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Facebook é omnipresente. Mas é confiável?

Este foi o ano do Facebook. O preço das acções aumentou cerca de 50%, pois a empresa continua a afirmar o seu domínio na actividade dos utilizadores e na receita de publicidade digital.


Os gigantes tecnológicos dos EUA (Facebook, Amazon, Apple, Netflix e Google) foram responsáveis por uma subida do Nasdaq até 29% em 2017, até ao momento, e o retorno dos FAANG cifrou-se em mais de 50%, em termos médios. Na nossa opinião, não se trata de uma mera recorrência da bolha dot-com verificada no final da década de 1990. Ao contrário dessa experiência — durante a qual os analistas imaginaram novas formas de valorizar empresas que não passavam de ideias — as empresas que lideram actualmente o sector são reais e apresentam fluxos de caixa tangíveis. Estamos em crer que a inovação tecnológica é um tema estrutural que poderá acrescentar 1% -1,5% ao crescimento potencial do PIB mundial nos próximos 10-15 anos.
Reuters
22 de Outubro de 2017 às 13:00
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O Facebook prejudicou uma das empresas que tentava alcançá-lo, a Snap, passando a fornecer uma função semelhante, o Stories, ao Instagram, o seu serviço cada vez mais dominante. E a investigação sobre o seu papel na eleição presidencial de 2016 nos EUA continua a crescer, enquanto os políticos procuram mais informações sobre o envolvimento da Rússia no Facebook nas semanas e nos meses que antecederam Novembro do ano passado.

 

Como o Facebook deve reagir? Para pensar sobre onde a empresa poderia chegar, considere a história da televisão e como a sua identidade evoluiu com a cultura.

 

Como veículo de notícias nos EUA, a televisão surgiu na década de 60. Se a de 2016 foi a primeira "eleição do Facebook", 1960 pode ter sido a primeira eleição da televisão, pois o contraste estético entre John F. Kennedy e Richard Nixon ajudou a colocar Kennedy na Casa Branca. Se perguntasse a alguém sobre a influência da televisão na política dos EUA no início da década de 60, talvez alguns respondam que a televisão melhorou o aspecto dos líderes e fortaleceu as instituições. O período entre a posse de Kennedy e o seu assassinato pode ter sido o auge das instituições americanas.

 

Mas aqueles eram os primeiros passos da televisão como veículo de notícias e, à medida que a confiança institucional começou a diminuir, a televisão adaptou-se. As filmagens da Guerra do Vietnam e dos protestos nos EUA chocaram os americanos e ajudaram a criar algumas das divisões culturais do país que persistem até hoje. O programa de jornalismo de investigação "60 Minutes" estreou em 1968, e os seus primeiros anos coincidiram com o tumultuado governo de Nixon. No livro "How We Got Here: The 70’s: The Decade That Brought You Modern Life", David Frum observou que a televisão era a única instituição americana a registar um aumento de confiança durante esse período, conquistando credibilidade ao atacar a credibilidade de todo mundo. As raízes culturais do "Daily Show" de Jon Stewart, que ridicularizava os líderes americanos durante a década de 2000, ou do jornalismo do "Last Week Tonight with John Oliver", de hoje em dia, foram formadas décadas antes.

 

O Facebook está a atingir a maioridade num ambiente muito diferente. A confiança institucional é mínima. É provável que este seja um dos motivos que levam o Facebook a definir-se como empresa de tecnologia ou "plataforma", em vez de uma empresa de notícias. O problema com "plataforma" aparece quando grupos extremistas, como os supremacistas brancos, usam este veículo para disseminar o ódio, ou quando governos estrangeiros nefastos recorrem a este na tentativa de influenciar as eleições americanas. Um estudo recente com estudantes universitários mostrou que apenas 29% acreditam que o Facebook tem um impacto positivo no discurso político, em comparação com 57% que acreditam que ele tem um impacto negativo.

 

Em última análise, se o Facebook quiser ser mais influente e mais valioso, precisa ser uma plataforma que conquiste a confiança dos seus utilizadores e anunciantes. Não pode ser visto como uma guarida para grupos de ódio. E ele está a caminhar lentamente nesta direcção, ao tentar ajudar os utilizadores a ver a origem do conteúdo para gerar confiança na plataforma.

 

É impossível fortalecer as instituições sem um esforço concertado da população, dos eleitores, dos políticos e dos veículos de notícias. A audiência da televisão está em queda, e a influência do Facebook continua a crescer. O seu legado não precisa ser o de notícias falsas e influência russa. Mas estes assuntos serão dominantes se o Facebook não tomar as rédeas da sua plataforma e conquistar a confiança da população.

 

Esta coluna não reflecte necessariamente a opinião do conselho editorial nem da Bloomberg LP e de seus proprietários.

(Título original: Facebook Is Ubiquitous. But Will It Be Trusted?)

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