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Pilotos ‘enferrujados’ são a nova dor de cabeça do setor aéreo

A 15 de setembro, um avião na Indonésia com 307 passageiros e 11 tripulantes com destino à cidade de Medan, no norte do país, saiu momentaneamente da pista após a aterragem, o que levou à abertura de uma investigação pelo regulador de segurança de transportes do país.

05 de Dezembro de 2020 às 17:00
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A agência descobriu que o piloto tinha voado menos de três horas nos 90 dias anteriores. O copiloto não voava desde 1 de fevereiro.

O incidente destaca um novo risco da pandemia de coronavírus: os pilotos não têm oportunidades suficientes de voar, porque as companhias aéreas aterraram os aviões e reduziram as operações devido à queda da procura por viagens.

No seu relatório preliminar, o Comité Nacional de Segurança de Transportes da Indonésia disse que a pandemia dificultou a manutenção da proficiência dos pilotos e a experiência de voo. A aeronave da Lion Air envolvida no incidente era um Airbus A330, um dos 10 da frota da operadora. Como a Lion Air não tem um simulador para o A330, os pilotos são treinados em instalações de terceiros na Indonésia, Malásia e Singapura. As restrições de viagens devido à covid-19 dificultaram o acesso.

 

"Os voos regulares mantêm a sua mente no cockpit", disse Mohan Ranganathan, consultor de segurança da aviação que foi assessor da Direção Geral de Aviação Civil da Índia. "Ficar sem voar durante tanto tempo traz alguma complacência. Acrescente-se a isso a perda de rendimentos, a incerteza sobre o emprego ou o futuro da companhia aérea, que causam mais stress. Com o aumento dos níveis de stress, a proficiência cai."

 

A empresa de análise Cirium diz que quase 30% das aeronaves comerciais globais permanecem paradas em terra - estacionadas na região central da Austrália e no deserto de Mojave, nos Estados Unidos. Embora tenha havido uma recuperação dos voos internos em mercados maiores, como a China, o tráfego internacional está muito abaixo dos níveis pré-pandemia por causa de restrições nas fronteiras e quarentena obrigatória, um grande impedimento para os que viajam. Milhares de pilotos foram despedidos ou estão em licença, e os que ainda trabalham voam muito menos porque há pouca procura.

 

O regresso do 737 Max da Boeing poderá acrescentar ainda mais complexidade. A aeronave foi aterrada, a nível global, em março de 2019 depois de dois acidentes, mas foi novamente autorizada no mês passado pela FAA dos EUA com um pacote extenso de ajustes.

 

"Para alguns operadores do Max, dependendo de onde estão e do seu status operacional, a paragem pode causar outros desafios", disse Shukor Yusof, fundador da consultora de aviação Endau Analytics, na Malásia. "No entanto, isso é algo no qual a Boeing já está a trabalhar, e têm equipas para ajudar os clientes durante esse processo."

A "ferrugem" do piloto também foi citada pela principal autoridade de segurança da aviação da Europa como possível fator para a queda de um avião da Pakistan International Airlines em Karachi em maio, que matou 97 das 99 pessoas a bordo. Ninguém ficou ferido no incidente com a Lion Air na pista.

"Os pilotos não pareciam tão fluentes como deveriam na forma como estavam a conduzir os voos", disse em setembro o diretor executivo da Agência Europeia para a Segurança da Aviação, Patrick Ky, sobre o voo da PIA. "Se não voam há três meses, seis meses, têm de ser treinados de alguma forma para poder voltar."

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