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Cerca de 35% do talento mundial não está a ser utilizado

O mundo do trabalho está a sofrer uma (r)evolução sem precedentes e pouco ainda se sabe quais serão os desafios mais prementes que teremos de enfrentar num futuro não muito longínquo. Mas e de acordo com o Relatório sobre Capital Humano divulgado recentemente pelo Fórum Económico Mundial, há que repensar profundamente o que significa aprender e trabalhar no século XXI

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No que respeita a perder oportunidades gigantescas no que ao potencial económico das populações diz respeito, os países ricos e os países pobres não se comportam de maneira muito diferente. Ou, e de acordo com o Relatório sobre Capital Humano, publicado a 28 de Junho último, pelo Fórum Económico Mundial (FEM), apenas 65%, em média, do talento mundial está a ser devidamente optimizado ao longo de todas as fases da "vida laboral".

Depois de analisar 130 países, através de 48 indicadores, o relatório em causa, relativo a 2016, e que visa avaliar os resultados das políticas passadas e presentes no que respeita ao investimento em educação e competências, juntou ainda à sua pesquisa um conjunto alargado de dados retirados de plataformas online como a Care.com, o LinkedIn, a Uber e o Upwork, essenciais, nesta Quarta Revolução Industrial – o "tema-mor"eleito este ano como a bandeira do FEM – para gerar um conhecimento mais aprofundado sobre as disparidades ou inadequações de competências em conjunto com o potencial para a denominada "economia gig online".

Sem tradução literal para o português – a não ser uma espécie de economia dos "biscates", a qual, na nossa língua, assume um carácter pejorativo, apesar de errado – a "economia gig" pode ser definida como o contrário do "trabalho para a vida", ou do trabalho "verdadeiro e certinho", que nos assegura um ordenado ao fim do mês. Esta tendência, que une um cada vez maior número de pessoas que prefere ganhar a vida a fazer "gigs" do que a trabalhar a tempo inteiro promete, para os optimistas, um futuro de empreendedores independentes e de inovação sem fronteiras ou limites, ao passo que para os seus críticos pressagia um futuro distópico de trabalhadores desenraizados constantemente à "caça" de um trabalhito de curta duração. Todavia, e independentemente dos seus defensores ou críticos, a "economia gig" consiste num dos grandes temas analisado por este relatório do FEM.

Globalmente e até 2020, mais de 200 milhões de pessoas continuarão sem trabalho

Independentemente das conclusões desta ambiciosa análise, uma coisa parece mais que certa: se 35% do capital humano mundial não está a ser utilizado, muito terá que mudar nas políticas de educação e emprego e a breve trecho. Como escreve o fundador e presidente do FEM, Klaus Shwab "a transição que estamos a viver para a Quarta Revolução Industrial, combinada com uma crise de governança, está a criar uma necessidade urgente para que educadores e empregadores repensem, profundamente, o capital humano através de um novo diálogo e de parcerias variadas. A adaptação das instituições educativas, das políticas que regem o mercado laboral e dos locais de trabalho será crucial para o crescimento, igualdade e estabilidade social".

Para além do ranking dos 130 países e da classificação da utilização – ou subutilização – do capital humano global por faixa etária (v.Caixa), o VER destaca as principais conclusões do relatório, tendo em conta que são os "dotes" de capital humano de cada nação – ou seja, o conhecimento e as competências "contidos" nos seus indivíduos – que mais contribuem para a criação de valor económico.

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A próxima geração terá de ser capacitada para a aprendizagem ao longo da vida

Estima-se que, no mundo em desenvolvimento, 25 mil novos trabalhadores se juntarão ao mercado laboral, por dia e até 2020, ao mesmo tempo que, globalmente, mais de 200 milhões de pessoas continuarão sem trabalho. Entretanto e em simultâneo, é cada vez mais expectável uma escassez de cerca de 50 milhões de pessoas com competências elevadas e capazes de ir ao encontro das necessidades das empresas ao longo da próxima década. Por outro lado, continuamos a viver num mundo onde cerca de 90 milhões de crianças não têm acesso à educação primária, 150 milhões não podem frequentar o ensino secundário e centenas de milhões de jovens não têm condições para prosseguir estudos universitários, ao mesmo tempo que assistimos também à falta de cerca de quatro milhões de professores qualificados por ano.

Em simultâneo, e no seguimento da Quarta Revolução Industrial já anteriormente mencionada, todas as indústrias e todos os mercados laborais sofrerão alterações radicais. Por exemplo, e de acordo com o relatório, os países que mais depressa estão a adoptar os robôs industriais são agora economias emergentes, em que o mais claro exemplo é a China, mas também a República da Coreia. Com um dia de trabalho de 24 horas, o período estimado de recuperação do investimento é de um ano e meio na China comparativamente, ainda há pouco tempo, a dez anos.

A ubiquidade da internet móvel estar a dar origem a um mercado laboral verdadeiramente global

Uma outra constatação decorrente do relatório prende-se com o facto de a ubiquidade da internet móvel estar a dar origem, e pela primeira vez, a um mercado laboral verdadeiramente global. As plataformas de talento digital têm o potencial para permitir que milhões de pobres e de trabalhadores marginalizados tenham acesso ao mercado laboral global como nunca tiveram antes. E este novo ambiente laboral – onde o trabalho é global, mesmo que os trabalhadores não o sejam – poderá criar excelentes oportunidades para que os países em desenvolvimento saltem etapas de progressão tecnológica, equipando as suas forças de trabalho para que estas explorem, directamente, o mercado laboral global.

Um outro alerta está relacionado com a complexa transição da educação para o emprego, uma tendência que se tem vindo a agudizar, em particular num mundo onde a incerteza é a única certeza que existe. Os autores do relatório apontam para a urgência de se acabar com a divisão existente entre os ministérios da educação e do emprego, sublinhando, ao mesmo tempo, que as empresas têm também um papel crucial em termos de investimento na educação, bem como na adequada especificação do que realmente procuram quando estão a contratar. Dado que as economias actuais têm como base, e de forma crescente, o conhecimento, a tecnologia e a globalização, e simplesmente porque ainda não conseguimos prever os empregos de amanhã, existe também um substancial reconhecimento de que a próxima geração terá de ser capacitada para a aprendizagem ao longo da vida. É que, como já é sobejamente aceite, a ideia de uma educação "única" que forneça às pessoas as competências necessárias para toda a sua vida profissional é coisa do passado.


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