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As Nações Unidas também pintam a verde?

Dez anos passados e num estudo agora divulgado, as conclusões demonstram que “compromisso” nem sempre é traduzido por actos responsáveis.

18 de Novembro de 2010 às 17:30
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É do conhecimento geral que, em 2000, tornou-se urgente a criação de uma iniciativa que reunisse, sob a égide das Nações Unidas, um conjunto de princípios que “convidasse” as empresas a alinharem as suas operações e estratégias nas áreas dos direitos humanos, trabalho, ambiente e medidas anti-corrupção. Mas, dez anos passados e num estudo agora divulgado, as conclusões demonstram que “compromisso” nem sempre é traduzido por actos responsáveis.

De acordo com um artigo de opinião publicado por Jon Entine, membro do conselho de administração da Ethical Corporation, existe uma necessidade urgente de forçar os membros aderentes do Global Compact (GC) a comportarem-se melhor. A iniciativa levada a cabo pelas Nações Unidas, há já uma década, e que convida as empresas a comprometerem-se com os 10 princípios estabelecidos e universalmente aceites nas áreas dos direitos humanos, politicas laborais, ambiente e anti-corrupção, é agora um enorme clube que conta com oito mil empresas espalhadas por 135 países. Na verdade, qualquer organização empresarial que se preze, tem de fazer parte do Global Compact. Contudo, um compromisso nem sempre é traduzido em verdadeiros actos responsáveis. E apesar de a iniciativa ser louvada por ter “globalizado” a conversa de como os negócios podem (e devem) ter um papel principal e positivo na sociedade, quando um membro quebra as suas regras de funcionamento, não existem punições, mas atribuição de medalhas. Dando como exemplo a PetroChina, a empresa de petróleo que constitui o “braço” da petrolífera detida pelo governo chinês CNPC e que é considerada como um dos maiores gigantes do sector, e igualmente gigantesca em termos de controvérsia, o opinante recorda que a primeira foi criada como subsidiária em 1999 pela empresa-mãe depois de esta ter sido acusado de graves violações dos direitos humanos. Em 2007, PetroChina foi aceite como membro do GC, ao passo que a CNPC nunca sequer se candidatou a tal.

Hoje, a CNPC é dona e senhora da quase totalidade exploração petrolífera no sul do Darfur. De acordo com a organização Investors Agains Genocide, mais de 70% das receitas geradas do lucrativo acordo estabelecido entre o Sudão e a CNPC são canalizadas para as forças militares sudanesas que, como é do conhecimento geral, são responsáveis pela deslocalização de milhares de pessoas e pelo assassínio em massa de outras tantas. Em 2009, tanto a CNPC como a PetroChina foram acusadas de violação grave dos direitos humanos. Na altura, o director executivo do Global Compact, Georg Kell, insurgiu-se contra o “ataque”, garantindo que a PetroChina era uma empresa separada [da CNPC] e que não era cúmplice das atrocidades cometidas no Darfur. Ora, como várias organizações não governamentais conseguiram atestar, os membros do conselho de administração da CNPC são exactamente os mesmos da PetroChina, existindo uma total sobreposição das suas operações. O mais bizarro de toda a situação foi o próprio Global Compact ter dado como exemplo de boas práticas a PetroChina porque “ao contrário de muitas outras empresas [a operar em zonas de conflito], esta deu o enorme passo de se ter comprometido com os princípios do Global Compact”. Ou seja e em resumo, os líderes do GC estão aparentemente convencidos de que é um feito louvável (e suficiente) ser-se um membro do maior clube do mundo de empresas bem-intencionadas.


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