Notícia
Desconhecido actor japonês gere fundo de 2,7 mil milhões de dólares
Takahiro Kusakari conta que passou de desempregado, que sobrevivia fazendo pequenos trabalhos como actor em Tóquio, a responsável de um fundo de acções com 2,7 mil milhões de dólares em activos sob gestão.
A vida de Takahiro Kusakari mudou em 2007, quando tinha 28 anos e foi a um seminário do lendário Atsuto Sawakami, o fundador do maior fundo de cobertura de risco ("hedge fund") do Japão.
Sawakami percebeu o interesse de Kusakari e ofereceu-lhe um emprego. Numa ascensão meteórica, o ex-actor japonês passou de uma posição inferior na empresa a analista, depois a gestor de recursos e, finalmente, a director de investimentos.
A falta de experiência provavelmente funcionou a favor de Kusakari. O mentor dele aposta em investimentos de longo prazo há mais de quatro décadas e diz que a maioria das pessoas no mercado financeiro não compreende do que se trata, pelo que fazia sentido recorrer a alguém de fora.
Kusakari é um exemplo raro de um japonês que se distanciou de uma carreira tradicional e conseguiu chegar ao topo de uma profissão. Ele é também um caso de estudo de como um investidor famoso lida com a dificuldade em transmitir o seu trabalho.
Resgates
E isto é difícil, tal como os dois homens descobriram. Investidores resgataram 64,1 mil milhões de ienes (cerca de 560 milhões de euros) do fundo Sawakami em 2013, ano em que Kusakari assumiu. Houve saída de recursos por mais dois anos, totalizando 126,5 mil milhões de ienes.
Kusakari afirma que a causa foi a realização de lucros durante a subida acentuada do mercado de acções sob a batuta do primeiro-ministro Shinzo Abe, mas há quem discorde.
"O fundador saiu, então acho que perderam algum ímpeto", disse Hideto Fujino, que lidera a gestora de activos Rheos Capital Works, com 1,9 mil milhões de dólares. Ele considera Sawakami o pai do investimento no Japão e o fundo dele um grande concorrente. "Muitos investidores tinham uma enorme confiança na pessoa de Sawakami."
Kusakari formou-se em arquitectura em 2001. Sem conseguir emprego, sobreviveu a fazer de figurante em produções de teatro e anúncios de televisão e como modelo de uma agência de talentos. O seu papel mais relevante foi na pele de um estudante convocado para ser kamikaze, numa peça que marcava os 60 anos do final da Segunda Guerra Mundial. "Eu era basicamente um vagabundo", conta.
Vendo os seus amigos a enriquecerem durante os anos dourados que antecederam a crise financeira, Kusakari decidiu procurar emprego novamente e conseguiu uma posição como corretor de crédito imobiliário. Foi assim que passou a interessar-se por finanças e compareceu ao seminário de Sawakami.
"Fiquei de boca aberta", lembra Kusakari. "Geralmente, as pessoas falam em ganhar dinheiro e tentam convencer-te a comprar os seus fundos, mas ele disse que, se não fizermos um esforço agora, isso terá impacto nos nossos filhos e netos. Ele falou sobre a nossa responsabilidade como adultos" de construir capital para o futuro.
Menos de três anos depois de ter começado a gerir dinheiro, com apenas 33 anos, Kusakari assumiu as rédeas de um dos veículos de investimento mais famosos do Japão.
Logo após se tornar director de investimentos, em Janeiro de 2013, e com os resgates apenas a começarem, Kusakari decidiu implantar a sua mudança mais drástica em relação à abordagem de Sawakami. Sem discutir a ideia com o mentor, ele diminuiu o número de acções na carteira do fundo de um pico de 358 antes da crise financeira para aproximadamente 100 hoje em dia. Na visão dele, isso aumentaria as hipóteses de entregar taxas de retorno mais altas e permitiria um maior envolvimento com cada empresa do fundo.
Sawakami "tinha uma filosofia de investir dinheiro em todo o mercado, mas, no fim de contas, o negócio é comparar as acções das empresas individuais e o seu valor corporativo", considera Kusakari.