Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

“Hormona do amor” aumenta performance organizacional

Reconhecida na comunidade científica como a “hormona do amor”, a oxitocina tem uma relação directa com a confiança, ingrediente imprescindível nas relações humanas. E, fruto de um repto lançado por executivos que acreditam que quanto mais elevados forem os níveis de confiança numa organização, melhor é a sua performance, o neurocientista e economista comportamental Paul Zak publicou recentemente um livro – e depois de vários anos de pesquisa – que comprova esta tese. Neurociência para gestores? Sem dúvida e ainda bem

25 de Fevereiro de 2017 às 12:00
  • 1
  • ...
Em 2001, o neurocientista Paul Zak, também conhecido como Dr. Love calculou, num paper, uma relação matemática entre a confiança e a performance económica. Mas, e como explica num artigo escrito para a Harvard Business Review em Janeiro deste ano, apesar de ter conseguido descrever, na pesquisa associada ao mesmo, de que forma os contextos sociais, legais e económicos causam diferenças nos níveis de confiança, não foi capaz de responder à pergunta mais básica: por que motivo as pessoas confiam (ou não) umas nas outras? É que se existem muitas experiências, feitas um pouco em todo o mundo, que demonstram que os humanos têm uma inclinação natural para confiar nos outros – mesmo que não sempre -, o também economista comportamental considerou que deveria existir um sinal neurológico que nos indicasse quando deveríamos confiar numa pessoa.

Como reza a história num interessante artigo publicado pelo The Guardian, Paul Zak é reconhecido na comunidade académica por duas coisas que tem por hábito fazer: distribuir abraços (porque liberta níveis de oxitocina) e espetar agulhas no braço das pessoas para lhes retirar sangue. Mas, e apesar de ser o próprio que apelida as suas pesquisas como "vampirescas" – e que envolvem "sujeitos" tão distintos como um noivo e uma noiva no dia do seu casamento, a pessoas que acabaram de dançar, a desportistas ou a guerreiros tribais da Papua Nova Guiné – Zak é considerado como um dos maiores especialistas mundiais em oxitocina, há muito conhecida como a hormona feminina da reprodução e com um papel central durante o parto e a amamentação. Todavia, e na pesquisa de décadas sobre a mesma, Zak conseguiu ir mais longe, conferindo-lhe um papel ainda mais abrangente, e considerando-a como a "molécula moral" que está por detrás das virtudes humanas do afecto, do amor e da confiança – uma espécie de "cola social", como o próprio afirma e que "mantém a sociedade unida" (pelos vistos não de forma eficaz). O livro de Zak sobre esta temática, exactamente intitulado "The Moral Molecule" foi um sucesso no mundo académico e "leigo" e a sua TED talk "Trust, Morality – and Oxytocin?" tem mais de um meio milhão e meio de visualizações.

Tomando como ponto de partida outras experiências que demonstraram que o neuro-transmissor químico existente nos roedores – a oxitocina – servia para estes "saberem" se era ou não seguro aproximarem-se de outros animais e na medida em que nenhum outro investigador tinha tido ainda a ideia de pesquisar se o mesmo se poderia passar com os humanos, Zak, em conjunto com a sua equipa, tem vindo a dedicar uma boa parte da sua carreira não só a estudar a oxitocina, como a tentar provar que quando os níveis da mesma são estimulados – e através de um protocolo efectuado com várias entidades para a medir através de análises de sangue – o medo de se confiar num estranho é substancialmente reduzido.

Vários anos e muitas pesquisas depois, Paul Zak publicou, em Janeiro deste ano, o livro intitulado "The Trust Factor: The Science of Creating High-Performance Companies", depois de ter sido "aliciado", como confessa numa entrevista publicada no reconhecido "The Brainfluence Podcast", a aplicar (e explicar) a importância da oxitocina enquanto promotora ou inibidora da confiança… nas organizações. Depois de explicar por que motivo os cães interagem mais com os seus donos do que os gatos (porque estes têm maiores níveis de oxitocina do que os seus pares domésticos, mas "indomesticáveis" felinos, que não são criaturas sociais, como os humanos, mas antes solitárias), conta o neurocientista e economista que "os animais, enquanto criaturas sociais, como os cães e os humanos, gostam de trabalhar em equipa e fazem-no de forma activa e efectiva". Adicionalmente, diz, "possuímos uma estrutura cerebral subjacente, uma neuroquímica que nos motiva ao trabalho em equipa, sendo que quando começámos a pensar neste livro – há oito anos – iniciámos experiências nas quais avaliámos a actividade cerebral das pessoas no seu contexto laboral para tentarmos perceber por que motivo existem indivíduos e equipas que são mais eficazes, produtivos e envolvidos com o trabalho face ao seu oposto".

Constituindo este o ponto de partida para o livro agora publicado e sublinhando que a ideia partiu de vários líderes empresariais que lhe bateram à porta por "desconfiarem" que quanto mais elevados os níveis de confiança numa organização, melhor seria a sua performance, Zak e a sua equipa conseguiram demonstrar que a "desconfiança" dos executivos em causa estava correcta.

E depois de vários anos e de inúmeras pesquisas – uma das quais envolvendo a colaboração de mais de mil trabalhadores nos Estados Unidos e terminada em Fevereiro de 2016 – Zaq e a sua equipa de investigadores concluíram, cientificamente, que as pessoas que trabalham em "culturas de elevada confiança" são substancialmente mais comprometidas com o trabalho, mais produtivas, revelando níveis maiores de energia, maior gosto pelo trabalho que fazem e exibindo estados físicos e psicológicos mais saudáveis. Pelo contrário, as empresas que acusam níveis reduzidos de confiança são compostas por indivíduos que não são felizes no trabalho, o que tem consequências visíveis na sua própria saúde, sendo "mais gordas, mais cansadas, mais doentes e mais stressadas", o que acaba por se reflectir, inevitavelmente e também na (pior) performance das empresas que integram.

Depois de ter obtido permissão para efectuar experiências em vários ambientes (organizacionais, mas não só), em particular e através de análise ao sangue que permitem medir os níveis de oxitocina e de hormonas do stress dos sujeitos envolvidos nas mesmas, o também psicólogo correlacionou os resultados obtidos com os níveis de produtividade e capacidade para a inovação nas organizações em causa e acabou por definir as culturas empresariais com níveis baixos de confiança como "micro-geridas" e "neurologicamente afectadas".

Ao comprovar a universalidade da relação entre a oxitocina e a confiança, o neurocientista desenvolveu uma metodologia (em conjunto com um inquérito) que quantifica, cientificamente, os níveis de confiança no interior das organizações. Adicionalmente e no livro agora publicado, são identificados oito "comportamentos da gestão" que podem não apenas ser mensuráveis, como também "geridos" de forma a aumentar a confiança e, consequentemente, a produtividade dos trabalhadores e a performance empresarial. Cada um destes comportamentos é acompanhado, no livro, não só com o detalhe das experiência científicas realizadas e dos seus resultados, mas também com exemplos reais de empresas que os introduziram e/ou melhoraram. O VER apresenta, de forma sumária, é certo, os principais factores que mais contribuem para estimular esta imprescindível confiança.


Clique aqui para continuar a ler a notícia


Ver comentários
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio