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Quatro aplicações financeiras a evitar

Há ativos em que não deve investir. A PROTESTE INVESTE diz-lhe quais.

Negócios 21 de Dezembro de 2015 às 12:19
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Independemente da conjuntura, há ativos cujas características intrínsecas os tornam pouco aconselháveis ao investidor mediano, quer pelo risco elevado, quer pela sua complexidade, ou ambas as coisas. Conheça os quatro produtos financeiros de que deve fugir.

Produtos estruturados
Podem ser de vários tipos, mas referimo-nos a produtos financeiros complexos sem garantia de capital e cujo rendimento depende da evolução de um ativo financeiro, habitualmente um conjunto de ações mas também podem ser matérias-primas como o petróleo ou o café, metais preciosos como o ouro, entre outros.

A rentabilidade é determinada por fórmulas de cálculo, que nalguns casos são bastante complexas e que têm muita influência no resultado final. Depois, estas aplicações não podem ser resgatadas. Para recuperar o capital terá de vender, sem garantia de recuperar o que investiu ou até de encontrar comprador, já que por vezes nem são admitidos à cotação. Existem também depósitos indexados, que são semelhantes quanto ao rendimento, mas têm obrigatoriamente o capital garantido pelo banco e estão ao abrigo do Fundo de Garantia de Depósitos, tal como outros depósitos à ordem e a prazo, sendo por isso menos arriscados. Mas tal não quer dizer que sejam recomendados. Veja-se o caso do BPI Tecnológicas 2015, um depósito indexado desaconselhado pela PROTESTE INVESTE setembro de 2014. Esta aplicação tinha duas possibilidades de rendimento (2,9% ou 0,2% líquidos) e apostava num conjunto de ações do setor tecnológico: Apple, Microsoft, Intel, Google e Amazon. São empresas líderes nas suas áreas específicas, e os mercados estão a atravessar um bom momento, portanto um investidor poderia estar à espera de receber o rendimento máximo (investindo 5000 euros, rendia 144). Não foi o que aconteceu. Apesar de 3 das empresas valorizarem (com a Amazon a subir quase 60%), a Microsoft e a Intel desvalorizaram. E bastava que a cotação de uma delas caísse para os investidores receberem apenas o rendimento mínimo (quem investiu 5000 euros, recebeu 9 euros, depois de impostos). Se não dispõe de conhecimentos na área financeira ou apoio especializado, o melhor é evitar estes produtos financeiros complexos.

Forex
Forex (Foreign Exchange) é o mercado de divisas (cambial). Possibilita ao investidor apostar, por exemplo, na valorização do dólar face ao iene ou do euro face à libra esterlina. Embora a negociação seja simples, os fatores que influenciam a variação das divisas são complexos. Mas o que nos leva a desaconselhar este mercado são dois fatores. Por um lado, é um terreno fértil para propostas desonestas, desde burlas que prometem rendimentos garantidos a corretoras com práticas pouco lícitas que se aproveitam da menor regulação. Por outro lado, pressupõe normalmente que o seu investimento seja multiplicado por 5, por 10 ou até por 100.

É esta alavancagem que possibilita grandes ganhos mas também enormes perdas. Por exemplo, o investidor coloca 500 euros de capital na conta, mas o corretor permite-lhe investir como se estivesse a investir 50 000 euros. Vamos supor que investe no par euro / dólar e que o euro valoriza 1% face à moeda americana. Neste caso, o investidor ganha 500 euros (ou seja, 1% sobre 50 000 euros), o que corresponde a duplicar o seu investimento original.

Mas vamos supor agora que é a divisa europeia a desvalorizar 1%. Como a perda se reflete sobre os 50 000 euros, traduz-se numa perda total do capital para o investidor, que na realidade apenas dispõe de 500 euros. Em teoria as perdas poderiam ser superiores ao capital investido, ainda que na prática os corretores procurem fechar automaticamente as posições dos investidores antes que isso aconteça.

