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"Investidores em ouro têm oportunidades muito atractivas em 2009"

Ronald-Peter Stöferle, analista do Erste Bank AG/Austria, afirma que o ouro é um bom investimento. E aconselha à compra de ouro físico, bem como de títulos auríferos e outros instrumentos. O metal amarelo é muito importante para uma carteira diversificada. E é essa a melhor forma de se acautelar em tempos de crise. O metal continua a brilhar.

27 de Fevereiro de 2009 às 12:40
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Ronald-Peter Stöferle, analista do Erste Bank AG/Austria, afirma que o ouro é um bom investimento. E aconselha à compra de ouro físico, bem como de títulos auríferos e outros instrumentos. O metal amarelo é muito importante para uma carteira diversificada. E é essa a melhor forma de se acautelar em tempos de crise. O metal continua a brilhar.

Muitos analistas prevêem um aumento dos preços do ouro. Mas se subirem muito, isso pode ser um sinal de que será melhor não apostar no longo prazo? Por outras palavras, o potencial de alta é apenas para o curto prazo? Se assim for, poderá ser perigoso ter posições longas no ouro?

Continuo a ver um panorama muito “soalheiro” para toda a indústria. Deixe-me dar-lhe alguns exemplos. De momento, está muito dinheiro investido no sector. O maior ETF – Spider Gold Trust – está a adicionar cerca de 35 toneladas de ouro por dia (a produção anual de ouro é de cerca de 2.500 toneladas). A procura provém essencialmente de investidores institucionais, como fundos de pensões.

Um outro facto importante é que todo o sector é bastante pequeno. Apenas 0,2% de todos os activos financeiros estão investidos em ouro. Assim, penso que mesmo uma pequena transição desta alocação fará subir o preço do ouro para novos patamares surpreendentes de preços.

No mês passado, o preço de uma onça de ouro ultrapassou o índice S&P 500 pela primeira vez em 18 anos. Depois da última inflexão deste tipo, que ocorreu em 1973, o ouro ganhou mais de 600%. Sem um quadro claro de quando é que a economia poderá inverter, e com o futuro do ouro a mostrar-se brilhante, esta “mudança das marés” poderá ser o sinal de uma nova era para o ouro.

Há também um défice estrutural na indústria aurífera, aquilo a que chamamos “Peak Gold” (Pico do Ouro), que significa que as reservas facilmente acessíveis que podem ser prospeccionadas estão em larga medida esgotadas, pelo que é preciso perfurar mais fundo (na África do Sul, até 4.000 metros) e tem de se aceitar graus mais baixos na prospecção a céu aberto (0,5 gramas por tonelada!).

O ouro é um recurso muito escasso e limitado e deixe-me que lhe dê um exemplo: se se fundisse num cubo todo o ouro que já foi prospeccionado até hoje, teria uma extensão e largura de apenas 19 metros… e isso não é muito.

Outro importante factor tem a ver com a remonetarização do ouro: o metal amarelo funcionou como moeda nos últimos mil anos e assim continuará a ser nos próximos mil anos. O ouro é uma reserva de valor e protege o nosso poder de compra. Declarações de Ben Bernanke (ex-presidente da Fed norte-americana) como “a Reserva Federal recorrerá a todos os meios para evitar uma deflação catastrófica dos preços e a demasiada desvalorização do dollar. Não há restrição na quantidade de dólares que podem ser emitidos” não inspiram grande confiança nas políticas monetárias.

Na sua perspectiva, quanto poderá o ouro valer este ano? Numa sondagem da Bloomberg, estima um preço médio acima dos 1.500 dólares por onça no próximo ano. Mas o ouro poderá marcar um novo máximo histórico ainda em 2009? E em relação a prazos mais longos?

