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Há um novo boom do “subprime” nos EUA

É o padrão no mundo do “subprime”: empréstimos apressados, falências rápidas e, às vezes, fraudes escancaradas. E este não é perfil do mercado imobiliário dos EUA de 2007. É a indústria automóvel dos EUA de 2017.

Scott Eells/Bloomberg
23 de Julho de 2017 às 13:00
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Uma década após o colapso do crédito imobiliário, o sector financeiro adoptou outro tipo de dívida subprime: o financiamento automóvel. E tal como da última vez, os riscos estão a propagar-se porque estão associados a títulos detidos por investidores de todo o mundo.

 

Os financiamentos automóveis "subprime" existem há muito tempo e ninguém está a sugerir que estes desencadearão a próxima crise. Mas o negócio explodiu desde a Grande Recessão. Em 2009, foram vendidos 2,5 mil milhões de dólares em novos contratos de crédito automóvel "subprime". Em 2016, foram 26 mil milhões, superando os níveis médios pré-crise, segundo o Wells Fargo.

 

Poucas coisas ilustram este fenómeno melhor do que a parceria entre a Fiat Chrysler e o Banco Santander. Desde 2013, devido ao aumento das vendas de automóveis nos EUA, as duas empresas criaram uma das máquinas de "subprime" mais poderosas do sector.

 

Os detalhes dessa relação, obtidos a partir de documentos judiciais, apresentações a órgãos reguladores e entrevistas com participantes no sector, expõem alguns dos excessos do "boom" actual do "subprime" automóvel. Wall Street tem recompensado os padrões de empréstimos menos restritivos que permitem que as pessoas obtenham créditos sem que ninguém verifique o seu rendimento ou histórico de trabalho. Por exemplo, recentemente o Santander só avaliou o rendimento em cerca de um financiamento por casa 10 concedidos, num pacote de mil milhões de dólares em obrigações, segundo a Moody’s Investors Service. A maior parcela tinha origem em contratos de compra de veículos da Chrysler.

 

Algumas das concessionárias de veículos, por sua vez, manipularam o processo de pedido de empréstimo para que clientes de baixo rendimento pudessem adquirir carros novos, revelaram promotores estaduais em documentos judiciais.

 

Em todo o processo, o apetite de Wall Street por investimentos de alto rendimento fez com que os empréstimos - e os títulos de dívida - continuassem a chegar. O Santander afirma que cortou relações com centenas de concessionárias que estavam a conceder empréstimos inadequados, entre os quais alguns em que falharam logo o primeiro pagamento. Ao mesmo tempo, o Santander planeia ampliar o controlo sobre a sua unidade de "subprime" automóvel nos EUA, a Santander Consumer USA Holdings, revelaram pessoas com conhecimento do processo.

 

Práticas de empréstimo

 

O Santander, que foi convocado ou interrogado por cerca de 30 estados pelas suas actividades de subscrição de empréstimos automáticos e securitização, preferiu não comentar "assuntos legais activos". Em Maio, o Santander concordou pagar 26 milhões de dólares para liquidar acusações feitas pelos estados de Delaware e Massachusetts como parte de investigações em curso sobre as práticas de empréstimo da indústria automóvel. O Santander, cuja parceria com a Chrysler usa o nome de marca Chrysler Capital, não admitiu, nem negou as irregularidades.

 

Reid Bigland, responsável de vendas da Chrysler nos EUA, disse que o Santander tem sido um "bom parceiro".

 

Nos últimos anos, as práticas de empréstimos na indústria de "subprime" automóvel foram submetidas a um escrutínio maior. Os órgãos reguladores e os órgãos de defesa do consumidor afirmam que o instrumento aproveita-se de pessoas que não têm outras opções.

 

Para os investidores, a atractividade dos empréstimos automóveis "subprime" é clara: os títulos compostos por esta dívida podem oferecer rendimentos de até 5%. Pode não parecer muito, mas num mundo de juros ultrabaixos, esta taxa ainda representa mais do triplo do rendimento comparável dos títulos do Tesouro dos EUA. Claro que este ainda é um mercado muito menor do que o das hipotecas "subprime" que desencadeou a crise de crédito, o que torna uma repetição improvável. Mas a questão agora é se esse ágio, que diminuiu com o aumento da procura, vale a pena.

 

"Os investidores parecem estar a ignorar os riscos subjacentes", disse Peter Kaplan, gestor do fundo da Merganser Capital Management.

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