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Economistas apontam para fim da era de altas taxas de crescimento da China

"O fator mais importante é a população em idade ativa, que depois de ter aumentado rapidamente, está agora a diminuir", sublinham os analistas da Blackrock.

Thomas Peter/Reuters
19 de Outubro de 2022 às 08:44
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A era de acelerado crescimento económico da China está a terminar, preveem analistas, à medida que baixas taxas de produtividade coincidem com o envelhecimento da população e a estratégia de zero caso' de covid-19.

"A China enfrenta um conjunto de desafios sérios que, na nossa opinião, significam a entrada numa fase de crescimento significativamente mais lenta", lê-se num relatório do BlackRock Investment Institute, grupo de reflexão ('think tank') sob alçada da multinacional Blackrock, o maior gestor de ativos do mundo.

O relatório, elaborado pelos economistas Alex Brazier e Serena Jiang, aponta que o foco nos "altos e baixos" da atividade económica da China, suscitados pelas medidas de prevenção epidémica, no âmbito da política de 'zero casos' de covid-19, distrai de outros problemas estruturais que vão pesar "significativamente" no crescimento chinês, ao longo dos próximos anos.

"O fator mais importante é a população em idade ativa, que depois de ter aumentado rapidamente, está agora a diminuir", sublinham os analistas.

"Menos trabalhadores significa que a economia não pode produzir mais sem gerar inflação, a menos que o crescimento da produtividade acelere", nota o relatório.

"No entanto, as restrições internacionais a nível do comércio e tecnologia, e as regulações [internas] mais rígidas sobre [o setor privado] vão prejudicar o crescimento da produtividade", acrescenta o documento.

Um futuro com baixas taxas de crescimento entrou já na narrativa oficial chinesa.

Numa conferência de imprensa realizada no sábado, na véspera do 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC), o porta-voz da organização frisou que o ritmo de crescimento económico do país deixou de ser a "única coisa que importa".

"A velocidade do crescimento é de fato um importante parâmetro de desempenho económico, mas não é o único", apontou Sun Yeli. "Vamos concentrar-nos antes em resolver os problemas de longo prazo na economia", acrescentou.

Desde que ascendeu ao poder, em 2012, o líder chinês, Xi Jinping, devolveu ao PCC o papel de líder político, económico e social da China, priorizando o domínio do Estado, em detrimento do setor privado -- uma reversão da trajetória da China desde que o ex-líder Deng Xiaoping lançou o período de "reforma e abertura", em 1978.

Na leitura do relatório de trabalho que inaugurou o 20º Congresso do Partido, no domingo passado, Xi Jinping mencionou o termo "segurança" por 91 vezes, enquanto "economia" apareceu 60 vezes, sendo pela primeira vez eclipsada pelo primeiro desde que o Partido assumiu o poder, em 1949.

O ênfase em questões de segurança surge numa altura de crescente descontentamento popular, suscitado pelos frequentes confinamentos, no âmbito da política de 'zero casos' de covid-19, e de agudizar das relações com os Estados Unidos e a União Europeia.

Uma pesquisa conjunta do GeoEconomics Center, do Atlantic Council, um 'think tank' com sede em Washington, e da consultora Rhodium Group prevê que a China vai ter dificuldades em manter um crescimento anual acima dos 3% até 2025.

Helge Berger, chefe da missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a China, aponta também num relatório para o "entusiasmo cada vez menor por reformas económicas baseadas no mercado".

"O potencial de crescimento da China pode ser substancialmente menor do que aquilo que estamos habituados", nota.

A análise do FMI estima que o crescimento médio da produtividade foi de apenas 0,6% durante a década passada, sob a governação de Xi - um declínio acentuado da média de 3,5% alcançada nos cinco anos anteriores. A instituição estima que o nível de produtividade das empresas estatais chinesas é 20% menor do que no setor privado.

O Blackrock Investment Institute adverte para o impacto que o abrandamento económico da China vai ter no resto do mundo.

"No passado, quando enfrentavam uma desaceleração [económica], os países podiam contar com os consumidores e empresas chinesas para comprarem os seus automóveis, produtos químicos, máquinas e combustível e contar com a China para o fornecimento abundante de produtos baratos", lê-se.

"Mas, isto vai deixar de ser assim", afirma o relatório. "Uma recessão está a aproximar-se nos EUA, Reino Unido e Europa, e, desta vez, a China não virá em socorro".
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