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Cimpor afunda 26% na pior sessão de sempre em bolsa

Perto de um quinto do capital da Cimpor que não foi adquirido pela Camargo Corrêa na OPA trocou hoje de mãos. Preço das acções da cimenteira estão já mais de 30% abaixo daquele que foi pago na OPA da brasileira Camargo. Acções encerram em mínimos de Abril de 2009.

25 de Junho de 2012 às 01:57
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A Cimpor nunca tinha registado uma queda tão expressiva como a que registou na sessão de segunda-feira, 25 de Junho. A cimenteira valia, ao fecho de ontem, menos 25% do que na sessão anterior.

As acções da empresa fecharam a sessão de hoje com uma desvalorização de 25,69%, encerrando a cotar nos 3,79 euros, um valor que não era registado desde Abril de 2009. O que lhe confere uma capitalização bolsista de 2,55 mil milhões de euros.

A Cimpor tem recuado em força nas últimas sessões, após o anúncio dos resultados da Oferta Pública de Aquisição (OPA) pela Camargo Corrêa. A empresa brasileira ficou com 94,11% do capital da Cimpor após a operação em que ofereceu 5,50 euros por cada acção. O que indica que apenas 5,89% do capital da empresa não está nas suas mãos.

À cotação de fecho de segunda-feira, o preço das acções da companhia está 31,1% abaixo do preço oferecido na OP, os 5,50 euros.

A quebra superior a 25% da Cimpor é a mais expressiva desde que a Bloomberg apresenta dados (1994).

OPA potestativa não pode avançar já

Quer isto dizer que houve investidores que venderam acções da Cimpor a 3,79 euros mas que poderiam tê-las vendido a 5,50 euros na OPA, que terminou na quarta-feira passada. Por que só venderam hoje?

Pedro Rodrigues, do Montepio, avança que, segundo os seus cálculos, haverá uma justificação para o movimento: a InterCement, da Camargo Corrêa, liderada por José Edison (na foto), não cumpriu as condições para poder avançar para uma OPA potestativa e os investidores estão agora a aperceber-se disso.

O código dos valores mobiliários considera que uma OPA potestativa, ou seja, uma operação em que compra o capital que não adquiriu na OPA inicial, pode avançar se a empresa que a lançar reunir dois requisitos na sequência da oferta: alcançar 90% dos direitos de voto correspondentes ao capital social da visada (o que foi conseguido na Cimpor); alcançar 90% dos direitos de voto abrangidos pela OPA, ou seja, sem contar com o capital que a Camargo e a Votorantim já detinham, isto é, o capital abrangido pela OPA é 45,86% (a OPA é da Camargo mas as acções da Votorantim também são imputadas à oferente).

Possibilidade de perda de qualidade de sociedade aberta permanece em cima da mesa

Este último pré-requisito não terá sido alcançado pela Camargo, de acordo com os cálculos de Pedro Rodrigues, do Montepio. E, na perspectiva de não haver já uma OPA potestativa, que teria de ser obrigatoriamente aos 5,50 euros da OPA, os investidores terão “fugido” da cotada. Isso terá conduzido os títulos aos 3,79 euros, 31% abaixo da OPA e não verificado desde Abril de 2009 (ou seja, ainda antes da OPA falhada da Companhia Siderúrgica Nacional, que acabou por levar à entrada da Camargo e da Votorantim na Cimpor).

Os investidores que não venderam na Cimpor estarão na temer, na avaliação de Pedro Rodrigues, o que poderão esperar da empresa. Isto porque a liquidez ficou limitada (apenas estão em circulação pouco mais de 30 milhões de acções) e a empresa já não faz parte do PSI-20. Além disso, a administração também mudou, com a saída de Francisco Lacerda (na foto) e a entrada de Ricardo Lima como CEO.

Mesmo sem OPA potestativa, no prospecto da OPA enviado à CMVM a 29 de Maio, a Camargo prevê essa situação e indica que, caso consiga 90% do capital social da Cimpor (o que foi conseguido), poderá “requerer à CMVM, em prazo inferior a seis meses contados do encerramento da Oferta, a perda da qualidade de sociedade aberta da Cimpor”. E, também aqui, a compra terá de ser a um preço mínimo de 5,50 euros.

“Como consequência da perda da qualidade de sociedade aberta, as acções da sociedade visada serão imediatamente excluídas da negociação em mercado regulamentado, ficando vedada a sua readmissão pelo prazo de um ano”, indica o prospecto.

“Tem de haver uma estratégia mais plausível”

O director de negociação do Banco Carregosa, João Queiroz, considera que a queda em bolsa da Cimpor não tem “uma explicação racional e inteligente”.

“Tem de haver uma estratégia mais plausível”, acrescentou o responsável do Carregosa, embora sem conseguir descortinar qual, justificando essa posição pelo facto de os resultados da OPA serem já conhecidos desde quarta-feira. E, apesar de já se terem registado quedas dos dias anteriores, nunca tinha sido tão expressivo.

Queiroz alerta, também, para outro destaque “inusitado” na negociação de hoje. Além da queda expressiva, também o volume de títulos negociados se destaca. Foram negociados mais de 6,4 milhões de acções da Cimpor, o que representa perto de 20% do capital da cimenteira que não foi adquirido pela Camargo.


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