendo trimestral em 20 por cento. Esse aumento representará um esforço adicional de 166 milhões de euros por trimestre do conglomerado, que faz um pouco de tudo, de motores de aviões, a financiamento a particulares, passando pela geração de energia, pela purificação de água e pela estação de televisão NBC.
Embora os dividendos sejam bem-vindos pelos accionistas, muitos não conseguem reinvesti-los. O montante é reduzido ou, se a empresa os retivesse, conseguiria uma rendibilidade superior.
Companhias com cada vez mais dinheiro
Para os investidores, faz sentido adquirirem companhias que tenham muito dinheiro e que os seus bolsos estejam a inchar. Para isso, o Negócios pesquisou entre os títulos mais acessíveis aos aforradores portugueses aqueles emitidos por sociedades em que a maquia em disponibilidades e títulos negociáveis fosse mais elevada em relação ao valor bolsista da empresa.
Assim, garante-se que o investidor está a comprar mais capital disponível por cada euro aplicado. Além disso, como o objectivo é que o bolso esteja a inchar, exigiu-se que as firmas estivessem a gerar muito dinheiro. Por isso, comparou-se os meios libertos do negócio, que mede o dinheiro gerado pelas operações que sobra depois dos gastos de expansão (como a aquisição de equipamento), novamente com o valor bolsista da companhia. Quanto mais elevados forem os meios libertos em relação à capitalização bolsista da empresa, mais euros a empresa está a gerar para os seus cofres por cada unidade monetária investida.
A TomTom, a maior fabricante europeia de equipamento de navegação pessoal, tem sido muito castigada pelos analistas e, sucessivamente, pelos accionistas: as acções caíram mais de 45 por cento nos últimos 12 meses. A companhia holandesa já não cresce como antes. A administração assume que as receitas em 2010 deverão ficar ao mesmo nível de 2009. Contudo, a desvalorização pode tê-la deixado ficar muito barata, segundo as medidas de geração de liquidez. Para começar a TomTom tem o equivalente a dois quintos do seu valor bolsista em caixa. Depois, libertou 27 por cento desse valor no último ano. Se isso continuar, a riqueza continuará a ser empilhada.
Há outras sociedades cotadas que apresentam níveis atractivos de disponibilidades. É o caso da francesa Vinci, a maior construtora do mundo, que lidera o consórcio que venceu o contrato para a construção e operação de um novo aeroporto em Notre-Dame-des-Landes, na França ocidental. Dinheiro não lhe falta: tem o equivalente a um terço da sua capitalização bolsista em disponibilidades.
Empresas de cofre cheio
Estas sociedades têm, pelo menos, o equivalente a um terço do seu valor bolsista em disponibilidades e títulos negociáveis e injectaram mais de um décimo da capitalização bolsista nos cofres no último ano.
Premiar os investidores com a recompra de acções
Isto está a acontecer um pouco por todo o mundo, em particular na sede do capitalismo mundial. As companhias norte-americanas que formam o índice Standard & Poor's 500 estão sentadas sobre um bilião de euros. Ao ritmo actual, esse valor é equivalente a seis anos de produção da economia portuguesa. Se se juntarem os 10 mil milhões de euros das 20 cotadas nacionais aos títulos negociáveis nas suas contas, o dinheiro disponível das sociedades portuguesas é equivalente a pouco mais de um trimestre de produção da economia lusitana.
A Intel irá gastar quase seis mil milhões de euros para absorver a McAfee, a segunda maior firma de "software" de segurança, como antivírus. "Esta aquisição é consistente com a nossa estratégia (…) de oferecer uma excelente experiência em áreas de negócios de forte crescimento, especialmente em torno da mobilidade sem fios", informou Renée James, a directora que responsável pela integração da McAfee na Intel, cujos microprocessadores equipam 80 por cento dos computadores pessoais.