Penso que os investidores em ouro vão ter uma oportunidade/perfil de risco altamente atractivos em 2009 e nos anos seguintes. O primeiro objectivo é o de superar os 1.200 dólares por onça e, no longo prazo, os preços poderão muito bem ultrapassar o máximo histórico de 2.300 dólares ajustados à inflação. Existe uma excelente frase de John Templeton: “Os mercados ‘bull’ nascem no pessimismo, crescem no cepticismo, amadurecem no optimismo e morrem na euforia”. Acho que acabámos de entrar na fase do optimismo, por isso temos ainda um longo caminho a percorrer neste mercado de tendência ascendente.

Um pequeno investidor que queira fazer aplicações no ouro neste momento, deve procurar que instrumentos? ETF? Warrants? Contratos de futuros? Acções de empresas auríferas? Fundos de investimento? Ou seria mais sensato/seguro comprar ouro físico? E porquê?

Eu compraria ouro físico como “garantia de último recurso”. Recomendaria a compra de barras e de algumas moedas de ouro, como Kruger Rands (África do Sul) ou Philharmoniker (Áustria). Além disso, recomendaria vivamente acções auríferas. É por isso que temos cinco títulos mineiros (Agnico Eagle, Lihir Gold, Zijin Mining, Newcrest Mining e Goldcorp) na nossa lista de recomendações. Os títulos auríferos serão um dos poucos sectores a revelar um crescimento positivo dos retornos e um aumento das margens. É, decididamente, “o lugar onde estar” se você for um investidor que “vai com a corrente”. Em inícios da década de 80, era habitual ter pelo menos 10% de acções de empresas auríferas na nossa carteira e penso que a História se repetirá.

Devido a problemas estruturais no sector das matérias-primas, as tendências de consolidação deverão continuar e serão as empresas de exploração e os produtores de nível intermédio que irão beneficiar mais. Mas, tal como no sector dos metais industriais, o sector do ouro poderá também assistir à fusão de dois pesos-pesados desta indústria. Os alvos mais interessantes são os produtores e exploradores de nível intermédio, que estão perto da produção. A Osisko Mining e a Detour Gold são dois potenciais alvos de compra este ano.

Pode dar-nos um conselho para os pequenos investidores que queiram entrar no mercado do ouro?

A compra de títulos auríferos dar-lhe-á a maior alavancagem sobre o preço do ouro (para cima, mas também para baixo). Penso que poupar parte do seu dinheiro todos os meses para aplicar em ouro é uma boa ideia, pois o ouro é a melhor protecção contra a inflação.O ouro e a evolução da inflação têm uma correlação fortemente positiva. Assim, o investimento em ouro representa uma excelente forma de protegermos o nosso poder de compra.

O ouro tem sido conhecido por constituir uma boa cobertura contra a inflação desde pelo menos a década de 70. Mas mesmo analisando séries temporais mais longas, confirma-se o poder de compra estável do metal precioso. Segundo uma passagem no Velho Testamento, uma onça de ouro dava para comprar 350 pães na época de Nebuchadnezzar, o governador da Babilónia no século VI A.C. E actualmente uma onça ainda compra quase o mesmo cabaz de bens. De acordo com um ditado, uma onça de ouro sempre lhe comprou um bom fato – no século XVIII, nos anos 30 e actualmente. A hiperinflação alemã de 1923 foi provavelmente o exemplo mais extremo do último século.

Em 1871, o Império Alemão declarou o marco-ouro a moeda oficial legal. O sistema foi bem sucedido até 1918, quando a Alemanha deixou de dispor de volume suficiente de marcos-ouro para honrar os pagamentos das vastas obras necessárias a seguir à Primeira Guerra Mundial. Foi então introduzido o “fiat money” (dinheiro por decreto, moeda sem valor intrínseco, introduzida pelo governo), não cunhado em ouro, o que resultou na hiperinflação dos anos 20. Essa hiperinflação permitiu comprar rapidamente quarteirões inteiros de casas por 500 gramas de ouro durante a República de Weimar. Se bem que haja o fantasma da hiperinflação num futuro previsível, este exemplo serve para mostrar o estatuto do ouro de preservação de valor e a sua importância como pilar à prova de crise numa estratégica de investimento diversificada.

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