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"As nossas decisões de investimento mostram que estamos próximos do fundo"

Oliver Adler acredita que ainda é hora de ser cauteloso, sobretudo no curto prazo. O responsável pela unidade de gestão de fortunas do suíço UBS diz em entrevista ao Negócios que existem muitas incertezas a pairar sobre os mercados accionistas. Leia aqui a entrevista na integra.

11 de Setembro de 2008 às 13:01
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O responsável pela unidade de gestão de fortunas do suíço UBS diz em entrevista ao Negócios que existem muitas incertezas a pairar sobre os mercados accionistas. Os efeitos da crise vão continuar a sentir-se, sendo de esperar mais perdas na banca. Sobretudo, na Europa.
Ainda assim, o pior da crise poderá estar perto. Oliver Adler acredita que ainda é hora de ser cauteloso, sobretudo no curto prazo.

Os mercados estão a ter perdas como há muito já não se via. Já teremos então atingido o fundo?

A resposta mais honesta é que ninguém realmente sabe. Quem disser o contrário, não está a dizer a verdade. Neste cenário, é apenas possível tentar adivinhar tendências. Posso apenas dizer que as nossas decisões de investimento mostram que estamos próximos do fundo. A questão-chave está no sector financeiro. Ainda haverá mais amortizações e perdas relacionadas com a crise no crédito para serem divulgadas, não só nos Estados Unidos (EUA). O mercado já começou a descontar esta perspectiva. Nesse sentido, pensamos que já estaremos perto do fundo.

O que falta para que os mercados accionistas atinjam o fundo? Mais uma falência de um grande banco, depois do Lehman Brothers (anteontem)?

Prefiro colocar essa questão num outro ponto de vista, do que não deverá acontecer. Há uma enorme incerteza em relação a muitas variáveis económicas que seriam decisivas para uma inversão. Por exemplo, não veremos tão cedo os preços das casas nos EUA a pararem de descer. Não veremos durante algum tempo uma paragem na subida do desemprego, isso só irá acontecer algures no próximo ano. Contudo, os mercados reagem por antecipação.

E quando é que espera que essa antecipação possa acontecer?

Não se pode mesmo dizer quando. A questão prende-se mais com a perspectiva dos investidores. Para quem assumir uma perspectiva de longo prazo, de facto, as avaliações das acções na Europa, por exemplo, estão muito atractivas e valerá a pena investir, sem saber exactamente quando é que os mercados vão começar a recuperar. Há também quem tente temporalizar os acontecimentos, mas neste cenário de grande incerteza é muito difícil. Mesmo nós, no UBS, temos visões distintas. A área institucional tem uma abordagem de investimento de muito longo prazo e está mais optimista para as acções. Já nós, na área de gestão de fortunas, temos de ser mais cuidadosos porque somos mais orientados para o curto prazo e os investidores particulares não reagem da mesma maneira nos períodos conturbados. Até muito recentemente estávamos com uma perspectiva negativa para as acções, agora decidimos voltar a ter uma exposição "neutral".

O que justifica esse maior optimismo?

Primeiro, porque os preços ficaram mais atractivos depois da recente queda das bolsas. De seguida, porque as medidas políticas que temos visto vão começar a ter impacto nos mercados accionistas. Uma das coisas mais importantes na nacionalização da Fannie Mae e Freddie Mac - empresas de refinanciamento de crédito (ver caixa) - passa pelo incentivo que dá para as autoridades de outras regiões actuarem no mesmo sentido, sobretudo na Europa.

Refere-se ao Banco Central Europeu? Acha que não tem dado o apoio necessário para a estabilização dos mercados financeiros?

Não é minha função aconselhar o BCE e dizer o que tem ou não de fazer. Acho que, mais tarde ou mais cedo, terá de mudar a sua política. Ao nível dos juros, é provável que mantenha a taxa de referência estável durante algum tempo, mas depois poderá mudar muito rapidamente. Trichet vai esperar um pouco mais até mexer nos juros. No entanto, há que admitir que o BCE tem vindo a investir no mercado.

Mas não tão activamente como a Fed?

Não. A maior preocupação do BCE tem sido a inflação. Acreditamos que o risco de inflação comece a dissipar-se, por causa desta descida nos preços da energia. Talvez já no início do próximo ano, a taxa de inflação na Zona Euro seja mais baixa e, com o crescimento fraco, talvez seja um sinal para o BCE reagir. Ainda vai levar algum tempo, contudo os mercados vão começar a antecipar esse cenário.

A recuperação dos mercados está, assim, tão dependente da evolução dos preços da energia, nomeadamente do petróleo que voltou a negociar abaixo dos 100 dólares?



Não diria dependente. Mas basta haver um indicador de descida de inflação na Europa, para termos uma reacção muito positiva dos mercados. O preço do petróleo é um dos factores mais importantes para a Europa, embora por vezes a descida seja interpretada como um sinal de abrandamento económico. É aí que nos encontramos, os mercados europeus não estão a reagir de forma positiva à descida dos preços. O mercado está a precisar mesmo de ver uma queda na inflação, que poderá acontecer ainda este ano.

Podemos, então, esperar uma recuperação dos mercados europeus mais para o final do ano?

Os mercados vão reagir positivamente, porque a descida da inflação será um sinal de que o BCE ficará mais confortável para cortar juros. Se não acreditássemos numa recuperação, não teríamos reforçado a nossa exposição às acções. Mas podemos estar errados.


Será o suficiente para contrabalançar as elevadas perdas registas este ano?

Não. Uma das poucas certezas que temos é que este ano é um dos mais negativos para os mercados accionistas na história recente. No entanto, acho que as perdas sofridas até agora pelas bolsas, que estão na ordem dos 25/30%, não são assim tão significativas quando comparadas com a dimensão do tumulto vivido no sistema financeiro.

Mas disse que os bancos vão continuar a divulgar amortizações, e não apenas os americanos ...

Na Europa, o sector financeiro teve até agora muito menos amortizações . Os grandes bancos que têm maior presença nos EUA, como o nosso, já divulgaram amortizações e perdas relacionadas com a crise no mercado de crédito. No entanto, o mesmo ainda não aconteceu em termos de perdas domésticas. Este é um risco, assim como o abrandamento dos resultados das empresas que, na Europa, ainda não tiveram uma quebra significativa.

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