Não é apenas no universo tecnológico que as aquisições se sucedem. A Caterpillar, a maior fabricante de equipamento de construção, pagará cerca de 640 milhões de euros pela Electro-Motive Diesel, especializada em locomotivas. "Esta aquisição representa o último passo no nosso plano estratégico de crescer agressivamente na indústria global dos caminhos-de-ferro", justificou Doug Oberhelman, o presidente executivo da Caterpillar. As corporações "estão a passar de uma mentalidade de sobrevivência para uma mentalidade de crescimento", acrescenta Luke Stellini, da Invesco.
Os gestores das empresas que compõem o PSI 20 estão a acumular dinheiro para, em breve, o porem a trabalhar. |
O crescimento que as empresas procuram não tem de passar pela aquisição de outras sociedades. A Google, a terceira companhia de todo o mundo com mais dinheiro em disponibilidades e títulos negociáveis, está a investir no desenvolvimento de "software" para telemóveis, de publicidade gráfica e de um sistema operativo gratuito.
No segundo trimestre do ano, as despesas de investigação e desenvolvimento aumentaram 27 por cento para quase 700 milhões de euros, quando comparado com o mesmo período de 2009. "Temos de continuar a investir no que consideramos serem oportunidades de biliões de dólares", disse Patrick Pichette, director financeiro da Google, à agência Bloomberg.
As despesas de investigação e desenvolvimento cresceram cerca de 10 por cento no último ano, mostra a base de dados da Bloomberg. Porém, nas indústrias mais maduras, há um limite para os gastos em expansão, por isso muitas sociedades preferem devolver algum dinheiro aos accionistas. Os dividendos são o método preferido. A General Electric, que tem perto de 48 mil milhões de euros, embora uma grande parte se deva à unidade de negócio financeiro, decidiu aumentar o seu dividendo trimestral em 20 por cento. Esse aumento representará um esforço adicional de 166 milhões de euros por trimestre do conglomerado, que faz um pouco de tudo, de motores de aviões, a financiamento a particulares, passando pela geração de energia, pela purificação de água e pela estação de televisão NBC.
Embora os dividendos sejam bem-vindos pelos accionistas, muitos não conseguem reinvesti-los. O montante é reduzido ou, se a empresa os retivesse, conseguiria uma rendibilidade superior.
Companhias com cada vez mais dinheiro
Para os investidores, faz sentido adquirirem companhias que tenham muito dinheiro e que os seus bolsos estejam a inchar. Para isso, o Negócios pesquisou entre os títulos mais acessíveis aos aforradores portugueses aqueles emitidos por sociedades em que a maquia em disponibilidades e títulos negociáveis fosse mais elevada em relação ao valor bolsista da empresa.
Assim, garante-se que o investidor está a comprar mais capital disponível por cada euro aplicado. Além disso, como o objectivo é que o bolso esteja a inchar, exigiu-se que as firmas estivessem a gerar muito dinheiro. Por isso, comparou-se os meios libertos do negócio, que mede o dinheiro gerado pelas operações que sobra depois dos gastos de expansão (como a aquisição de equipamento), novamente com o valor bolsista da companhia. Quanto mais elevados forem os meios libertos em relação à capitalização bolsista da empresa, mais euros a empresa está a gerar para os seus cofres por cada unidade monetária investida.
A TomTom, a maior fabricante europeia de equipamento de navegação pessoal, tem sido muito castigada pelos analistas e, sucessivamente, pelos accionistas: as acções caíram mais de 45 por cento nos últimos 12 meses. A companhia holandesa já não cresce como antes. A administração assume que as receitas em 2010 deverão ficar ao mesmo nível de 2009. Contudo, a desvalorização pode tê-la deixado ficar muito barata, segundo as medidas de geração de liquidez. Para começar a TomTom tem o equivalente a dois quintos do seu valor bolsista em caixa. Depois, libertou 27 por cento desse valor no último ano. Se isso continuar, a riqueza continuará a ser empilhada.
