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Miguel Stilwell: A transição energética é um desígnio para a EDP

“Prezo muito a humildade, a capacidade de ouvir, de ter as melhores pessoas possíveis à volta - e que sejam melhores do que eu -, sem esquecer o que é fundamental para a própria EDP: a humildade, a justiça, a ética e a capacidade de fazer o bem”

É, desde Janeiro último, o homem forte da EDP, onde entrou pela primeira vez no ano 2000, conhecendo por isso muito bem os cantos à casa. E foi o mais recente convidado do ciclo "Construir a Esperança na Crise", promovido pela ACEGE, onde falou não só dos desafios passados e ultrapassados na condução da eléctrica ao longo de 2020, mas também do desígnio para o seu futuro assente num ambicioso plano estratégico que visa contribuir para um mundo mais justo e sustentável e que tem como conceito-chave a necessária transição energética, a qual, acredita, promoverá o emprego, a inovação e o próprio desenvolvimento socioeconómico das duas dezenas de países onde a maior cotada da bolsa nacional tem actividade
POR HELENA OLIVEIRA

Miguel Stilwell de Andrade é o novo presidente executivo da EDP e não esconde que, a juntar à pandemia, 2020 foi também um ano particularmente duro para a empresa que agora lidera, em particular devido a esta ter sofrido um ciberataque – em pleno pico da crise pandémica – e à saída de António Mexia e João Manso Neto, os dois (ex) CEOs das duas maiores empresas cotadas em Portugal (EDP e EDP renováveis) numa altura em que estavam em curso várias importantes operações. As "alterações profundas na gestão" do gigante eléctrico português e a inviabilização, por causa do ciberataque, de um "conjunto de coisas" não constituíram, contudo, um obstáculo à maior aquisição de sempre da EDP em Espanha e a um aumento de capital de mil milhões de euros, o que contribuiu igualmente para que 2020 seja definido pelo novo líder como "particularmente intenso".

Afirmando que o nível de ruptura que estamos a viver tem sido particularmente atípico tanto para o mundo como para Portugal, em conjunto e obviamente, para todas as empresas que operam a nível global, Miguel Stilwell destacou o seu tremendo impacto não só do ponto de vista económico, mas também social, sublinhando igualmente a importância da dimensão da saúde, física e mental, dos trabalhadores, a qual tem sido fundamental endereçar.

Assim, e no meio de toda esta situação excepcional, várias prioridades se sobrepuseram mas, e desde o primeiro momento do deflagrar da crise pandémica, recorda Stilwell, que as atenções recaíram sobretudo sobre o tema da saúde e da segurança dos colaboradores.

Por outro lado e graças às infra-estruturas tecnológicas e de comunicação, e sendo a EDP uma empresa industrial, em menos de uma semana foi possível "migrar" cerca de 70% dos trabalhadores para o regime de teletrabalho – algo que estava já a ser pensado em piloto – o que se traduziu em milhares de pessoas a trabalhar a partir de casa e sem grandes quebras de produtividade. Todavia e para os restantes 30% da força laboral que foi obrigada a manter-se no terreno – cerca de três mil pessoas – seja nas redes de distribuição, nas avarias, nas próprias centrais ou nos parques eólicos e solares, a prioridade foi assegurar que, ao longo deste período complexo, todos tinham os equipamentos e as regras necessárias para garantir a sua segurança.

Miguel Stilwell lembrou igualmente que apesar de a empresa estar já a investir no digital, este foi um exercício muito intenso por parte da gestão no sentido de garantir o seu bom funcionamento no meio de um período tão crítico. Como afirmou, "para uma empresa eléctrica que, por definição, é estratégica para qualquer economia, e caso tivesse havido uma perturbação na nossa capacidade de continuar a fornecer energia aos portugueses, ou mesmo em Espanha, no Brasil ou onde quer que seja, tal teria tido uma repercussão e impacto tremendos". Todavia, apesar das dificuldades e graças "ao comportamento exemplar dos colaboradores da EDP", esta foi também uma prioridade superada.

