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Sufocada por turistas, Veneza procura alternativas para sobreviver

Veneza recebeu cerca de 5 milhões de turistas em 2017, o que compara com os 2,7 milhões registados em 2002.

Bloomberg
06 de Julho de 2019 às 12:00
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Se já esteve em Veneza, sabe do que estamos a falar. Mesmo o turista mais exausto não pode deixar de admirar a pura originalidade - e beleza - da cidade secular construída inteiramente sobre a água.

 

No entanto, até mesmo a visita mais rápida revela que Veneza não é mais uma cidade viva, com dezenas de turistas a superar o número de venezianos lotando a sua lagoa, pontes e passeios. Os números confirmam. A população da cidade chegou ao pico nos anos 1500 e, embora tenha aumentado novamente até os níveis do século XVI na década de 1970, hoje os venezianos correspondem a apenas um terço dos habitantes observados há 50 anos.

 

Antes a proeminente cidade-estado do Mediterrâneo, Veneza hoje parece impotente para reverter a tendência de crescentes turistas e cada vez menos moradores. Quando um gigantesco navio cruzeiro chocou contra um barco cheio de turistas no início do mês, causando quatro feridos, associações civis e o número cada vez menor de venezianos apressaram-se em lembrar o que vinham a dizer há anos: a lagoa é pequena demais e cheia demais para acomodar grandes navios de cruzeiros que aparecem diariamente na época alta.

 

Mas Veneza não pode parar. Mais museu do que cidade moderna, é viciada no dinheiro que as hordas de turistas trazem. Setores tradicionais como produtos químicos e aço estão a desaparecer, e o Ministério do Desenvolvimento de Itália chegou a declarar a região em estado de crise industrial. Com poucas opções além do turismo, a cidade conhecida como Serenissima parece ter pouca escolha.

 

O acidente foi "uma consequência direta de anos de escolhas em nome do dinheiro", disse Claudio Vernier, que dirige a associação Piazza San Marco e gere uma geladaria na praça. "A cidade está infestada pelo excesso de turismo. Os serviços não conseguem acompanhar a crescente procura por turismo barato e de ritmo acelerado."

 

Cerca de 5 milhões de turistas visitaram a cidade em 2017 em comparação com 2,7 milhões em 2002, segundo dados de hotéis da cidade, que não levam em conta as milhares de reservas feitas pelo Airbnb e serviços semelhantes. Enquanto isso, a população residente encolheu para menos de 60 mil habitantes.

 

Na rua, ou melhor, ao nível do canal, fica claro que é preciso fazer alguma coisa para manter os números sob controlo. No centro histórico, livre de carros, a espera por um lugar num "vaporetto" - a versão local de um autocarro do canal - pode ser de até 20 minutos, apesar da tarifa de 6 euros.

 

Acotovelando-se com caçadores de "souvenirs" queimados pelo sol, moradores dizem que estão fartos de meia hora de espera por uma taça de prosecco nos famosos bares "bacari" da cidade.

 

E agora estão a ser forçados a pagar como turistas também. Muitos donos de empresas abandonaram o antigo sistema de preços que cobravam mais aos visitantes por alimentos e serviços, o que significa que agora os moradores pagam os mesmos preços inflacionados que os estrangeiros.

 

"Veneza tornou-se um lugar impossível de viver", disse Nicola Ussi, vendedor de souvenirs. "É muito cara e tudo é projetado para impulsionar o turismo". Ussi apoia a ideia de um sistema de reservas que limite as entradas diárias na cidade.

 

(Texto original: The Long, Slow Death of Venice)

 

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