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Paixão entre Apple e Irlanda começa a arrefecer

Uma tarde cinzenta em Dublin pode ter marcado o momento em que a paixão entre a Irlanda e a Apple realmente começou a arrefecer, pelo menos publicamente.

"Não queremos estar numa situação em que o governo irlandês tenha que levar a Apple a tribunal", disse o primeiro-ministro. Reuters
26 de Novembro de 2017 às 14:00
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Até às 16h15 de terça-feira, o jovem primeiro-ministro da Irlanda, Leo Varadkar, e Tim Cook, da Apple, eram inseparáveis, unidos na luta contra a opinião da Europa de que o governo irlandês havia concedido à fabricante do iPhone um acordo fiscal generoso.

Essa aliança começou a desgastar-se esta semana, quando Varadkar pareceu culpar a Apple por atrasos no pagamento de cerca de 13 mil milhões de euros em impostos atrasados, que a Irlanda havia sido ordenada a cobrar da empresa. A Comissão Europeia processou a Irlanda em Outubro por não conseguir o dinheiro rapidamente.

 

"Não queremos estar numa situação em que o governo irlandês tenha que levar a Apple a tribunal porque a comissão levou o governo irlandês a tribunal", disse Varadkar, de 38 anos, aos membros do parlamento em Dublin na terça-feira. "Acho que esta mensagem é entendida."

 

A Apple não quis comentar esse assunto.

 

Três décadas

 

A intervenção de Varadkar é o último sinal de que talvez algo ande mal numa parceria que dura mais de três décadas. Embora tenham unido forças para combater a Europa na questão dos impostos, surgiram outras tensões — principalmente em torno dos atrasos que afectam o plano da Apple de construir um centro de dados de mil milhões de dólares perto do litoral atlântico, no oeste da Irlanda.

 

Há dois anos, a Apple apresentou simultaneamente planos para construir essas grandes instalações na Irlanda e na Dinamarca, como parte de um dos seus maiores investimentos na Europa Ocidental. A construção da instalação dinamarquesa já terminou, mas o local escolhido no meio de uma floresta irlandesa continua inactivo, travado por uma combinação de contestatários e atrasos judiciais.

 

Depois de a Bloomberg News ter informado pela primeira vez em Setembro que o projecto estava em perigo, Varadkar disse que lhe haviam garantido que a Apple continuava comprometida com o projecto. Pouco mais de um mês depois, numa reunião com o líder irlandês na sede da Apple na Califórnia, Cook recusou-se a dar a Varadkar garantia de que isso aconteceria.

 

A Apple concordou em continuar a considerar o lugar, perto da pequena e histórica vila medieval de Athenry, apenas "no contexto de seus futuros planos de negócios", de acordo com Varadkar.

 

Perder a paciência

 

Enquanto isso, as autoridades europeias ficavam cada vez mais inquietas com o caso dos impostos. O governo irlandês devia cobrar o dinheiro até ao dia 3 de Janeiro e mantê-lo em custódia até que um processo de recurso seja concluído. Tanto a Apple quanto a Irlanda estão a lutar contra a decisão da UE, que pode demorar até cinco anos.

 

No mês passado, após uma série de atrasos, a comissária da Concorrência da UE, Margrethe Vestager, perdeu a paciência e a Irlanda foi encaminhada ao Tribunal de Justiça Europeu por não ter recuperado o dinheiro.

 

Até agora, o governo evitou de forma diplomática acusar alguém publicamente pelo atraso, e Varadkar precisa de ser cuidadoso. A Apple emprega cerca de 6.000 pessoas na Irlanda, de acordo com seu site. A maioria delas em Cork, onde a empresa é um dos maiores empregadores privados da cidade. A companhia também está entre os maiores contribuintes do país.

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