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Carlos Tavares: "Pode estar a formar-se uma tempestade perfeita nos mercados"

O presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) deixou, esta terça-feira, no Parlamento o mesmo alerta que fez há um ano: os preços dos activos estão sobre-valorizados.

Bruno Simão/Negócios
21 de Abril de 2015 às 16:16
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Carlos Tavares faz, esta terça-feira, 21 de Abril, um balanço dos últimos dez anos à frente do regulador do mercado. "A situação não se alterou significativamente desde a última vez em que aqui estive [mas os] riscos são mais evidentes hoje do que eram na altura; são basicamente os mesmos mas mais acentuados", explicou o presidente da CMVM.

 

Para o responsável do regulador, a emissão de obrigações de alto rendimento e também de alto risco são "a principal fonte de riscos", sendo que os riscos de taxas de juro e de crédito se verificam "em montantes muito significativos".

 

O presidente da CMVM lembrou que entidades como o FMI, o BIS e a ESMA têm vindo a alertar que, para os mercados, o "primeiro risco são as emissões de dívida de empresas e soberana". As mesmas entidades alertam ainda para os riscos que podem decorrer da alavancagem e também da volatilidade dos mercados emergentes.

 

Esta "pode ser uma tempestade perfeita". "Esperemos que não", alertou o presidente da CMVM. "Queria deixar este alerta muito forte", acrescentou Carlos Tavares. "Alguns dos remédios usados para combater a crise geraram eles próprios riscos que podem gerar uma nova crise", disse.

 

Esta que pode ser "uma situação muito difícil no mercado" está relacionada com as "muito baixas taxas de juro que têm efeitos colaterais bastante poderosos e também com o excesso de liquidez". Condições que justificam a "forte procura de activos de rendimento elevado", frisou Carlos Tavares.

 

Sem distinção entre activos

 

Este é o contexto que "tem levado a uma forte subida de preços indiscriminada. Hoje é difícil distinguir entre o que paga uma empresa [com um ‘rating’] de ‘triple A’ e ‘triple B’. Não há discriminação entre a qualidade dos activos", afirmou Carlos Tavares aos deputados.

 

A subida dos preços verifica-se quer nas obrigações privadas quer na dívida pública. E "nas acções também hoje já temos claramente alguns indícios de sobrevalorização, sobretudo nos Estados Unidos e também em alguns países na Europa", acredita Carlos Tavares.

 

Quanto ao imobiliário, são também identificadas "algumas bolhas" em países onde não ocorreram na crise anterior, como nos países nórdicos, Canadá, Austrália, Hong Kong e também noutros que já antes foram afectados.

 

"Os bancos, desta vez, têm gerido razoavelmente o risco de taxa de juro, não têm acumulado grandes riscos directamente", isto porque são sobretudo dois os tipos de entidades que detém os activos: os investidores institucionais e os bancos centrais (fruto das políticas de aquisição de activos), realçou Carlos Tavares.

 

Mas, "a alimentar estes investimentos, estão os bancos e isto fecha o ciclo da chamada ‘tempestade perfeita’", frisou o presidente da CMVM. As instituições financeiras "assumem riscos através da alavancagem dos investidores privados e institucionais", ressalvou Carlos Tavares.

 

A colocar em risco este ciclo está a subida de taxas de juro. "As taxas de juro não podem continuar no nível em que estão, vão subir", adiantou o presidente da CMVM. "Quando as taxas de juro subirem, e basta uma crise cambial para subirem de um dia para o outro" esta evolução " provocará perdas nos investidores, nos bancos e nos bancos centrais", acredita Carlos Tavares.

 

Carlos Tavares deixou o alerta, mas disse que "não basta falar", isto porque "um ano depois as coisas continuam na mesma". É necessário "algum bom senso dos investidores" e "algum diálogo que tem faltado entre as autoridades monetárias e as de supervisão".

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