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Nunca a pobreza subiu tanto nos EUA, mas nunca houve tanto dinheiro em Wall Street como em 2020

A pobreza escalou na maior economia do mundo, num ano em que os principais índices de Wall Street passaram boa parte do tempo em níveis recorde.

Em particular nos Estados Unidos da América, as plataformas digitais de negociação em bolsa são muito utilizadas.
02 de Janeiro de 2021 às 17:00
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É uma das imagens de 2020. Em finais de março, quando a pandemia abalou a maior economia do mundo, as filas de norte-americanos para os bancos alimentares nos diferentes estados eram de vários quilómetros, numa cena "nunca antes vista" pelos responsáveis. Nessa altura, os pedidos de subsídio de desemprego nos Estados Unidos chegaram a atingir quase 7 milhões em apenas uma semana. E apesar de uma recuperação, as filas de fome voltaram a engrossar no Dia de Ação de Graças, no fim de novembro. 

Agora que o ano finda, um estudo levado a cabo pela Universidade de Notre Dame concluiu que nunca tinha existido um aumento tão grande do índice de pobreza num só ano, desde que este foi criado, em 1960. Antes, já a Universidade de Chicago havia registado um salto deste índice, de 9,3% em junho para 11,7% em novembro. 

Em contraste, este foi também um ano de excentricidade entre os principais índices de Wall Street, sublinhando a desconexão entre o mundo real e o mundo bolsista. Tudo somado, o S&P 500, o Dow Jones e o Nasdaq Composite registaram máximos históricos em 100 sessões diferentes, de acordo com os dados do Dow Jones Market Data. 

O S&P 500 acumulou uma valorização de mais de 15% neste ano, acima da subida de 5% estimada pelos analistas no final do ano passado, antes de se prever, sequer, a existência de uma pandemia global. E desde os mínimos de 23 de março, o ganho é de 65%. Nos 50 dias que se seguiram a este patamar mínimo, o índice norte-americano valorizou 39,3%, o que representa a maior subida nesse mesmo intervalo de tempo desde 1952.

O interesse pelos investimentos em bolsa ganhava cada vez mais força e o confinamento criou novos investidores, que graças às aplicação de "trading" de fácil acesso, como a RobinHood, conseguiam investir em praticamente todos os ativos disponíveis no mundo, com taxas baixas. Foi também o ano em que ocorreram três das dez maiores entradas em bolsa (IPO) da história dos Estados Unidos, com a Airbnb, a DoorDash e a Snowflake a estrearem-se. 

O ano será marcado pela agilidade com que o S&P 500 oscilou entre "bear market" e "bull market", um fenómeno que se regista sempre que um ativo sobe ou desce 20% desde o último pico mínimo ou máximo. O índice precisou apenas de 20 dias de negociação para tombar para o "território dos ursos" e de 11 dias para se voltar a reerguer. 

Dos três índices de Wall Street, o Dow Jones foi o que conheceu uma subida menos expressiva no ano (6,5%).

Nasdaq brilhou no ano do #stayathome...e dos estímulos recorde
Uma das palavras mais usadas em 2020 foi confinamento. Foi também ela a principal responsável pelo melhor desempenho desde 2009 do Nasdaq Composite, o mais importante índice de tecnologia no país. O movimento "#stayathome" ("fique em casa", na tradução para português) foi partilhado vezes sem conta nas redes sociais, também elas umas das principais vencedoras deste ano. 

Em 2020, o Nasdaq Composite registou um ganho de mais de 42% à boleia de gigantes como a Alphabet, dona da Google, a Microsoft, a Apple, o Facebook e a Netflix. Esta prestação é apenas comparável à subida de 2009 (43%), altura em que o país recuperava da Grande Crise Financeira. Em 2008, o índice tinha perdido 40,5%.

Mas o bom desempenho dos maiores índices de Wall Street teve a mão de Jerome Powell, líder da Reserva Federal dos Estados Unidos (Fed), que deu início a um programa de compra de dívida como nunca antes tinha sido desenhado, com um ritmo de compras mensais de 120 mil milhões de dólares. 

Assim que o barco virou, e Wall Street registou a maior queda diária desde a segunda-feira negra do crash de 19 de outubro de 1987, a Fed disse presente e cortou as taxas de juro para mínimos históricos. Primeiro para o intervalo entre 1% e 1,25%, depois para o intervalo entre os 0% e os 0,25%.

De braço dado com a entrada em cena da política monetária, veio a bazuca orçamental. O senado aprova a 18 de março o pacote de 2 biliões de dólares para ajudar os trabalhadores desempregados e as indústrias mais afetadas pela pandemia. Mas se a primeira resposta surgiu de forma célere, o reforço deste pacote orçamental demorou a vir. Desde abril que estava a ser negociada uma nova ronda de apoios... aprovados apenas este mês pelo presidente cessante Donald Trump, mas que entretanto está preso noutro impasse.

A corrida à vacina e as presidenciais mais concorridas de sempre
O 'dedo que adivinha' dos mercados estava certo. Analisando a prestação do S&P 500 nas semanas que antecederam todas as presidenciais desde que o índice norte-americano existe (1928) verifica-se que quando o presidente incumbente ganha as eleições, a bolsa nova-iorquina valoriza. Quando não ganha, acontece o oposto. E eis que, este ano, nas seis semanas que antecederam as eleições o S&P 500 acumulou uma queda média em torno de 1%.

E à medida que a vitória de Joe Biden se foi reforçando, os ganhos nas bolsas foram ganhando força, com o Dow Jones a viver a melhor sessão pós-eleitoral em mais de um século.

Tendo como protagonista a pandemia, o ano de 2020 focou grande parte das suas atenções na corrida à vacina anti-covid, outro dos fatores que fizeram animar as bolsas. Aconteceu quando a vacina da Pfizer registou uma taxa de sucesso acima dos 90% e voltou a repetir-se, mas com menos intensidade, quando foi a vez da Moderna.

Agora que o plano de vacinação teve início e as perspetivas da recuperação económica melhoraram (a Fed prevê que a economia contraia 2,4% neste ano, o que sugere uma melhoria face à queda de 3,7% prevista anteriormente) os mercados voltaram em força e fecharam um dos anos mais conturbados das últimas décadas em máximos históricos. São onze contra onze e no fim quem ganha é Wall Street. 

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