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Confusão no aeroporto de Lisboa após pico de 50 mil passageiros
O aeroporto Humberto Delgado passou por maus momento este fim de semana, com o SEF a reconhecer falta de preparação facea esta procura. O Presidente da República deixou alerta, e Mia Couto, que teve de esperar várias horas, fala em “afronta contra a dignidade humana”.
O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) esclareceu que este fim-de-semana ocorreu no aeroporto de Lisboa um pico de 50 mil passageiros, “incluindo cerca de 3.000 provenientes de voos a controlar pelos agentes de fronteiras”, o que gerou “demoras acentuadas”.
“Muito honestamente, não estávamos preparados para este aumento exponencial de turismo e de passageiros, e a própria infraestrutura, como o senhor ministro da Administração Interna já disse, também não está adequada a esta realidade”, disse a inspetora Ana Vieira em declarações aos jornalistas esta segunda-feira à tarde no aeroporto Humberto Delgado.
Antes disso, em comunicado, o organismo – que ainda não tem data para ser extinto – já tinha justificado os problemas e deu conta do resultado da operação em Lisboa: “Três detenções por uso de documento fraudulento, sete recusas de entrada, quatro pedidos de asilo na fronteira e o controlo de 16 passageiros em trânsito com recusa de entrada noutros aeroportos”.
O organismo assinalou, no entanto, que os aeroportos de Faro (36 mil passageiros) e Porto (10 mil), apesar de “sujeitos a grande pressão”, não tiveram “quaisquer constrangimentos”.
O SEF recordou que o Plano de Contingência para os aeroportos portugueses iniciou-se a 2 de junho e estará a funcionar em pleno só a partir de 4 de julho, altura em que o reforço de 238 efetivos do SEF e da PSP ficará completo, totalizando 529 elementos. Ainda esta semana está previsto “a partir de 15 de junho, o aumento do reforço interno nos aeroportos de Lisboa e Porto, por elementos de outras unidades do SEF”.
Face a este cenário, o Presidente da República disse esta segunda-feira esperar “que não haja no verão o que tem havido nos aeroportos, nomeadamenteo de Lisboa”, uma vez que “não é nada bom para o turismo português”.
A indignação de Mia Couto
“O que se passou hoje no aeroporto internacional de Lisboa foi uma enorme afronta contra a dignidade humana”, escreveu Mia Couto esta segunda-feira sobre as filas de espera no aeroporto de Lisboa. Num artigo de opinião escrito no jornal Público, entitulado de “Indignação”, o escritor moçambicano insurgiu-se contra a falta de condições que enfrentou.
“Filas quilométricas de passageiros foram tratadas como se fossem gado, obrigadas a esperas que iam de quatro a cinco horas, de pé, sem a mais pequena das explicações, sem o apoio de uma cadeira, de água ou de qualquer conforto, fosse esse conforto a simples presença de alguém que atendesse os casos de pessoas com necessidades especiais”, lamentou o escritor. “A humilhação foi distribuída por igual entre os que não tivessem um passaporte da UE. Jovens, mães com crianças, idosos e pessoas com deficiência foram obrigados sentar-se no chão e ali esperaram até que a exaustão se converteu num imenso clamor de protesto e de revolta. Vergonha, isto é uma vergonha, gritavam as pessoas”, segundo Mia Couto, que diz ser “um atentado contra a tradição portuguesa de bem receber os outros”.
“É a pior das receções que um estrangeiro pode ter à chegada a um país que escolheu e pagou para visitar. Senti isso na pele, juntamente com centenas de pessoas já exaustas depois de longos voos e que, em vez de um abraço de boas-vindas, enfrentaram a humilhação de um dia que não esquecerão nunca”, acrescentou.