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Análise: Jerónimo Martins enfrenta ano decisivo

A Jerónimo Martins anunciou recentemente um plano de reestruturação que visa o retorno aos lucros, depois de um ano que não correspondeu às expectativas. O ano de 2001 poderá ser decisivo para o futuro da companhia.

14 de Abril de 2001 às 16:08
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A Jerónimo Martins, segunda maior distribuidora nacional, anunciou recentemente um plano de reestruturação que visa o retorno aos lucros, depois de um ano que não correspondeu às expectativas dos accionistas e da administração da empresa. O ano de 2001 poderá ser decisivo para o futuro da companhia.

Desde o início deste ano, os títulos da Jerónimo Martins já desvalorizaram cerca de 28%, uma «performance» que não pode ser explicada somente pelas descidas generalizadas dos mercados accionistas, uma vez que no mesmo período, o PSI20, índice da Bolsa de Valores de Lisboa e Porto (BVLP), recuou 4%.

No ano 2000, a companhia liderada por Soares dos Santos (na foto) apresentou prejuízos de 64 milhões de euros (12,83 milhões de contos), que superaram as expectativas dos analistas contactados na altura pelo Canal de Negócios, cujas previsões mais pessimistas apontavam para perdas na ordem dos 12,6 milhões de euros (2,52 milhões de contos).

No dia da apresentação dos resultados referentes ao último exercício, a Jerónimo Martins apresentou o seu plano de reestruturação, prevendo a divisão das actividades da empresa em duas «holdings», passando a JM Distribuição a integrar os activos na área do retalho, com a JM Investimentos a agregar as posições financeiras do grupo.

«Esta era a única solução para a empresa e já se esperava há mais de um ano», afirmou um analista, que preferiu não ser identificado, em declarações ao Canal de Negócios.

O plano apresentado pela empresa visa o retorno aos lucros e a redução da dívida consolidada da Jerónimo Martins, que no final do último exercício se situava nos 127 milhões de euros (25,46 milhões de contos).

Reestruturação será suficiente?

No âmbito da reestruturação, o capital da Jerónimo Martins SGPS será reduzido em 140 milhões de euros (28,07 milhões de contos), sendo este montante correspondente ao capital da nova JM Investimentos, com cada accionista a receber 292 acções da nova empresa por cada mil títulos da SGPS detidos.

A Sociedade Soares dos Santos, que detém 57,94% da SGPS, já anunciou que irá lançar posteriormente uma oferta pública de aquisição (OPA) a 15 euros (3.007 escudos) por cada acção da nova JM Investimentos, que terá um capital social de 140 milhões de euros (28 milhões de contos) e deverá depois cotar em Bolsa, tendo já sido efectuado um pedido nesse sentido junto da BVLP.

Após a cisão, a Jerónimo Martins SGPS vai efectuar um aumento de capital reservado a accionistas, no valor de 300 milhões de euros (60,14 milhões de contos), através da emissão de 60 milhões de títulos, ao valor nominal de 5 euros (1.002 escudos), com o objectivo de refinanciar a dívida da empresa.

Depois de concretizadas estas operações, a JM Investimentos deverá deter 58% da JM Distribuição, com os restantes 42% da «holding» para o sector do retalho a ficarem dispersos em Bolsa.

A corretora Espírito Santo Dealer (ESD), do grupo liderado por Ricardo Salgado, já referiu, num estudo efectuado a 30 de Março, que a reestruturação avançada pela Jerónimo Martins «não é convincente», uma vez que não é suficiente para assegurar que «os problemas operacionais serão resolvidos brevemente».

De acordo com a mesma fonte, a aposta isolada no sector da distribuição, após a concentração dos activos industriais na JM Investimentos, pode representar um maior risco para os accionistas minoritários, tendo em conta a «fraca “performance” operacional do retalho em Portugal e na Polónia» apresentada no ano passado.

Por outro lado, a Fincor sublinhou, num estudo datado de 11 de Abril, que esta reestruturação foi de encontro às expectativas do mercado, «sendo a única forma de contornar a questão de elevada alavancagem da JM SGPS».

De acordo com a mesma corretora, «os sinais de recuperação no primeiro trimestre (deste ano) são animadores», embora seja necessário esperar pela confirmação dos resultados.

Para além destas medidas, a reestruturação da empresa vai implicar a venda de activos na Polónia, nomeadamente das suas cadeias com a marca Jumbo e Eurocash, com a distribuidora a manter a sua cadeia de lojas de conveniência Biedronka naquele país.

