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Bolsa russa joga trunfo petrolífero

Enquanto a maioria dos índices accionistas do mundo se esforçou para chegar a um avanço positivo no último ano - e, em alguns casos, em vão -, o RTS, que acompanha o movimento das acções russas mais populares, trepou mais de 50%. Os investidores de...

26 de Maio de 2010 às 09:30
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A riqueza do ouro negro está a chegar aos bolsos dos consumidores da Rússia e, por transferência, às empresas cotadas. Já não são só as companhias energéticas que valorizam em Moscovo


Enquanto a maioria dos índices accionistas do mundo se esforçou para chegar a um avanço positivo no último ano - e, em alguns casos, em vão -, o RTS, que acompanha o movimento das acções russas mais populares, trepou mais de 50%. Os investidores de todo o mundo, incluindo Portugal, estão a adquirir participações nas sociedades russas. Nas últimas semanas, o fundo Pictet Russian Equities tem sido um dos mais subscritos pelos clientes do Banco Best e do Banco de Investimento Global.

"O mercado accionista russo regista uma subida que em termos percentuais é significativa, mas que surge após quedas também elas muito expressivas. Neste sentido, os fundos de investimento focados em acções russas têm acompanhado este retorno, tendo o fundo [da Pictet] conseguindo ainda um incremento devido à gestão activa e ao 'know-how' da equipa de gestão", explica Diogo Serras Lopes, director de investimentos do Banco Best. A rendibilidade superior a 100 por cento nos últimos 12 meses (que se traduz numa mais-valia líquida de impostos de 84,79%) é um forte atractivo, mas será que a subida continuará nos próximos tempos? A resposta está na evolução do preço do petróleo.

A Rússia é um dos destinos preferidos da equipa de analistas do banco de investimento Goldman Sachs, que acredita que há "grandes oportunidades de compra" na região. Os especialistas acreditam que o mercado está a ignorar as perspectivas de crescimento russas. O Fundo Monetário Internacional, a organização que policia o sistema financeiro global ao acompanhar as políticas macroeconómicas dos seus países-membros, estima que a economia russa tenha um crescimento de 4 por cento acima da inflação de 7 por cento em 2010. Contudo, a estabilidade da economia, a 12.ª maior a nível mundial, só é conseguida graças às reservas de petróleo e gás natural.

"A riqueza petrolífera continuará a ter um papel vital em assegurar a estabilidade económica e a sustentabilidade das finanças públicas", dizem Brenton Goldsworthy e Daria Zakharova, num estudo publicado recentemente pelo FMI. "Em 2008, as exportações de petróleo e gás representaram dois terços de todas as exportações russas, enquanto as receitas do petróleo e do gás somaram um terço das receitas gerais do governo", calculam os economistas.

Actualmente, parte do encaixe fiscal do petróleo é encaminhado para um fundo de segurança social (que garantirá as pensões futuras) e um fundo de reserva usado para estabilizar as receitas governamentais nos anos mais difíceis. Foi esse fundo de reserva que permitiu ao Kremlin ultrapassar a crise financeira de 2008-2009, concluem os investigadores. "Os recursos dos fundos petrolíferos também foram usados para recapitalizar os bancos, para fortalecer o mercado accionista doméstico e para conceder crédito às pequenas e média empresas."

Reservas para várias décadas
Enquanto houver petróleo e gás na Rússia, a economia está protegida. Cerca de 6,3 por cento das reservas petrolíferas mundiais encontram-se na nação. Os 79 mil milhões de barris de petróleo por extrair colocam a Rússia na sétima posição dos países com as reservas mais vastas. Ao ritmo de extracção dos últimos meses, essas reservas russas durarão cerca de 22 anos, mostram as estatísticas compiladas anualmente pela petrolífera BP, a referência no sector.

No gás natural, as reservas durarão bastante mais, cerca de 7 décadas. Os 43,3 biliões de metros cúbicos que estão debaixo da terra dentro das fronteiras russas colocam o país na primeira posição das reservas provadas. A Rússia é o maior país do mundo: tem uma área de 17 milhões de quilómetros quadrados, 185 vezes o tamanho de Portugal ou 4 vezes o da União Europeia.

A subida do preço do petróleo, que agora ronda os 80 dólares por barril nas praças de mercadorias, conduz o movimento das acções russas. O primeiro efeito resulta do facto de cerca de um terço do valor do mercado da bolsa da Rússia estar relacionado com o sector energético. A Gazprom, a maior empresa do país e a maior extractora de gás natural do mundo, e as petrolíferas Lukoil e Rosneft valem 190 mil milhões de euros, mais do que todas as firmas cotadas na bolsa de Lisboa. Contudo, o segundo efeito, indirecto, pode ser mais poderoso: o petróleo está a transferir dinheiro para o povo da Rússia.

"[As empresas de] consumo russas continuam a ter um desempenho superior em resultado de um rublo mais forte e da expectativa de que o petróleo mais caro alimentará os bolsos dos russos e trará de volta o consumo", escreveu Odeniyaz Dzhaparov, o gestor do DWS Russia, no seu último relatório mensal. Este fundo, o mais antigo entre os que podem ser adquiridos pelos pequenos investidores nacionais, rendeu 7,13 por cento por ano desde que foi lançado em Abril de 2002.

