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Bill Gates: O filantropo catalítico

Bill Gates pode ter um ego maior do que a sua inestimável fortuna. Mas a verdade é que já tem lugar cativo na história da filantropia global.

06 de Dezembro de 2013 às 14:58
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A sua fundação é a maior do mundo e o impacto que já gerou na vida de milhões de pessoas é inigualável. O homem que se reinventou – deixando a cadeira dourada da Microsoft – reinventa também a filantropia, a qual denomina agora como catalítica…

 

 

Bill Gates é, sempre foi e muito provavelmente sempre será uma pessoa que não gera consensos. Se ganhou muitos inimigos na altura em que a Microsoft reinava sozinha no mundo do software, a verdade é que desde que se dedica, quase a tempo inteiro, a tentar resolver alguns dos problemas mais prementes do mundo, outros inimigos tem colecionado. Genial para uns, vaidoso e egocêntrico para outros, o segundo homem mais rico do mundo (no ranking da Forbes de 2013, continua atrás de Carlos Slim, com uma riqueza líquida avaliada em 67 mil milhões de dólares) é também conhecido como o homem que se reinventou a si mesmo ao mesmo tempo que reinventou também a filantropia.


Em 2008, enquanto orador convidado do Fórum Económico Mundial, em Davos, Gates apresentou um manifesto no qual apresentaria o seu conceito de capitalismo criativo. Cinco anos mais tarde, e ao ser convidado para gerir a edição de Dezembro da revista Wired, Gates apresenta o seu plano para melhorar o nosso mundo e fala em filantropia catalítica. Mas afinal, que mais quer o homem mais rico da América, o segundo mais rico do mundo e o mentor da maior fundação da história da humanidade?

 

Numa entrevista recente realizada pelo Financial Times, Bill Gates assume-se como um tecnocrata, mas não acredita que será a tecnologia a mudar o mundo. Ou, para se ser mais preciso, não acredita que esta possa solucionar uma rede complexa de problemas inter-relacionados e muito “emaranhados” que afectam os mais vulneráveis da humanidade: a disseminação de doenças no mundo em desenvolvimento em conjunto com a pobreza e a ausência de oportunidades que continuam a marcar a vida de tantas pessoas. A ideia de que, actualmente, todos os multimilionários da área da tecnologia têm uma visão de como a tecnologia pode mudar o mundo é, para o filantropo e homem de negócios veterano, encarada como um certo sarcasmo, ou não tivesse ele vastos anos de experiência sobre ambas as áreas em causa.

 

De acordo com a peça escrita pelo Financial Times, o novo consenso existente entre os milionários techies é o de que a Internet constitui uma força inevitável para o desenvolvimento social e económico, sendo a conectividade um bem social em si mesmo. E foi esta visão que parece ter inspirado Mark Zuckerberg a delinear um plano que coloque online os cinco mil milhões de pessoas que ainda não desfrutam do mundo virtual, um esforço apelidado pelo patrão do Facebook como “um dos maiores desafios da nossa geração”. E quando Gates é questionado se uma ligação de Internet pode ser mais importante do que encontrar uma vacina para a malária, não consegue esconder a sua irritação: “uma prioridade ou uma anedota?”, responde com sarcasmo.

 

Sendo assim e dado que um dos primeiros sonhos deste homem enquanto fundador da Microsoft foi o de colocar um computador em cada mesa, o que aconteceu à sua visão, igualmente tecnológica, que agora parece descartar? O seu plano publicado na revista Wired pode responder a algumas destas aparentes incongruências.

 

A filantropia tem a força de um imperativo moral
Escrito na primeira pessoa, o artigo de Bill Gates publicado na revista Wired começa pela sua mais recente obsessão: a dos fertilizantes. E porquê? Porque, de acordo com as suas próprias palavras, duas em cada cinco pessoas que vivem no planeta na actualidade devem as suas vidas à explosão da produtividade agrícola – a verdadeira, a seu ver, Revolução Verde – tornada possível pelo uso dos fertilizantes. Como qualquer outra obsessão, a de Gates parece ser exagerada se tomada como um exemplo singular. Mas o que dá corpo ao seu plano para melhorar o mundo, dá igualmente significado à forma como passou a entender o trabalho filantrópico que desenvolve. Sigamos o raciocínio. Esta explosão agrícola retirou centenas de milhares de pessoas da pobreza extrema em todo o mundo. E o mesmo aconteceu com outro tipo de inovações que não são comummente elencadas como a tal. Como escreve, cerca de 40% da população mundial está viva porque, em 1909, o químico alemão, chamado Fritz Haber, conseguiu sintetizar o amoníaco (imprescindível para a produção dos fertilizantes); um outro exemplo é o facto de os casos de poliomielite terem decrescido 99% nos últimos anos, não porque a doença se “erradicou a si mesma”, mas porque Albert Sabin e Jonas Salk inventaram a vacina para a pólio e o mundo inteiro fez um esforço colectivo para a administrar em grande escala.


O que Gates pretende explicar, com estes dois exemplos, é que uma das suas actuais prioridades é pensar no progresso de inovações que realmente melhoram as vidas das pessoas, tal como os fertilizantes ou as vacinas para a poliomielite o fizeram. E se a tecnologia pode ser fantástica, não é através dela que se chega às pessoas com necessidades mais prementes, pelo menos no período de tempo suficiente para realmente se fazer a diferença. E é esta distinção entre inovação e tecnologia que parece marcar a diferença no seu pensamento da actualidade, reflectido exemplarmente na forma como, em conjunto com a mulher Melinda, gere as prioridades da fundação de ambos.

 

 

 

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