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Farfetch marca mínimos históricos e já vale menos do que qualquer cotada do PSI

Na negociação intradiária desta terça-feira, as ações da tecnológica já tocaram no valor mais baixo de sempre, nos 0,5282 dólares, com uma queda de 27,68%. Neste momento, vale em bolsa menos do que qualquer uma das 16 cotadas do PSI.

José Neves é o CEO da tecnológica portuguesa Farfetch, cotada em Nova Iorque e classificada como o primeiro unicórnio português.
Brendan McDermid/Reuters
12 de Dezembro de 2023 às 17:22
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A plataforma de moda de luxo Farfetch, fundada e liderada por José Neves (na foto), nasceu em 2008 com sede fiscal em Londres e foi o primeiro unicórnio (significando que a empresa foi avaliada em mais de mil milhões de euros) português. Em setembro de 2018 estreou-se em bolsa, com o içar da bandeira de Portugal em Nova Iorque, tendo encerrado o primeiro dia de negociação nos 28,35 dólares – uma valorização de 41,75% face aos 20 dólares a que tinham sido vendidas na oferta pública inicial (IPO). Tudo corria sobre rodas. Mas, nos últimos tempos, a Farfetch tem vivido grandes dissabores e o seu valor em bolsa tem vindo a cair consideravelmente.

 

No passado 29 de novembro, um dia depois de adiar a apresentação de contas – e já correndo a informação de que José Neves poderia querer retirar a empresa de bolsa –, a Farfetch perdeu, em menos de duas horas, 382 milhões em capitalização bolsista, o correspondente a metade do seu valor em bolsa. E os apuros continuam.

 

Na negociação intradiária desta terça-feira, as ações da tecnológica já tocaram no valor mais baixo de sempre, nos 0,5282 dólares, com uma queda de 27,68%. Seguem agora a perder 20,18% para 0,58 dólares, numa sessão bastante volátil – e no acumulado do ano o mergulho é de 86,85%.

O atual "market cap" da Farfetch é de 210 milhões de euros, o que significa que a empresa, neste momento, vale menos do que qualquer uma das 16 cotadas do PSI.

 

A capitalização bolsista mais elevada do índice de referência nacional é da EDP, com 18,47 mil milhões de euros, seguindo-se o seu braço para as energias renováveis com 16,76 mil milhões, a Jerónimo Martins com 14,77 milhões e a  Galp com 10,76 mil milhões, numa clara liderança do setor energético.

 

Já a que tem menor valor de mercado no PSI é a Ibersol, com 285 milhões de euros. Valor, ainda assim, superior ao da Farfetch.



As ações da Farfetch terminaram a semana passada com um saldo negativo de 3,9% e têm estado a sofrer de grande volatilidade desde 28 de novembro, quando foi avançado pelo The Telegraph que José Neves estaria em conversações para retirar a empresa de bolsa. Nesse mesmo dia, foi anunciado que a divulgação das contas do terceiro trimestre estava adiada.

 

O analista Tom Nikic, da Wedbush, comentou à Bloomberg que a falta de sinais sobre o panorama da empresa está a impulsionar a atual volatilidade em bolsa. "Há algumas semanas que não sabemos nada sobre a Farfetch. Isso está a deixar muitas pessoas confusas e à espera de alguma clarificação sobre a atual situação. Os investidores estão a ficar nervosos com esta incerteza", afirmou.

Entre as notícias mais recentes está a possibilidade de a Farfetch poder vir a despedir perto de 2.000 funcionários, o que corresponde a 25% da sua mão de obra, como noticiou hoje o jornal Público.

 

A mesma publicação recorda que "a Farfetch tencionava cortar 800 postos de trabalho este ano", mas aponta que "a viabilização da empresa pode obrigar a duplicar o número de despedimentos que estava previsto". "A administração continua em silêncio, quer para fora quer para dentro da Farfetch. ‘Sabemos mais pelas notícias lá fora do que cá dentro’, disse ao Público uma atual funcionária da empresa em Portugal".

 

A retalhista online da moda de luxo tem estado sob pressão vendedora na Bolsa de Nova Iorque também devido ao facto de o grupo suíço de relógios e joalharia Richemont - que é dono da Cartier - ter dito, em finais de novembro, que não tinha qualquer intenção de investir na Farfetch ou emprestar dinheiro à empresa. No primeiro ano da pandemia, recorde-se, a Farfetch conquistou dois parceiros de peso: a chinesa Alibaba e a Richemont.

 

Os apuros financeiros da companhia ficaram mais em foco devido a dois cortes de recomendação para as suas ações, em inícios de dezembro. Além disso, corre também a informação de que a Farfetch poderá querer vender a sua subsidiária Browns numa tentativa de captar fundos.

No primeiro semestre deste ano, a Farfetch registou prejuízos de 281,34 milhões de dólares, contra um lucro de 67,67 milhões no período homólogo de 2022. Ainda assim, José Neves antevia "um grande ano" para a empresa – mas a Farfetch anunciou no final de novembro que o seu último "guidance" para 2023 (que apontava para um aumento anual das receitas) ficava sem efeito.

 

De destacar ainda que a Farfetch está a ser alvo de um processo por parte de um grupo de acionistas, que diz que a empresa violou as leis federais do mercado de capitais dos EUA. Segundo a queixa apresentada contra a empresa e alguns dos seus executivos de topo, a Farfetch não terá divulgado publicamente que está a passar por um "significativo abrandamento" do seu crescimento nos Estados Unidos e na China – que são os seus dois maiores mercados.

 

Esta queixa, apresentada em outubro, parece ser o pano de fundo para os rumores de que a plataforma de e-commerce de luxo pretende sair de bolsa.

(notícia atualizada pela última vez às 18:23)

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