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Quanto vale um peso argentino? Já ninguém ousa prever

“Já não há uma referência de preço clara após o tombo do peso."

Reuters
02 de Setembro de 2018 às 22:30
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Tommy Samson explica porque foi obrigado a travar os negócios no centro da derragem do mercado financeiro da Argentina. A sua empresa, sedeada em Buenos Aires, importa equipamento cirúrgico, pagando em moeda estrangeira e vendendo a clientes locais em pesos. A ponta final dessa operação está a desmoronar-se porque a moeda argentina está em queda livre — o peso perdeu metade do valor este ano e uns 20% só na semana passada.

 

O câmbio ameaça espalhar a confusão por toda a economia, que movimenta 640 mil milhões de dólares, interrompendo cadeias de fornecimento e deixando as famílias em dificuldades.

 

A situação também piora a perspectiva de reeleição de Mauricio Macri (na foto), no próximo ano. Embora seja o presidente argentino mais favorável ao mercado em mais de uma década, ele não consegue restaurar a confiança dos investidores.

 

O seu governo tem tentado. O banco central elevou a taxa de juros para 60%, a semana passada, a mais alta do mundo. Na véspera, Macri chocou a população – e os investidores – ao solicitar uma antecipação de recursos do Fundo Monetário Internacional (FMI).

 

O acordo de empréstimo de 50 mil milhões de dólares à Argentina, em Junho, foi o maior da história do FMI. O país também estava sob um programa do FMI quando entrou em incumprimento, em 2001. O evento foi o catalisador de mais de uma década de gastos públicos acelerados pelo governo populista de esquerda e de isolamento dos mercados financeiros internacionais, o que se reverteu com a eleição de Macri, em 2015.

 

Maria de los Angeles Rezk votou em Macri – "mas não voltaria a fazê-lo"

"Eu vejo um país que perdeu o rumo’’, disse a bancária de 46 anos após comprar dólares. Maria de los Angeles Rezk disse esperar vendê-los mais tarde, porque espera que o peso continue a depreciar-se.

 

"Eles precisam de encontrar uma forma de parar esta queda’’, disse. "O problema é que eles não sabem o que dizer.’’

 

O alerta já soava antes desta última ronda de turbulência. O governo previa contração de 1% na economia em 2018 — muito pior do que a expectativa de crescimento de 3% apresentada no início do ano. A inflação permanece acima de 30% e deve subir com a desvalorização cambial. Mesmo empresas que se abastecem localmente estão a desdobrar-se.

 

Pablo Ricatti produz pães para sanduíches e conta que comprou dois carregamentos de farinha há duas semanas "para me proteger de um aumento de preços’’. O seu fornecedor costumava aceitar pagamentos com distâncias de duas semanas, mas agora recusa-se. "Preciso pagar imediatamente e vou fazer isso’’ porque os preços "estão a subir enquanto temos esta conversa’’.

 

A resposta do governo à queda do peso também pode colaborar para arrefecer a economia. O plano de Macri antes da crise era reduzir gradualmente o défice público de 6,5% do PIB no ano passado para 3,8% em 2019.

 

Agora a expectativa é que os cortes sejam mais drásticos. O ministro do Tesouro, Nicolás Dujovne, revelou aos jornalistas que o governo divulgará esta segunda-feira, 3 de Setembro, uma meta "substancialmente menor" para o défice em 2019, abaixo de 1,3% do PIB. Depois irá a Washington para conversar com diretores do FMI.

(Texto original: What's a Peso Worth? All Bets Are Off as Argentina Pain Spreads)

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