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FIFA: o princípio do fim do jogo sujo?

Gianni Infantino é o novo presidente da FIFA. Conhecedor dos meandros obscuros que caracterizam o desporto-rei, e depois de ter servido a UEFA ao longo de 15 anos, os sete últimos enquanto secretário-geral, terá a seu cargo a hercúlea tarefa de reabilitar a imagem conspurcada do organismo que tutela o futebol mundial. Alguns dão-lhe o benefício da dúvida, enquanto outros consideram ser quase impossível limpar quarenta anos de lixo muito tóxico

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Conta o The Guardian que quando Salman al Khalifa, presidente da Confederação Asiática de Futebol desde 2013 e um dos candidatos à presidência da FIFA, proferiu o seu discurso de campanha e prometeu, entre várias reformas, lutar pela "transparência" da organização, "engoliu involuntariamente em seco" ao proferir esta palavra. Razões para tal deve ter o sheik do Bahrein, acusado por várias organizações não governamentais de contribuir para abusos graves de direitos humanos – nomeadamente pelo seu alegado envolvimento na repressão ao movimento oposicionista à monarquia constitucionalista do seu país, durante a Primavera Árabe em 2011 –, de ser suspeito de compra de votos em eleições anteriores e ainda de ter sido um dos maiores apoiantes à polémica candidatura do Qatar para acolher o Campeonato Mundial de Futebol em 2022.

Salman haveria de engolir novamente em seco quando perdeu a cadeira mais importante da FIFA para o suíço Gianni Infantino, depois de uma segunda volta nas urnas, recebendo apenas 88 contra 115 votos das 207 associações de futebol que, em escrutínio secreto, haveriam de preferir o ex-secretário geral da UEFA ao sheikárabe.

A eleição, que decorreu a 26 de Fevereiro último, foi precedida por um congresso extraordinário, com vista à aprovação dos novos estatutos da FIFA, em conjunto com um novo pacote de reformas que, entre outras medidas, inclui a separação de poderes no que respeita aos acordos comerciais e às políticas de organização da Federação internacional de Futebol, a promoção do futebol feminino – e da participação, no geral, das mulheres nos seus órgãos -, a luta pelos direitos humanos e, como não poderia deixar de ser, a urgente batalha contra a corrupção que, nas últimas décadas, serviu como sinónimo para a própria FIFA.

Nos seus 112 anos de história, Infantino será o seu 9º presidente, depois de Joseph Blatter ter renunciado ao cargo (pois a isso foi obrigado), em Dezembro último e 17 anos depois de o ter ocupado pela primeira vez. O escândalo de corrupção que teve início em 2010, mas que só viria a estalar em 2015 – e cuja investigação está a ser concertada entre as autoridades jurídicas da Suíça e dos Estados Unidos – não será fácil de apagar da memória dos apaixonados pelo futebol, os quais mantêm fortes reservas sobre a possibilidade de a FIFA se reerguer da lama em que se afundou graças, em particular, às acções de Blatter, em conluio com vários outros "altos funcionários" do organismo que tutela o futebol mundial, alguns deles nomeados para o seu Comité de Ética o que, se não fosse sério, daria vontade de rir.


De acordo com uma sondagem realizada pela Transparency International – e a propósito do lançamento, na mesma semana "eleitoral", do seu literalmente gigantesco Relatório sobre Corrupção Global no Desporto -, 69% dos 25 mil fãs pertencentes ao universo de 28 países respondentes afirmaram não ter confiança na FIFA, com 50% dos mesmos a dar-lhe, contudo, o benefício da dúvida na possibilidade de esta conseguir restaurar a confiança perdida e com 43% dos fãs a afirmarem que os escândalos afectaram também a forma como desfrutam o próprio jogo.

Nesta questão em particular, foram 56% dos portugueses inquiridos que admitiram que a péssima "prestação ética" da FIFA contribuiu para alterar a sua paixão pelo futebol, sendo que são também os aficionados lusos (73%) a considerar o futebol como o desporto mais corrupto de todos. Um outro dado interessante desta sondagem prende-se, exactamente, com os candidatos à cadeira sem pernas de Blatter, com 60% dos respondentes a afirmar que nenhum dos que disputavam a corrida merecia ocupar o lugar de presidente e 69% a declararem que eles próprios, fãs, deveriam ter voto na matéria em causa: para além de Infantino, do sheik do Bahrain, os demais aspirantes ao poder da FIFA incluíam o príncipe jordano Ali al Hussein, o francês Jérôme Champagne e o milionário sul-africano (que acabou por desistir antes da votação) Mosima Sexwale.

Perante tais percentagens, que espelham bem as ruas da amargura a que está votada a Federação Internacional de Futebol, Infantino não terá um caminho fácil, sendo também verdade que são poucos os que acreditam que, mesmo com as promessas feitas em campanha pelo suíço, e com as reformas aprovadas por unanimidade pelas 207 associações de futebol que fazem parte da FIFA (na verdade, são 209, mas as do Kuwait e da Indonésia estão suspensas), o organismo responsável pelo futebol mundial enfrentará enormes desafios não só para recuperar a sua credibilidade, como para cumprir com os seus principais objectivos: jogar limpo e sem cartões vermelhos.


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