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Quando a tecnologia ameaça os mais qualificados
Ao contrário de outras revoluções tecnológicas, os empregos mais qualificados e relacionados com os avanços da inteligência artificial são também os mais ameaçados, revela uma análise recente da OCDE.
Ao contrário do que acontecia até agora, estão os mais qualificados, que necessitam de anos de aprendizagem, mais ameaçados pela inteligência artificial (IA)? A resposta é sim, de acordo com uma recente análise da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económicos (OCDE) sobre os trabalhadores mais expostos e ameaçados pelos avanços da IA.
Mas o que significa exposição de um determinado emprego à IA? De acordo com a definição da OCDE, “refere-se à sobreposição entre as competências exigidas numa profissão e as competências técnicas da IA.” Sendo que esta tecnologia regista maiores progressos em “tarefas cognitivas não rotineiras, muitas das profissões mais expostas à IA” são aquelas que exigem tradicionalmente “vários anos de formação formal e/ou ensino superior, como por exemplo, tecnologias de informação, gestores e profissionais de ciências e engenharia.” Ou seja, profissões altamente qualificadas – os chamados “white-collar”.
Já as profissões dependentes de competências manuais e de “força braçal”, como empregados de limpeza, cuidadores, operários da construção e ligados à restauração, o risco é diminuto. As profissões que dependem de competências manuais e da força, como os empregados de limpeza, os operários e os assistentes de preparação de alimentos, tendem a estar pouco expostas à IA.
O estudo da OCDE avalia a composição sociodemográfica dos trabalhadores mais e menos expostos à inteligência artificial. “As cinco profissões mais expostas são dominadas por trabalhadores com formação superior, com idades compreendidas entre os 30 e os 54 anos e trabalhadores nativos”. Neste conjunto, estão profissões relacionadas com ciência e engenharia, gestão ou tecnologias de informação. Em termos de género, são empregos dominados por homens, mas a instituição lembra que estas são profissões já por si sub-representadas pelas mulheres.
Por outro lado, apesar de haver maior diversidade de género, as profissões ligadas à limpeza, cuidados de saúde e operários estão menos expostas à IA.
Mas os avanços da inteligência artificial também podem redefinir a relação entre homens e mulheres no acesso ao mercado de trabalho. O retrato da OCDE indica que 12% dos trabalhadores homens estão em profissões altamente expostas à IA, comparando com 6% de mulheres.
E a criação de emprego?
Apesar de ser uma realidade em constante mudança, a OCDE indica que, para já, os dados não apontam para uma correlação negativa entre IA, emprego e salários. “Alguns estudos sugerem mesmo que a exposição à inteligência artificial tem sido associada a uma relação positiva em termos de emprego e de salários, e que tem sido mais forte entre os trabalhadores com mais habilitações e com rendimentos mais elevados, o que pode aprofundar as desigualdades existentes.”