Uma outra prioridade foi apostar no tema da comunicação e da transparência, o que acabou por gerar, nas palavras do novo CEO, um fenómeno interessante, na medida em que o facto de todo o ambiente se ter tornado virtual,"democratizou, de certa forma, a proximidade entre todas as pessoas". Como explica, "passámos a ter reuniões em que foi possível ter toda a gente, a nível global, próxima de administração, da gestão, tendo sido igualmente um tema crítico o ampliar da nossa política de comunicação, através da partilha de informação em todos os momentos, a todas as pessoas, quer do ponto de vista das regras de segurança, como das prioridades que foram eleitas".

Para o CEO da EDP, ouvir as pessoas foi igualmente crucial, o que foi feito através de dois questionários globais, ao longo deste período, para recolher percepções relativamente à experiência do teletrabalho, à motivação, à produtividade – quer a real como a percebida – e que contrariou totalmente a ideia de que as pessoas não trabalham a não ser que sejam controladas. Por outro lado, e como diz com orgulho, no que respeita à satisfação dos trabalhadores, foram obtidos os melhores resultados de sempre em termos de clima interno.

Uma das decisões imediatamente tomadas relativamente à pandemia foi a de que "não haveria qualquer tipo de redução de postos de trabalho, que não iríamos recorrer a qualquer medida de lay-off, e que iríamos proceder à antecipação do subsídio de férias para assegurar que as pessoas teriam também mais liquidez", diz. Por outro lado, prosseguiu, "assegurámos linhas de apoio dedicadas aos nossos colaboradores em termos de saúde e se, no início estávamos mais preocupados com a saúde física, a saúde mental surgiu igualmente como motivo de preocupação e consequente acção".

Stilwell deu o exemplo de que o que assistiu com vários colaboradores foi a inexistência de uma linha a separar a vida pessoal e familiar da vida laboral e que esse esbatimento de fronteiras estava a levar a situações de muito stress e até de burnout, em particular em determinados tipos de casos: ou de pessoas muito isoladas e sem qualquer tipo de relacionamento social ou, no outro extremo, de pessoas que tinham os filhos em casa e que tinham de trabalhar e cuidar em simultâneo. Ciente de todo o stress que tal estava a causar na organização, o fenómeno foi devidamente abordado e a liderança do mesmo pessoalmente assumida pelo CEO que passou a considerar o tema da saúde psicossocial como absolutamente fundamental e "contínuo".

No que respeita aos clientes e com a preocupação acrescida de, ao longo deste período, ser necessário assegurar os serviços, não só em termos da distribuição da energia, mas também do ponto de vista comercial, foi possível manter o funcionamento e a operacionalidade normais, e ir ao encontro das expectativas o que, nas palavras de Stilwell, diferencia a empresa que lidera face à concorrência. Recordando que estamos perante um mercado liberalizado, com 20 comercializadoras em Portugal – em termos de quota de mercado, a EDP tem cerca de 25% em clientes empresariais e cerca de 75% nos domésticos – o CEO sublinhou a qualidade de serviço prestado como o elemento mais diferenciador.

Um terceiro stakeholder ao qual foi dada igual importância foram as comunidades onde a empresa está inserida. Sublinhando que as empresas já não trabalham só para os accionistas, tendo que ter uma visão holística relativamente aos vários stakeholders, Miguel Stilwell destacou a actuação da EDP em vários níveis. Não só do ponto de vista do voluntariado, com mais de 500 pessoas envolvidas em mais de 30 projectos e trabalhando com cerca de 200 organizações – o que permitiu também que os colaboradores contribuíssem para a sociedade – mas também através de parcerias, como por exemplo com a Gulbenkian ou, especificamente em Lisboa, com o programa Serve The City (amizade em linha), e também com o próprio Estado, através da doação de ventiladores ou de monitores médicos.

Por último e na medida em que a EDP antecipou o pagamento de facturas a 1200 fornecedores, pagando-as de forma imediata para assegurar a liquidez em particular das PME e dos pequenos negócios com quem trabalha, esta foi também uma medida tornada prioritária pouco depois do deflagrar da pandemia e que constituiu, na opinião do CEO, em mais um elemento diferenciador da forma como a eléctrica geriu esta crise.


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