«A venda destes activos na Polónia foi justificada com o facto de haver muita concorrência nestes formatos, mas é preciso ter em atenção que a Jerónimo Martins corre o risco de, daqui a alguns anos, existirem outros competidores a entrarem no formato de “discount”, onde a empresa lidera actualmente», considerou o analista contactado pelo Canal de Negócios.

A Jerónimo Martins prevê que a Biedronka atinja um volume de vendas de 847 milhões de euros (170 milhões de contos) em 2001, depois das vendas terem ascendido aos 573 milhões de euros (115 milhões de contos) no ano passado, com aquela cadeia de lojas a ser responsável por um prejuízo líquido de cerca de 49,8 milhões de euros (9,8 milhões de contos).

A Jerónimo Martins anunciou também que não pretende exercer uma opção de compra sobre a posição de 49% que a holandesa Royal Ahold detém na Jerónimo Martins Retalho, e que teria de ser exercida até final de Abril. A Ahold já tinha adiantado ao Canal de Negócios que «não tenciona vender a sua posição», uma vez que está satisfeita com a situação actual.

O estudo efectuado pela Fincor defende que a decisão de não adquirir a posição controlada pela Ahold foi «acertada», uma vez que o actual valor de mercado da empresa está «muito aquém do valor total implícito no preço da opção».

De acordo com a mesma fonte, o facto da empresa «estar claramente “out of the money”» foi um dos motivos que terá levado a que não fosse exercida a opção de compra, pelo que essa não foi «uma decisão puramente estratégica».

Empresa não deverá procurar parcerias em 2001

A possibilidade de novas parcerias, para além da já mencionada com a Ahold, já foi por várias vezes avançada por meios de comunicação social, visando empresas nacionais e internacionais.

Em Novembro do ano passado, a especulação sobre um possível interesse da norte-americana Wal-Mart, a maior empresa mundial do sector do retalho, impulsionou a cotação da Jerónimo Martins até perto dos 13 euros (2.606 escudos), cerca de 62% acima dos preços actuais.

Soares dos Santos afirmou recentemente que a Jerónimo Martins não exclui a hipótese de «eventuais conversas» com o Grupo Sonae, que controla a Modelo Continente, a maior distribuidora nacional, afirmando, no entanto, que essa possibilidade é «prematura».

O mesmo responsável deu a entender que uma possível associação com o grupo liderado por Belmiro de Azevedo poderia passar pela aquisição que a Ahold detém na JM Retalho, apesar de indicar que, nesta fase, a parceria com a empresa holandesa será mantida «tal como está».

A possibilidade de parcerias «é algo que neste momento está em segundo plano», uma vez que o corrente ano será um «ano de mudança», tendo em vista a implementação do plano de reestruturação da empresa, afirmou o analista contactado pelo Canal de Negócios.

«Não me parece que haja interesse da empresa numa oferta pública de aquisição (OPA). O accionista maioritário (Soares dos Santos) não parece disposto a abdicar de uma estrutura que é muito boa, apesar de ter passado dois anos muito maus», sublinhou a mesma fonte, referindo que «se quisesse, não teria efectuado o aumento de capital».

Reestruturação pode implicar «sacrifício» do crescimento

«A Jerónimo Martins deve resolver os problemas operacionais que aconteceram recentemente, mesmo num mercado maduro, como o português, em que aconteceram rupturas de “stocks”, (…) e isto deve ser feito mesmo que implique sacrificar o crescimento», defendeu a mesma fonte.

O presidente da Jerónimo Martins afirmou este mês, em entrevista ao semanário «Expresso», que 2001 é um ano «para ganhar dinheiro», indiciando que a empresa não vai partir para novos projectos este ano, concentrando-se na exploração das suas actividades mais maduras.

O mesmo analista afirmou que «a atenção da empresa este ano deve ir para as vendas e para o desenvolvimento operacional, nomeadamente a gestão diária das actividades», adiantando que, neste sector, «é difícil obter resultados sem um bom volume de vendas».

Por ocasião da apresentação de resultados, a Jerónimo Martins afirmou que o primeiro trimestre deste ano «consolidou os sinais de recuperação de vendas» na maioria das operações do grupo.

Nos próximos tempos, os investidores deverão continuar a olhar para a empresa à espera de sinais que anunciem a chegada da bonança, depois da tempestade que caracterizou os últimos tempos da vida da Jerónimo Martins.

«Este é o período mais negro da história da empresa (…), mas a Jerónimo Martins sempre foi vista como uma empresa de crescimento e é disso que os investidores estão à espera: que volte a esse crescimento», sublinhou o analista.

A Jerónimo Martins encerrou a cotar nos 8 euros (1.603 escudos) na sexta-feira, registando uma valorização de 0,88%.

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