Apesar da subida do petróleo, verifica-se que não é o sector energético que mais se valorizou nos últimos meses. Aliás, os gestores de fundos que menosprezaram as empresas petrolíferas e gasíferas tiveram os melhores desempenhos no último ano. O JPMorgan Russia e o Pictet Russian Equities, os únicos a renderem mais de 80% no último ano aos investidores portugueses, apresentam menos de 25 por cento do dinheiro aplicado no sector energético. Os principais investimentos de Oleg Biryulyov, que gere o JPMorgan Russia a partir de Moscovo, são as acções da Magnit, uma empresa que gere uma rede de supermercados, e do Sberbank, o maior credor da Rússia. Esse banco é também a maior aposta dos responsáveis pelo Pictet Russian Equities, Peter Jarvis e Hugo Bain, e dos analistas do Goldman Sachs. As acções do Sberbank "fornecem a melhor exposição à recuperação doméstica", lê-se no relatório do Goldman Sachs.

Fundos concentrados
Os fundos cotados que podem ser adquiridos na bolsa, conhecidos também por "exchange-traded funds" ou ETF, não são uma alternativa tranquila aos fundos tradicionais de acções russas. Como seguem cegamente os índices de referência, estes produtos tendem a estar muito concentrados no sector energético. É o caso do Lyxor ETF Russia, que acompanha de perto a composição do índice Dow Jones Rusindex Titans 10, que mede o desempenho de uma dezena de acções de firmas russas cotadas na bolsa de Londres. Como a escolha dos títulos é realizada com base na dimensão das empresas, 74 por cento do valor do índice está indexado a companhias energéticas como a Gazprom, a Lukoil, a Surgutneftegas e a Rosneft.

Além disso, é preciso algum estofo financeiro para os investidores apostarem na Rússia. "Numa óptica de diversificação das carteiras de investimento, e para um investidor com um perfil de risco mais agressivo e conhecimento dos mercados financeiros suficiente para poder investir em mercados accionistas emergentes (menor acesso a informação), os mercados em vias de desenvolvimento, como é o caso da Rússia, podem fazer sentido para explorar o maior retorno esperado deste tipo de investimentos", explica Diogo Serras Lopes, do Banco Best. "Ainda assim, atendendo à conjuntura económica e numa perspectiva de longo prazo, parece-nos que outros países e/ou regiões (...) apresentam oportunidades de investimento mais interessantes", alerta o director de investimento do Banco Best, que exemplifica com o Brasil e o continente africano.





Preparado para algumas acções?

Investir directamente nas bolsas russas não é para todos. A maior parte dos intermediários financeiros não tem acesso aos mercados accionistas de Moscovo. Todavia, os investidores que pretendem adquirir títulos de sociedades da Rússia podem escolher entre um grupo restrito que se encontra cotado fora das fronteiras controladas pelo Kremlin. Actualmente, há 197 empresas listadas em Frankfurt, Londres e nas praças do grupo NYSE Euronext, segundo a JPMorgan. As cinco seguintes são as mais negociadas nas praças mais acessíveis aos portugueses.


Mechel
Bolsa: Nova Iorque
Sector: Aço

A moscovita Mechel opera de forma integrada no sector do aço: produz o carvão que alimenta as fornalhas onde o ferro e o carbono são transformados em aço. A escalada de cerca de 50% do preço do aço nos mercados internacionais ao longo dos últimos 12 meses foi multiplicada nas acções da Mechel. Os títulos listados na bolsa de Nova Iorque valorizaram cerca de 160 por cento no último ano.


Mobile Telesystems
Bolsa: Nova Iorque
Sector: Telecomunicações móveis

Os mais de 90 milhões de clientes de telefonia celular colocam a Mobile Telesystems na primeira posição da lista das operadoras móveis russas. A empresa opera na Rússia, Bielorússia, Ucrânia, Uzbequistão, Turcomenistão e Arménia, uma região com 230 milhões de pessoas. Recentemente, a Mobile Telesystems pediu permissão à autoridade da concorrência para adquirir a Multiregion, um fornecedor de televisão por cabo e de acesso à internet.


Rusal
Bolsa: Paris
Sector: Alumínio

A Rusal é a maior produtora de óxido de alumínio e alumínio. Os 3,9 milhões de toneladas de alumínio produzidos por ano representam um décimo do mercado mundial. Graças à sua expansão, a companhia moscovita tem operações um pouco por todo o mundo, da Rússia à Nigéria, passando pela Guiana e pela Guiné. A firma é controlada pelo multimilionário Oleg Deripaska, a 57.ª pessoa mais rica do mundo, segundo a revista "Forbes".


VimpelCom
Bolsa: Nova Iorque
Sector: Telecomunicações

Trabalhando com a marca Beeline, a VimpelCom actua num gigantesco mercado de 340 milhões de utilizadores de telecomunicações. Além dos mercados da Rússia, Cazaquistão, Ucrânia, Uzbequistão, Arménia, Tajiquistão e Geórgia, a companhia já está presente no Vietname e no Cambodja. Os últimos resultados foram abaixo do esperado pelos analistas devido à dívida denominada em dólares, explicou o director-geral, Alexander Torbakhov.


Wimm-Bill-Dann Foods
Bolsa: Nova Iorque
Sector: Bebidas

O dinheiro do ouro negro que chega progressivamente às famílias russas irá aumentar o gasto de consumo, logo investir numa empresa como a Wimm-Bill-Dann Foods, a líder russa no mercado dos lacticínios, pode ser uma boa ideia, dizem os analistas. Além de produzir leite, iogurte, manteiga, queijo e kefir, a WBD também comercializa sumos, água e alimentos para bebés, crianças e grávidas.





Fundos cheios de combustível

Os fundos de acções russas disponíveis aos pequenos investidores conseguiram bater o desempenho dos índices bolsistas ao longo do último ano.






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