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Reunião do BCE marcou o adeus ao “forward guidance”

O “forward guidance” é o termo utilizado quando um banco central dá indicações sobre a orientação futura da política monetária, comunicando as suas intenções em termos de política monetária.

23 de Julho de 2022 às 10:33
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A política monetária do BCE entrou numa nova fase com a subida em 50 pontos base das taxas de juro, ao invés dos 25 pontos anteriormente indicados, com os analistas a salientarem o "adeus" ao "forward guidance" da instituição.

 

O "forward guidance" é o termo utilizado quando um banco central dá indicações sobre a orientação futura da política monetária, comunicando as suas intenções em termos de política monetária.

 

"Por outro lado, com este aumento de 50 pontos base contra os 25 pontos base anunciados anteriormente, esta reunião marca o fim do "forward guidance". Isto não é mau. Amarrar as mãos num ambiente tão instável não fazia sentido", disse Franck Dixmier, diretor global de investimentos em Obrigações da Allianz Global Investors (AllianzGI), numa nota de 'research'.

 

O analista considera que "o BCE não teve escolha a não ser tomar medidas enérgicas", perante o aumento da inflação e a queda do euro face ao dólar, uma vez que estava "muito desfasado", pelo que "teve que agir de forma clara e inequívoca".

 

O BCE começou a usar o "forward guidance" em julho de 2013, quando indicou esperar que as taxas de juro continuassem baixas durante um largo período.

 

Desde aí, foi sendo adaptado e utilizado para dar indicações ao mercado sobre a trajetória esperada para as taxas de juro e para as compras de ativos. 

 

A equipa de 'research' do banco BPI também assinala, numa nota, que, "olhando para as próximas reuniões, podem ser esperados mais aumentos nas taxas de juro, embora a dimensão dos aumentos seja decidida reunião a reunião com base na evolução dos dados económicos e sem uma 'forward guidance'".

 

Para os economistas da instituição portuguesa, "é provável que o BCE decida fazer subidas de taxas semelhantes" às de quinta-feira na reunião de setembro e outubro.

 

"Deste modo, o BCE poderá ganhar alguma margem de manobra caso os riscos sobre o cenário acabem por se materializar e seja necessário relaxar a política monetária no médio prazo", justificam.

 

Para Carsten Brzeski, diretor de macroeconomia do banco ING, a reunião desta quinta-feira marcou "o fim definitivo" do 'forward guidance' do BCE.

 

"No final do ano passado, a presidente do BCE, Christine Lagarde, já deu a própria orientação pessoal de que não esperava aumentos das taxas em 2022. O 'forward guidance' decidido na reunião de junho era tão desnecessário quanto errado", escreveu numa nota de 'research'.

 

O economista defende que tal revela que em tempos de alta incerteza, o 'forward guidance' já não é uma ferramenta que qualquer banco central deveria usar.

 

"Com isso em mente, sejamos muito cautelosos ao fazer quaisquer previsões sobre o que o BCE fará além de setembro" com base na comunicação desta quinta-feira, acrescenta.

 

Um estudo da Allianz Trade, acionista da COSEC -- Companhia de seguro de créditos, destaca que a crescente aversão ao risco dos bancos faz com que o crescimento do crédito diminua", pelo que acredita que "condições de crédito fortemente restritivas podem influenciar o Conselho do BCE a adotar em breve um ritmo mais gradual de normalização de políticas face a riscos crescentes de recessão".

 

O BCE decidiu esta quinta-feira aumentar em 50 pontos base as suas três taxas de juro diretoras, a primeira subida em 11 anos, com o objetivo de travar a inflação.

 

A taxa de juro das principais operações de refinanciamento passa de 0% para 0,50%, a taxa aplicável à facilidade permanente de cedência de liquidez fica agora em 0,75% e a taxa de depósito que estava em terreno negativo (-0,50%) sobe para 0%. Esta subida terá efeitos a partir de 27 de julho.

 

"O Conselho do BCE considerou apropriado dar um primeiro passo maior, na sua trajetória de normalização das taxas de juro diretoras, do que o sinalizado na reunião anterior", refere em comunicado o banco central, que optou por uma subida de 50 pontos base em vez dos 25 pontos base indicados inicialmente.

 

A instituição liderada por Christine Lagarde indicou que nas próximas reuniões continuará a subir as taxas de juro.

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