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Como convencer o chefe a não trabalhar horas a mais

Sim, é tempo de férias, mas como o que é bom depressa acaba, este artigo poderá ser útil para o regresso ao trabalho. Novos estudos reafirmam não só que o excesso de horas de trabalho faz mal à saúde e não provoca ganhos na produtividade – antes pelo contrário – mas também, e para os que têm mais de 40 anos e trabalham mais de 25 horas por semana, que poderá baixar os níveis de QI. Porque não queremos que uma grande parte da população activa portuguesa fique menos inteligente, o melhor mesmo é começarmos a pensar num horário laboral mais reduzido. Ou, pelo menos, a sonhar com ele

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Deverá o leitor recordar-se de uma notícia que correu mundo e que fez, decerto, inúmeros trabalhadores babarem-se por algo similar: a jornada de seis horas diárias de trabalho que a Suécia decidiu implementar, ainda que como experiência-piloto, apesar de a mesma ser já uma realidade em várias empresas deste país nórdico, super-produtivo e com um dos melhores rácios de equilíbrio entre vida profissional e pessoal. O VER escreveu, em Outubro de 2015, um longo artigo sobre o assunto, dando conta de estudos que realmente comprovam que existe uma correlação positiva entre menos horas de trabalho e maior produtividade – em conjunto com maior satisfação com a vida no geral -, de exemplos dos benefícios comprovados por algumas empresas suecas que tinham já implementado este modelo e também de investigações, na área da saúde, que confirmam uma ligação directa entre horas de trabalho "a mais" e maiores possibilidades de se sofrer acidentes cardiovasculares, por exemplo.

Ora e menos de um ano passado, de acordo com o Indeed, o maior website de emprego da Suécia, o ideal das seis horas diárias de trabalho não parece assim tão revolucionário quanto isso. Como noticia o The Independent, o mesmo site não registou nem sequer uma pesquisa para "trabalhar seis horas por dia" ou para "semana de trabalho mais curta", nem existem empregadores a promover activamente este "horário de sonho" nos seus anúncios de emprego. Todavia, e como explicou a economista-chefe do Indeed, estes resultados não significam que as jornadas laborais mais curtas na Suécia sejam um mito. Ao The Independent, Tara Sinclair afirmou que estes resultados confirmam apenas que "este é um sinal de que os suecos estão já habituados a um equilíbrio robusto entre vida profissional e pessoal", e que apesar de o tópico ter-se espalhado que "nem um incêndio" por toda a Internet, não consiste, de todo, uma grande novidade no seu país.

Em Portugal, e como sabemos, o regresso às 35 horas semanais de trabalho na função pública, uma das bandeiras do actual governo, entrou em vigor a 1 de Julho último, mas tal como aconteceu quando o anterior Executivo aumentou a jornada semanal para as 40 horas, a medida não foi isenta de polémicas. Não só porque existem dois tipos de vínculo para os funcionários públicos – visto que os trabalhadores com contrato individual estão ao abrigo da lei geral do trabalho, continuando a terem de cumprir 40 horas – mas também porque são muitas as vozes que se erguem afirmando que, quando uma medida desta natureza nasce, é como o sol e tem de ser para todos. Ou seja, por que motivo são os trabalhadores do sector privado discriminados no que ao número de horas de trabalho diz respeito, mais a mais quando tudo indica que trabalhar mais não é sinónimo de trabalhar melhor.

Sem nos determos neste já longo debate – e para o qual se deve ter em conta um conjunto considerável de variáveis – e como meio Portugal está de férias e a outra metade prepara-se para no sentido delas zarpar – o VER foi à procura de razões adicionais que possam, no futuro, convencer governos e empregadores privados de que as longas jornadas de trabalho não só não são equivalentes a maiores níveis de produtividade, como têm custos substanciais na vida pessoal e familiar e, de acordo com um estudo recente, na própria inteligência dos trabalhadores. O aviso é que esta última novidade apenas diz respeito aos maiores de 40 anos. Ora veja.

© DR
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Tem mais de 40 anos e trabalha mais do que 25 horas por semana? Cuidado com o seu QI

De acordo com um estudo publicado pelo Melbourne Institute of Applied Economic and Social Research, na Austrália, se tem mais de 40 anos e trabalha mais do que 25 horas por semana, saiba que poderá estar a ficar menos inteligente. E não, não é brincadeira, pelo menos a fazer fé nos resultados apresentados pelos investigadores responsáveis pelo mesmo. "Para os que trabalham menos de 25 horas por semana, um aumento do tempo de trabalho que não ultrapasse este limite, poderá ter um impacto positivo no seu funcionamento cognitivo. Todavia, quando o número de horas a trabalhar excede as 25 horas semanais, este aumento traduz-se num impacto negativo na cognição.

Interessante é também o facto de não existirem diferenças estatísticas significativas nos efeitos das horas de trabalho no que respeita ao funcionamento cognitivo entre homens e mulheres", pode ler-se logo no sumário do estudo.

A ser verdade, tal significa que, pelo menos em Portugal, uma significativa parte da população activa – onde provavelmente o leitor e eu nos encontramos – está a perder "inteligência", isto para não afirmarmos que cerca de 3 milhões de portugueses [e de acordo com uma estimativa com base nos dados da PORDATA] estão a ficar mais "burros". Estes mesmo dados talvez expliquem o motivo devido ao qual, e lá para os Estados Unidos, o senhor do cabelo laranja tenha conseguido ser eleito como candidato presidencial, visto que em certos sectores, como na banca e por exemplo, os americanos trabalham, em média, 17 horas por dia, o que equivale a cerca de 120 horas por semana. Mas isso é uma outra história.

De regresso ao estudo, que avaliou mais de seis mil trabalhadores, a sua principal premissa é a de que o trabalho em excesso, para além de causar fadiga e stress físico e/ou psicológico, potencia danos significativos na função cognitiva.

De acordo com Colin McKenzie, professor de Economia na Keio University, em Tóquio, e investigador principal do estudo em causa, "no que respeita ao funcionamento cognitivo, trabalhar demasiado é pior do que não trabalhar de todo". Citado pelo Medical Daily, McKenzie explica que "no início, o trabalho estimula as células cerebrais", mas que devido ao stress associado ao trabalho físico e psicológico em excesso, "acaba por chegar a um determinado ponto em que afecta quaisquer potenciais ganhos que dele se possam retirar". Todavia, o investigador alerta também para o facto de, em pessoas mais idosas, " [algum] trabalho poder estimular a actividade cerebral e ajudar a manter as funções cognitivas.


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