Há outras sociedades cotadas que apresentam níveis atractivos de disponibilidades. É o caso da francesa Vinci, a maior construtora do mundo, que lidera o consórcio que venceu o contrato para a construção e operação de um novo aeroporto em Notre-Dame-des-Landes, na França ocidental. Dinheiro não lhe falta: tem o equivalente a um terço da sua capitalização bolsista em disponibilidades.
Empresas de cofre cheio
Estas sociedades têm, pelo menos, o equivalente a um terço do seu valor bolsista em disponibilidades e títulos negociáveis e injectaram mais de um décimo da capitalização bolsista nos cofres no último ano.
Premiar os investidores com a recompra de acções
A compra de acções próprias é o método de beneficiar os accionistas alternativo aos dividendos.
Quando as firmas têm muito dinheiro disponível, a recompra de acções é uma das soluções possíveis para beneficiar os accionistas. Depois de adquirirem as acções próprias, as empresas podem fazer duas coisas: esperar por uma recuperação do mercado para as vender e efectuar um lucro (sempre bem-vindo para os accionistas) ou cancelá-las contabilisticamente, aumentando o valor que cada accionista tem na empresa. "Há várias motivações para a recompra de acções, como assinalar uma subavaliação, proteger contra uma aquisição, ajustar a estrutura de capital e substituir os dividendos", explicam Min Teng e Toyohiko Hachaya, investigadores do Instituto Tecnológico de Tóquio e da Universidade de Hitotsubashi, respectivamente, num trabalho recente sobre os incentivos à aquisição de acções próprias.
Teoricamente, o impacto das operações de recompra é mais benéfico para os accionistas do que as distribuições de dividendos, porque não envolve tributação. É por isso que os analistas do JPMorgan Cazenove estimam que a Portugal Telecom distribua mil milhões de euros da receita da venda da Vivo entre um dividendo extraordinário e a recompra de acções.
Em 2010, várias empresas portuguesas têm realizado compra de acções próprias. Contudo, Mota-Engil, Corticeira Amorim e Sonaecom são as que acumularam as maiores proporções dos seus capitais sociais. Até agora o maior esforço foi da Sonaecom: gastou quase quatro milhões de euros.
Os especialistas dizem que os administradores sabem melhor do que ninguém quando as acções estão baratas. Quando compram, estão a sinalizar que há um bom desconto
Quando as firmas têm muito dinheiro disponível, a recompra de acções é uma das soluções possíveis para beneficiar os accionistas. Depois de adquirirem as acções próprias, as empresas podem fazer duas coisas: esperar por uma recuperação do mercado para as vender e efectuar um lucro (sempre bem-vindo para os accionistas) ou cancelá-las contabilisticamente, aumentando o valor que cada accionista tem na empresa. "Há várias motivações para a recompra de acções, como assinalar uma subavaliação, proteger contra uma aquisição, ajustar a estrutura de capital e substituir os dividendos", explicam Min Teng e Toyohiko Hachaya, investigadores do Instituto Tecnológico de Tóquio e da Universidade de Hitotsubashi, respectivamente, num trabalho recente sobre os incentivos à aquisição de acções próprias.
Teoricamente, o impacto das operações de recompra é mais benéfico para os accionistas do que as distribuições de dividendos, porque não envolve tributação. É por isso que os analistas do JPMorgan Cazenove estimam que a Portugal Telecom distribua mil milhões de euros da receita da venda da Vivo entre um dividendo extraordinário e a recompra de acções.
Em 2010, várias empresas portuguesas têm realizado compra de acções próprias. Contudo, Mota-Engil, Corticeira Amorim e Sonaecom são as que acumularam as maiores proporções dos seus capitais sociais. Até agora o maior esforço foi da Sonaecom: gastou quase quatro milhões de euros.
Os especialistas dizem que os administradores sabem melhor do que ninguém quando as acções estão baratas. Quando compram, estão a sinalizar que há um bom desconto