É este amplificar de ganhos, mas também das perdas, que leva a que o investimento em forex se possa tornar um autêntico casino. A SEC, supervisor do mercado de títulos nos Estados Unidos, concluiu que 65% dos investidores saíam a perder desta "roleta russa" financeira. Prefira opções mais prudentes, a longo prazo e diversificadas.

Credit Linked Notes (CLN)
As Credit Linked Notes são autênticas bonecas matrioscas, com várias camadas. É um título de dívida emitido por uma instituição financeira, logo o capital e o rendimento dependem, desde logo, do emitente do título. Mas o pagamento está também ligado ao risco de crédito de uma (ou mais) empresa(s) de referência - daí a expressão credit linked. Em caso de incumprimento (atraso no pagamento, restruturação da dívida ou insolvência), o emitente não terá de pagar ao investidor, que sofrerá pesadas perdas (no limite, a totalidade do capital investido). Os riscos são somados: uma CLN é muito mais arriscada que uma obrigação emitida apenas pelo emitente ou apenas pela entidade de referência. E assim sendo, o investidor deve também exigir uma remuneração superior ao que receberia de qualquer uma das entidades isoladas. Mas o que verificamos é que o rendimento, em regra, está próximo do oferecido por títulos de dívida com risco semelhante ao das entidades de referência. Ou seja, o investidor não é totalmente compensado pelos riscos que corre. As CLN são um mau negócio. Mantenha-se afastado.

Junk bonds
São obrigações de empresas cujo crédito é considerado de baixa qualidade (podemos traduzir junk por "lixo"), empresas cujo risco de crédito é muito elevado (veja o Didático na página 30). Os incumprimentos (default) são relativamente raros, mas quando ocorrem, provocam aos investidores perdas muito pesadas. Veja-se o caso da Abengoa, gigante espanhola da engenharia e energia renováveis, que recentemente foi obrigada a pedir proteção contra credores. Mesmo obrigações próximas da maturidade como as que se vencem em março de 2016, perderam quase todo o seu valor.

Do ponto de vista estratégico da alocação de ativos, as junk bonds são também uma escolha pobre. Ao contrário das obrigações invesment grade (particularmente a dívida pública), tendem a estar mais correlacionadas com os mercados acionistas, isto é, se a aversão ao risco dos investidores aumenta e as ações caem, as obrigações "lixo" não são consideradas ativos de refúgio e tendem a cair também. Portanto, pouco contribuem para uma real diversificação da sua carteira. Reforçamos o conselho de se manter afastado quando se tratar de obrigações com prazos longos (5 ou mais anos). As taxas de juros estão em níveis baixos e alguns mercados estarão na véspera de um ciclo de normalização das taxas, como é o caso dos Estados Unidos. Os detentores destas obrigações arriscam-se a assistir a quedas no valor de mercado dos seus títulos, independentemente do risco de crédito. Não corra riscos desnecessários por mais uns "pozinhos" de rendimento.

Defender os investidores
Após diversos anos de luta, os investidores em produtos estruturados, incluindo as credit linked notes, estão hoje mais protegidos: no momento da subscrição, das páginas a assinar já constam avisos claros, em linguagem mais simples e com alertas gráficos relativamente ao risco destes produtos e à possibilidade de perder capital. Mas o forex, um dos investimentos mais arriscados que um investidor pode encontrar, continua a ser promovido de forma pouco responsável. Tal como não bastava para produtos até de menor risco, não bastam menções dispersas ao risco de perda do capital investido ou superior. É necessário alertar os investidores com a mesma clareza e transparência, e os intermediário financeiros devem abster-se completamente de propor o investimento em forex a clientes que não tenham uma grande experiência e com património suficiente para absorver as potenciais perdas. Muitos dos piores exemplos são intermediários estrangeiros, que escolhem países da União Europeia onde a supervisão será menos exigente para se instalar e oferecem os seus serviços pela Internet. É necessário uma ação concertada a nível europeu, que não deixaremos de exigir à ESMA, a autoridade europeia para os mercados financeiros.
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