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Microsoft declara guerra aberta ao cancro

É uma verdadeira task force composta por cerca de 150 biólogos, cientistas e engenheiros informáticos com uma missão tão ambiciosa, quanto crucial: programar o corpo, da mesma forma que se programa um computador, para travar o cancro. Num laboratório experimental inaugurado este Verão, mas já com trabalho feito de uma forma discreta e, até agora, silenciosa, a Microsoft pretende, a médio prazo – idealmente ao longo da próxima década – transformar as células em computadores “vivos” que poderão ser programados – e reprogramados – para tratar uma das mais mortíferas, devastadoras e complexas doenças que afecta toda a humanidade. E, assegura um dos seus responsáveis, “tecnicamente sabemos que é possível”. Resta agora tornar a possibilidade em realidade

08 de Outubro de 2016 às 09:45
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Programar o corpo, da mesma forma que se programa um computador, para travar o cancro.

Esta pode ser a definição – básica, é certo – da mais recente aposta da empresa criada por Bill Gates. Com a inauguração, este Verão, de um laboratório experimental em Cambridge, no Reino Unido, o gigante tecnológico juntou uma espécie de exército, composto por 150 biólogos, cientistas e engenheiros informáticos com o objectivo de "solucionar" um dos mais complexos – e mortíferos – desafios enfrentados pela humanidade: o cancro.

Apesar de serem vários os projectos que estão já a decorrer neste laboratório que trocou os tubos de ensaio e as provetas por algoritmos e computadores, são duas as abordagens que pretendem definir a filosofia subjacente a este ambicioso objectivo, como explica Jeanette M. Wing, vice-presidente corporativa da Microsoft e responsável pela área de investigação em causa.

A primeira tem como base a ideia de que o cancro e outros processos biológicos "constituem" sistemas de processamento de informação, o que significa que as ferramentas utilizadas para modelar/simular e processar informação – como as linguagens de programação, compiladores e verificadores de modelos – poderão ser utilizadas, de forma similar, nos processos biológicos.

A segunda está mais relacionada com os próprios dados e tem como base a premissa de que os investigadores podem aplicar técnicas como a "machine learning" – o método de análise de dados que automatiza o desenvolvimento de modelos analíticos com base em algoritmos – à panóplia quase ilimitada de dados biológicos actualmente disponíveis, ao mesmo tempo que utilizam estas sofisticadas ferramentas de análise para melhor compreender e, consequentemente, tratar o cancro.


Ou, em linguagem menos "codificada", esta unidade de pesquisa da famosa empresa de software pretende, a médio prazo – idealmente ao longo da próxima década – transformar as células em computadores "vivos" que poderão ser programados – e reprogramados – para tratar o cancro e, já a curto prazo, construir ferramentas de modelização informática para ajudar as farmacêuticas, os oncologistas e os investigadores da área a melhor compreender a doença e a desenvolver fármacos mais eficazes – e personalizados – que a possam combater com sucesso.

E o que parece saído de um bom – e com aparente final feliz – filme de ficção pode mesmo vir a tornar-se realidade, tendo como principal chave para o seu sucesso o "casamento" entre biólogos e especialistas informáticos.

O projecto tem ainda um terceiro componente de investigação, que visa juntar a machine learning e a visão computacional para oferecer aos especialistas em radiologia uma compreensão muito mais detalhada sobre a forma como os tumores dos seus pacientes estão a progredir.

De uma forma muito discreta – ou, pelo menos, em "silêncio" – a Microsoft tem vindo a desenvolver a sua presença na área da investigação médica, em particular na biologia computacional, um segmento de investigação ainda muito pouco conhecido.

Com o novo laboratório, o seu posicionamento pode ser considerado como uma intersecção dos modelos analíticos com base em algoritmos (a denominada machine learning), com a matemática e a biologia, em conjunto, é claro, com a sua enorme proficiência em termos de ciências computacionais, o que, para Chris Bishop, director do laboratório em causa, e numa entrevista ao The Telegraph, afirma ser "perfeitamente normal" na medida em que "o cancro é um problema computacional".

Para Bishop, a sua afirmação – em conjunto com a filosofia subjacente a toda esta unidade de investigação – "não funciona apenas como uma analogia, mas é, ao invés, uma clarividência verdadeiramente matemática. A biologia e a computação são disciplinas que parecem ser tão diferentes como a ‘água e o vinho’, mas que se relacionam de forma aprofundada no seu nível mais fundamental".

A equipa multidisciplinar que faz parte deste laboratório está já a desenvolver computadores "moleculares", construídos a partir de ADN e cuja missão, a longo prazo, é claro, será a de funcionarem como um médico que reconhece as células cancerígenas e as destrói.

Adicionalmente, está já a ser desenvolvido um software que "imita" ou simula o comportamento saudável de uma célula, para que esta seja comparada a uma outra "doente", por forma a se perceber qual o problema que ocorreu na segunda e como o "consertar".

Apesar de ser impossível negar que os objectivos desta unidade de investigação parecem ser demasiado ambiciosos, a verdade é que a sua missão pode triunfar e conferir esperança no combate a uma das principais causas de mortalidade em todo o mundo. De acordo com estatísticas reveladas pela OMS, em 2012, 14 milhões de novos casos de cancro foram detectados, com 8,2 milhões de mortes divulgadas. Mais preocupantes ainda são as estimativas para as duas próximas décadas: espera-se que o número de novos casos cresça em 70% até 2030 (de 14 milhões em 2012 para 22 milhões em 2030).

Assim, vale toda a pena analisar mais a fundo as principais propostas e apostas desta inovadora unidade de combate multidisciplinar, que realmente acredita que a sua estratégia de olhar para os mecanismos biológicos como se de programas informáticos se tratassem ajudará a perceber os motivos por que determinadas células têm comportamentos "anormais", identificando-os precocemente, ao mesmo tempo que facilitará a determinação dos tipos de terapia nos quais vale mesmo a pensa investir. Com base numa excelente peça escrita pelo departamento de comunicação da Microsoft, o VER tenta – não sendo fácil – "traduzir" alguns dos projectos que já estão em curso, numa verdadeira viagem a um futuro próximo que, espera-se, seja muito mais do que uma grande ambição.

© Microsoft / Jonathan Banks
© Microsoft / Jonathan Banks

Excesso de informação é obstáculo à "medicina de precisão" ou individualizada

"Estamos a viver uma revolução no que respeita ao tratamento do cancro", afirma David Heckerman, cientista reconhecido mundialmente e director sénior do grupo de genómica da Microsoft. A frase não é inovadora e há muito que profissionais, doentes oncológicos e respectivas famílias parecem desacreditar na tão falada revolução. E se é certo que o panorama tem vindo a mudar no que respeita a novas terapias, com reflexos nas taxas de tratamento e de sobrevida, a verdade é que o cancro continua a ser uma espécie de monstro, por vezes silencioso e quase sempre imprevisível, ao mesmo tempo que se mantêm desconhecidos os motivos subjacentes ao facto de determinadas novas terapias funcionarem num conjunto de doentes e falharem completamente num outro. E é (também) por isso que o mapeamento do genoma humano e os progressos na compreensão de outros materiais genéticos se afigura tão importante para as novas batalhas contra a doença que, para muitos, constitui a "peste contemporânea".


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